A história de Gladiador II segue Hanno (interpretado por Paul Mescal), um jovem gladiador, anos depois de ter testemunhado a morte de Maximus Decimus Meridius às mãos de Commodus. Roma encontra-se num estado terrível, sendo liderada pelo par de imperadores tiranos, Caracala e Geta. Com a raiva no seu coração, e movido pela força e determinação do seu herói, Hanno entra no Coliseu e nas suas intensas batalhas com o objectivo de devolver a glória de Roma ao seu povo.
Tal como o primeiro filme, um dos grandes temas abordados nesta produção é a questão do poder, e a maneira como corrompe os seres humanos. Retrata claramente a maneira como sede incansável por mais poder leva as pessoas a cometer actos terríveis, e a determinação dos heróis que decidem fazer algo para desafiar o status quo. Ridley Scott desenvolve uma história que tenta equilibrar os dramas do palácio com as ferozes batalhas do Coliseu, resultando numa produção de duas horas e meia capaz de deixar o espectador constantemente colado ao seu assento.
Há um trabalho admirável feito por Scott, não só na forma como retrata a sua paixão pela Roma Antiga, mas também na maneira como nos dá uma continuação do “legado” estabelecido no primeiro filme. Hanno e Maximus são duas pessoas distintas, cada um com a sua personalidade e determinação, ambos inspirados pelo falecido imperador Marco Aurélio, e pelo seu sonho de uma Roma livre e justa. A mística de Gladiador continua presente na sequela, na sua maneira, que revela a importância dos valores e sonhos estabelecidos por aquele que é considerado o último dos “cinco bons imperadores”.
Contudo, o filme não está isento de críticas. Uma das maiores críticas apontadas, à semelhança do filme de 2023 do mesmo realizador sobre Napoleão, são certas imprecisões históricas na construção do retrato de Roma. Já para não falar que, apesar da qualidade de Paul Mescal e do seu desempenho, é difícil conceber um personagem principal tão carismático e marcante como fez Russel Crowe no primeiro Gladiador. A verdade é que produzir uma sequela tão boa (ou até melhor) seria uma verdadeira tarefa herculeana.
Falando especificamente de actores, a estrela vai para Denzel Washington, fantástico como já nos habituou. Neste filme interpreta Macrinus, um simples treinador de gladiadores, que vai lentamente planeando as suas jogadas e movendo as peças à sua disposição, subindo até ao topo da sociedade romana. Calculando astutamente o seu próximo passo, Macrinus é uma personagem cheia de carisma, com uma aura ameaçadora. Muitos já mencionaram que este desempenho poderá garantir uma nomeação para os Óscares, talvez até uma vitória. Outros destaques vão para Pedro Pascal, que interpreta o general Acacius, e Connie Nielsen, que tal como no primeiro filme, interpreta Lucila, a filha de Marco Aurélio.
Em suma, Gladiador II é um espectáculo visual e narrativo de épicas batalhas e dramas, com umas bonitas homenagens ao seu predecessor introduzidas pelo meio. Fica a recomendação, sobretudo para os fãs do original, como é o meu caso.
Mesmo não chegando aos pés da primeira produção, que venceu o Óscar de Melhor Filme, é um filme com coração e alma, que constrói a sua própria entidade. Uma prova que o sonho da Roma idealizada por Marco Aurélio, e pelo qual Maximus lutou, está vivo naqueles que escolhem seguir o seu caminho.
“Tudo o que fazemos em vida ecoa pela eternidade.”