Pelo menos 22 mortos em três dias de manifestações em Moçambique

Venâncio Mondlane vai divulgar na terça-feira uma nova fase de protestos, insistindo que são para manter “até que seja reposta a verdade eleitoral”.

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Algumas dezenas de professores manifestaram-se no centro de Maputo LUÍSA NHANTUMBO / LUSA
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A plataforma eleitoral Decide estimou este sábado que 22 pessoas morreram, mais de metade em Maputo, em três dias de manifestações de contestação aos resultados das eleições gerais moçambicanas de 9 de Outubro, além de 23 baleados e 80 detidos.

Segundo o relatório divulgado pela plataforma de monitorização eleitoral Decide, que aponta dados dos três dias - 13, 14 e 15 de Novembro – da nova fase de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, sete mortes foram registadas na província de Nampula (norte), duas na Zambézia (centro), nove na província de Maputo (sul) e quatro na cidade capital.

Do total de 23 pessoas baleadas, 10 foram registadas em protestos em Nampula, três na Zambézia, outras três em Manica (centro), além de três em Maputo e mais quatro na cidade em Maputo, indica ainda a Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana.

Aquela plataforma contabiliza ainda 80 detidos, 18 dos quais em Maputo (cidade e província), e 23 na Zambézia.

Moçambique viveu na sexta-feira o terceiro dia da denominada “terceira fase” da quarta etapa de paralisações e manifestações de contestação dos resultados eleitorais convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que contesta a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos.

Venâncio Mondlane disse este sábado que vai divulgar na terça-feira uma nova fase de protestos, insistindo que são para manter “até que seja reposta a verdade eleitoral”.

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional, que não tem prazos para esse efeito e ainda está a analisar o contencioso.

Após protestos nas ruas que paralisaram o país nos dias 21, 24 e 25 de Outubro, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de Outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo na quinta-feira, 7 de Novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia, para dispersar.

Manifestação de professores

Algumas dezenas de professores manifestaram-se este sábado no centro de Maputo, de bata e com reivindicações da classe, exigindo justiça, mas a polícia ainda tentou travar a marcha com disparos de gás lacrimogéneo, após levar cinco docentes à esquadra.

Convocada pela Associação Nacional dos Professores de Moçambique (Anapro) para o dia seguinte aos três dias de um novo período de paralisação e manifestações nacionais convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, a manifestação pretendia reclamar o pagamento de 22 meses de horas extraordinárias em atraso, mas rapidamente os professores entoaram cânticos habituais nos restantes protestos, como "Salvem Moçambique".

A saída da manifestação estava prevista para o Jardim dos Professores, pelas 9h locais (7h em Lisboa), mas os primeiros cinco que chegaram ao local, uma hora antes, foram levados para a 2.ª esquadra, em Maputo, com a polícia a insistir que não havia condições para a marcha.

A manifestação acabou por sair, perante a insistência dos professores, mas ao fim de algumas centenas de metros, junto ao Instituto Comercial de Maputo, a polícia bloqueou os manifestantes lançando gás lacrimogéneo, com os docentes a refugiarem-se no interior daquela escola do centro de Maputo.

Após alguns minutos de tensão e nova negociação com a polícia, os manifestantes acabaram por voltar à rua, mas já com escolta, levando o protesto até à estátua de Eduardo Mondlane, noutro extremo da cidade, entoando cânticos como "Professor é povo" ou "Não matem o nosso povo", e recordando que há salas de aula, actualmente, com mais de 200 alunos, acabando o protesto por decorrer sem novos incidentes.