Será que daremos as mãos?
Será que as nossas mãos vão aprender a desenhar mapas na pele do outro?
Será que hoje as nossas mãos vão disputar a conta?
Será que daremos as mãos?
E que se vão entrelaçar com naturalidade?
Será que amanhã as nossas mãos se vão procurar com a mesma urgência?
Que um dia se vão segurar com força?
Que vão conhecer o cabelo um do outro?
Que vão acender os cigarros do outro?
Será que se vão encontrar alguma vez debaixo da mesa?
E que usaremos um filme violento como pretexto para dar as mãos?
Será que as nossas mãos vão aprender a desenhar mapas na pele do outro?
Que vão descansar juntas no volante, numa viagem longa?
Que vão preparar café lado a lado?
Que se vão continuar a tocar com delicadeza?
Será que as nossas mãos serão levantadas alguma vez, em desespero?
E que vão passar a gesticular no ar, mais do que a tocar?
Será que as nossas mãos vão começar a afastar-se?
Que, com o tempo, se vão tocar cada vez menos?
Será que, em momentos de discussão, as nossas mãos vão ficar rígidas?
Que um dia vão repousar nos braços cruzados?
Será que as nossas mãos se vão tornar estranhas?
Que vão apenas acenar, se o outro se aproximar?
Será que, se nos cruzarmos na rua, as mãos se vão manter nos bolsos?
Ou que se vão encontrar apenas por obrigação, em cumprimentos formais?
Será que as nossas mãos um dia vão preferir outras mãos?
Que, um dia, o espaço entre as nossas mãos será tão grande que parecerá impossível que já se tenham tocado?
Será que o tempo vai fazer as nossas mãos esquecerem-se umas das outras?
Será que a única forma de usar as mãos para nos aproximarmos será a escrever?