O amor é simples

O amor não pode ser obcecado nem prisão, mas pode ser temeroso, receando perder a mina de ouro que descobriu. E se descobrem que sou feliz assim?

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"Não lhe peças para se moldar a ti" Katie Salerno/pexels
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O amor flui, é leve, o amor é simples. Sabes que é amor quando todos os truques que usaste no passado para conquistar aquele ou aquela que te suscita interesse, se tornam desnecessários. Aceitas as tuas imperfeições e a do outro e mesmo assim, na bancada oposta, o olhar mais ávido por te ver num pijama com borbotos e meias até ao joelho.

A simplicidade do amor elimina até as barreiras da linguagem. Não é preciso dominares o francês se te apaixonas perdidamente pelo tempo que partilhas com ele, enquanto comes croissants estaladiços, no sofá. Não, não fomos a Paris, fomos ao supermercado do fundo da rua e trouxemos um saco farfalhudo cheio de napolitanas, não havia croissants.

E que importa? Se quando nos olhamos, o tempo pára, a vida corre lentamente e o telemóvel, até parece que já nem precisamos dele. Falamos durante horas e olhamos para o casal da outra mesa e sorrimos de forma cúmplice. Eles nem dão por nada, não estão nem atentos a eles próprios, quanto mais a nós.

A comida chega ao prato e à primeira garfada, sentimos que o chef se superou. Nesta noite, ele foi o chef de serviço. O meu amor cozinhou para mim uma lasanha de salmão. E eu derreto-me, como o queijo ralado, poisado por aquelas mãos grandes e morenas em cima da massa. Antes de ir ao forno.

"O que achas?" Sorrio e quando provo, sei que nunca o vou esquecer. Uma pessoa pode esquecer um grande amor, mas nunca a boa comida que ele fez. Concordam comigo as crianças, que rapidamente sabem dizer que massa à bolonhesa é o prato preferido, cozinhado pelo pai ou pela mãe e como sorri ao recordar essa iguaria, a minha amiga Beatriz, 10 anos, para quem “o amor é paixão, é apoiarmo-nos, é fazermos algo por alguém, ajudarmos alguém".

Portanto, como pode o sentimento de exclusividade estar relacionado com o amor? O amor não pode ser obcecado nem prisão, mas pode ser temeroso, receando perder a mina de ouro que descobriu. E se descobrem que sou feliz assim?

E parem de separar amor de paixão, como se fossem inimigos um do outro. Como se o amor verdadeiro se tivesse reformado do amor apaixonado. O amor de que vos falo hoje, aquele em que acreditamos apenas se o experienciamos em algum momento da vida, é verdadeiramente apaixonado, mas simples, insisto. Não complica, dá sempre um jeito, não é conflituoso, acalma, tranquiliza, estabiliza e o único senão é que talvez possas vir a aumentar de peso. Muitas séries, gelados e pipocas e nem todo o amor do mundo, queima tanta caloria.

O amor é simples e não tem pressa, mesmo os impacientes passam a esperar com prazer. "Desculpa, atrasei-me." Sem stress. E não lhe peças para se moldar a ti, nem para ceder ou ser diferente. Temos tempo para crescer, desde que esteja contigo, o tempo é nosso. Deixa que eu levo, deixa que eu faço, deixa que eu pego, deixa que eu ajudo, deixa que eu te apoio. Não tenhas medo, envia essa carta, vai atrás desse emprego, és a melhor, acredito em ti, estou aqui, ontem, hoje e sempre. Para ti, meu luar.

Tanta teoria sobre o amor e afinal ele é tão simples.

Eu amo-te da maneira que és.

Tu és especial da forma que és!

Achas que alguém sente o mesmo que nós?


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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