A Medicina Nuclear na vanguarda do cancro da próstata

A terapêutica radiometabólica com fármacos que emitem radiação representa um avanço significativo no tratamento do cancro da próstata em Portugal.

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O cancro da próstata tem impacto directo na qualidade de vida do doente James Frid/pexels
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Novembro é o mês dedicado à sensibilização para o cancro da próstata, a patologia oncológica mais frequente nos homens, sendo detetados cerca de seis mil novos casos, por ano, em Portugal. Anualmente, morrem aproximadamente 1800 homens no nosso país, tornando o cancro da próstata a segunda maior causa de morte, por cancro, nos homens acima dos 50 anos.

À semelhança de qualquer cancro, o da próstata, tem impacto direto na qualidade de vida do doente, mas assume contornos particulares no que respeita à sexualidade e à saúde mental do homem. Apesar de se tratar de uma doença que se apresenta, na maioria das vezes, de forma silenciosa e assintomática, dez a 15% dos doentes são diagnosticados em estadios avançados.

O leque de opções terapêuticas para o tratamento deste tipo de cancro engloba a cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia, vigilância ativa e, mais recentemente em Portugal, a terapêutica radiometabólica.

A Medicina Nuclear é a especialidade médica responsável por este tipo de tratamento que utiliza a radiação ionizante para destruir as células malignas de forma altamente selectiva. É uma especialidade que, na área da oncologia, classicamente se associa ao diagnóstico por imagem, no entanto, a vertente terapêutica tem emergido sobretudo na última década.

A capacidade de dirigir ao mesmo alvo molecular os chamados radiofármacos (moléculas associadas a elementos que emitem radiação), com acção diagnóstica e terapêutica, define o que em Medicina Nuclear se designa de “teranóstica”.

A teranóstica representa uma estratégia terapêutica ímpar devido a um mecanismo de acção sem precedentes em Medicina — o poder de conjugar a molécula que se vai unir seletivamente à célula maligna com um isótopo que emite radiação para um efeito diagnóstico (aquisição de imagem) e, posteriormente, com um isótopo diferente que produzirá um efeito terapêutico. A teranóstica é a ilustração perfeita da Medicina Personalizada e de Precisão, uma vez que permite identificar imagiologicamente as lesões alvo que serão submetidas ao tratamento radiometabólico.

A descoberta do Prostate Specific Membrane Antigen (PSMA), uma proteína localizada nas células do cancro da próstata, veio revolucionar o papel da Medicina Nuclear nesta patologia. Por um lado, optimizou a avaliação por imagem da extensão da doença através da tomografia por emissão de positrões (PET-PSMA). Por outro, permitiu o desenvolvimento de um novo tratamento altamente dirigido a esta proteína utilizando um emissor de radiação com efeito terapêutico, o Lutécio-177 PSMA.

Este tratamento está indicado em doentes com cancro da próstata numa fase avançada da doença em que as opções terapêuticas são mais limitadas. Nesta fase, torna-se imperativo definir estratégias personalizadas e tratamentos eficazes com poucos efeitos secundários, de forma a preservar a qualidade de vida do doente.

Numa era em que o progresso em oncologia se define pelo surgimento constante de novas moléculas, fármacos e combinações terapêuticas, a evolução da teranóstica está prestes a transformar o paradigma da Medicina de Precisão não só no carcinoma da próstata, mas também noutros tipos de cancro permitindo tratar de forma eficaz, segura e totalmente individualizada.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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