Dor Orofacial: Uma patologia desvalorizada que reduz a qualidade de vida

Já imaginou como seria viver, todos os dias, com dor? No Dia Nacional de Luta Contra a Dor nada melhor do que refletirmos sobre o impacto da dor no doente, mas também nas famílias.

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A prevalência da dor é maior entre as mulheres e em indivíduos na faixa etária dos 20 aos 40 anos Huy Phan/pexels
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Segundo estudos recentes, a dor orofacial é um dos tipos mais frequentes de dor crónica a nível mundial, registando uma prevalência de 7 a 11% em todo o mundo, um valor bastante elevado e que tem vindo a aumentar a cada ano. As causas da dor orofacial são diversas e podem ser de origem dentária (e.g.: cárie), rinosinusal (e.g.: sinusite), neurológica (e.g.: enxaquecas), musculoesquelética (e.g.: disfunção temporomadibular), nevrálgica (e.g.: nevralgia do trigémio), otológica (e.g.: otite), entre outras. Apesar de cada vez mais comum e incapacitante, a dor orofacial continua a ser frequentemente desvalorizada e, muitas vezes, subdiagnosticada, agravando a influência negativa que exerce na qualidade de vida dos pacientes. Esta dor pode manifestar-se na região da cabeça e pescoço, face, boca e mandíbula, sendo frequentemente associada à disfunção temporomandibular (DTM).

A dor orofacial afeta pessoas de todas as idades e géneros, embora a prevalência seja maior entre as mulheres e em indivíduos na faixa etária dos 20 aos 40 anos. O impacto da dor no doente é transversal a vários níveis, destacando o impacto na saúde física, mental e emocional. No caso das disfunções temporomandibulares (principal subtipo de dor orofacial), as queixas mais frequentes incluem dor na zona do ouvido (a articulação temporomandibular localiza-se próximo do ouvido), dificuldades na mastigação, estalidos na articulação temporomandibular, zumbidos, sensação de bloqueio/desencaixe dos maxilares, limitação da abertura da boca, mas principalmente muita tensão na cabeça e pescoço (dor/desconforto tipo “moinha”) e dores de cabeça. Todo este quadro está, maioritariamente, associado a elevados níveis de ansiedade e quadros de depressão.

A falta de um diagnóstico rigoroso e desvalorização dos sintomas atrasa muitas vezes o tratamento e reduz as probabilidades de uma resolução completa do quadro clínico. Muitos dos doentes, por desconhecimento desta patologia e dos seus sintomas, não procuram ajuda médica numa fase inicial, acreditando que a dor aliviará ou que não seja suficientemente grave para justificar tratamento.

Qual a relação entre dor orofacial e DTM?

A disfunção temporomandibular é um dos subtipos mais importantes da dor orofacial. Afeta as articulações temporomandibulares, localizadas em ambos os lados da cabeça, e que ligam a mandíbula ao crânio. Quando essas articulações não exercem adequadamente a sua função, o resultado pode traduzir-se em dor intensa, não só na mandíbula, mas também na face, cabeça e pescoço. A DTM pode ter origem multifatorial, onde se inclui má postura, bruxismo (ranger dos dentes), problemas dentários e até fatores emocionais como stress, ansiedade, depressão, entre outras.

A disfunção temporomandibular pode ser incapacitante, sendo que, na grande maioria das vezes, são relatadas dificuldades em realizar atividades básicas como falar, mastigar ou, simplesmente, bocejar. O desconforto aumenta pelo facto de muitas vezes, esta patologia ser confundida com outras doenças, como enxaquecas ou sinusite, levando a diagnósticos incorretos e insucesso no tratamento, causando frustração ao doente.

Embora a DTM seja uma das principais causas de dor orofacial, nem toda a dor orofacial tem origem na disfunção temporomandibular uma vez que, nalguns casos, a dor pode ser resultado de problemas neurológicos ou musculares não relacionados com as articulações temporomandibulares. No entanto, é importante destacar que um diagnóstico eficaz e precoce é essencial para aumentar a taxa de sucesso no alívio da dor e consequente melhoria da qualidade de vida dos pacientes.

De que doentes estamos a falar? Normalmente, o doente tipo, caracteriza-se por ser uma pessoa que tem dificuldade em gerir o stress, a ansiedade e as emoções, o que se reflete, por exemplo, num apertar dos dentes durante longos períodos. É esse apertamento dentário constante que provoca uma tensão muscular crónica, muitas vezes com evolução para quadros de stress oxidativo muscular. Estes doentes são muito incompreendidos, “arrastando” durante muito tempo estes quadros clínicos que podem causar um efeito “bola de neve” em que há agravamento da dor e de um mau estar constante, agravando a parte emocional o que conduz a um maior apertamento dentário, entrando num “círculo vicioso”.

Neste 18 de outubro, em que se sinaliza o Dia Nacional da Luta Contra a Dor, deixo a recomendação para estarem cada vez mais atentos à “postura dos maxilares”. Se pensa que tem algum destes sintomas consulte o seu médico que o poderá ajudar não só no acompanhamento clínico mas também a dar-lhe alguns conselhos, nomeadamente, de como relaxar os maxilares. Esses cuidados e atenção diária vão refletir-se no seu bem-estar físico e emocional e na prevenção de agravamento dos quadros clínicos.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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