Primeiro, MyKayla Skinner criticou a ética do mundo da ginástica actual, onde o “talento e a profundidade não são o que costumavam ser”. Não demorou até que Simone Biles lhe respondesse com uma fotografia da equipa norte-americana que venceu o ouro. “Falta de talento, preguiçosas, campeãs olímpicas”, escreveu na legenda. O drama continuou a desenrolar-se nas redes sociais ao longo da última semana e agora Skinner pede um ponto final à enchente de ódio.
MyKayla Skinner já não faz parte da equipa olímpica dos EUA, mas continua a fazer manchetes por outros motivos. No início de Julho, a ginasta publicou um vídeo no YouTube, em que questionava a capacidade de trabalho da nova geração de atletas. “Com excepção de Simone Biles, muitas miúdas já não trabalham tanto e não têm ética de trabalho”, criticava.
No mesmo vídeo ─ entretanto apagado da conta de YouTube ─, a ginasta de 27 anos opinava que a criação da SafeSport, a organização criada para prevenir abusos emocionais, físicos e sexuais no desporto, tinha mudado a forma de funcionamento da ginástica. “Os treinadores têm de ter muito cuidado com o que dizem, o que, de certa forma, é muito bom, mas, ao mesmo tempo, para chegar onde é preciso estar na ginástica, é preciso ser... um pouco agressivo e um pouco intenso”, declarava.
As declarações de Skinner não demoraram a chegar às redes sociais, com alguns utilizadores a acusarem-na de menosprezar as colegas de equipa e de glorificar o estilo de treino que levou a uma torrente de abusos no mundo da ginástica. Simone Biles parece concordar com a Internet e, apesar de não mencionar directamente a ginasta, escreveu no Threads do Instagram: “Nem toda a gente precisa de um microfone e de uma plataforma.”
Face à polémica, MyKayla Skinner pediu desculpa e disse ter sido “mal interpretada”. Justificou que a atitude se devia também ao trauma que sofreu: “Estou a chegar à conclusão de que não consegui lidar totalmente com os abusos emocionais e verbais que sofri.”
No entanto, a polémica não ficou por aí e Simone Biles continuaria no X (antigo Twitter). “Fui bloqueada”, escreveu, dando a entender que Skinner a tinha bloqueado nas redes sociais. Pouco depois, a mãe da ginasta Jordan Chiles, Gina, confirmou que também ela estava bloqueada da conta de MyKayla Skinner, por ter criticado as declarações do polémico vídeo.
Nesta terça-feira, MyKayla Skinner pediu que se pusesse um ponto final à discussão que potenciou “uma onda de comentários de ódio, mensagens, artigos e emails”, dirigidos não só a si, como também à sua família. “Uma coisa é discordar de mim em relação a algo que eu disse ou a um ponto que eu estava a tentar defender, mas é outra coisa completamente diferente quando isso se transforma em ciberbullying ou ainda pior”, lamentou no vídeo publicado no Instagram.
E pediu a Simone Biles que a ajudasse a encerrar o assunto. “Para a Simone, peço-te directa e publicamente que ponhas fim a esta situação. Por favor, pede aos teus seguidores que parem. Tens sido uma defensora incrível da sensibilização para a saúde mental e muitas pessoas precisam da tua ajuda agora. Fomos atacados de uma forma que tenho a certeza que nunca pretendeste.”
Biles ficou em silêncio, mas o tema da saúde mental certamente fará eco na ginasta. Foi MyKayla Skinner quem a substituiu na final dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 (venceu a medalha de prata) quando Simone desistiu por problemas emocionais. “É uma merda quando se luta contra a própria cabeça”, confessou então a ginasta que em Paris 2024 se consagrou como a mais bem-sucedida da história, com 11 medalhas olímpicas, sete de ouro, duas de prata e duas de bronze.
MyKayla Skinner anunciou ainda nesta terça-feira que fará uma pausa das redes sociais até a polémica acalmar. Actualmente, a atleta já está reformada e dedica-se ao trabalho nas redes sociais, onde partilha conteúdos relacionados com a maternidade ─ tem uma filha de dez meses, Charlotte.