Alto rendimento e bem-estar coexistem? Sim, é mais um texto sobre Simone Biles!

As medalhas de Biles nesta edição dos Jogos Olímpicos demonstraram que o regresso ao desporto de elite após paragens não é impossível.

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A ginasta norte-americana Simone Biles celebras as suas vitórias nos Jogos de Paris Hannah McKay/Reuters
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Os Jogos Olímpicos são sempre palco de eventos históricos e memoráveis. A edição de 2024 ainda não terminou e há já uma atleta de quem é impossível não falar: Simone Biles. A ginasta norte-americana é detentora de inúmeros recordes, sendo a mais medalhada da história da Ginástica. O seu curriculum é absolutamente impressionante, mas o seu impacto está muito para além dos seus títulos desportivos.

O mundo do desporto deve-lhe a ajuda na queda de inúmeros mitos:

“Atletas fortes sofrem em silêncio.” A sua interrupção na competição durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 permitiu trazer para a discussão pública a forma pouco humanista como tendemos a ver e treinar os atletas de elite, quase “como máquinas”, em que esperamos que não só sejam capazes de performances de excelência, mas também que o façam “com frieza” e ignorando outras necessidades emocionais inerentes a qualquer pessoa.

Ao abordar publicamente as dificuldades que sentiu, Biles mostrou a força que existe na vulnerabilidade, e relembrou a todos que os atletas são, antes de tudo, pessoas. Uma verdade óbvia, mas que a cultura desportiva tem ignorado.

Enquanto psicólogos, o nosso trabalho passa frequentemente por educar técnicos e atletas sobre os resultados poderem ser atingidos de forma mais saudável e sustentável. Parece evidente que a receita única do “a todo o custo” revela mais incapacidade de quem decide do que dos atletas. Há preços e sacrifícios que não se justificam pagar.

As medalhas de Biles nesta edição dos Jogos Olímpicos demonstraram que o regresso ao desporto de elite após paragens não é impossível, e mostram sobretudo como o sucesso e hábitos de treino mais saudáveis (onde outras necessidades pessoais têm espaço) podem coexistir.

O foco no bem-estar emocional é também um legado de Biles, que recentemente afirmou ao The Guardian que percebeu que quando se estava a divertir era quando tinha a melhor performance, mostrando que “sacrificar tudo e todos é a forma de alcançar o sucesso” não é nem a única via, nem a melhor.

Outras atletas de elite, como Jordan Chiles, têm-se juntado no ginásio de Biles, em Houston, para experienciar o desporto de elite num ambiente de treino saudável, de apoio e de companheirismo entre rivais.

Enquanto sociedade, temos ainda muito para aprender e evoluir no que diz respeito à saúde mental. No desporto, e no alto rendimento em particular, o caminho é longo.

Biles não foi a única atleta a trazer para o debate a importância da saúde mental neste contexto, mas a forma como tem usado o desporto e a plataforma social que este lhe dá será certamente dos seus maiores legados.

A cultura desportiva precisa de mudar e precisamos todos de perceber, de uma vez por todas, que os resultados de elite são também possíveis quando o bem-estar dos atletas é prioritário.


Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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