Vasco Vilaça: “Fui até ao limite. Quando acabei a prova não estava muito consciente”

Portugueses ficaram perto das medalhas no triatlo olímpico masculino. Vasco Vilaça foi quinto, Ricardo Batista foi sexto e Maria Tomé (11.º) foi a melhor da prova feminina.

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Os dois portugueses no triatlo olimpico Benoit Tessier / REUTERS
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Depois de tantas incertezas com a qualidade da água no Sena (que não continuará a ser alta), as autoridades sanitárias lá deram luz verde, às primeiras horas da madrugada, para que se avançasse com a primeira prova nas águas do rio que atravessa Paris, o triatlo. De manhãzinha, as mulheres, a meio da manhã, os homens.

E, como em tantas outras provas até agora, houve franceses a ganhar medalhas, e não houve portugueses a ganhar nenhuma. Mas andaram perto, muito perto mesmo, sobretudo na prova masculina, em que Vasco Vilaça e Ricardo Batista cheiraram o pódio, como nenhum atleta português tinha ainda cheirado nestes Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Ficaram mesmo perto. Vilaça foi quinto, Batista chegou logo a seguir, depois de terem feito uma última volta na parte da corrida lado a lado, sem diálogo entre os dois, mas com entreajuda, para tentarem chegar aos dois franceses que estavam na frente. Mais longe estavam os dois que acabariam por dividir entre si os lugares mais altos do pódio, o britânico Alex Yee (ouro) e o neozelandês Hayden Wilde (prata).

O bronze acabaria por ficar nas mãos do francês Leo Bergere, que, nos últimos metros, deixara o seu compatriota Pierre le Corre. Quatro segundos depois do segundo francês, chegava Vilaça, que imediatamente caiu ao chão, mais dois segundos e foi Batista a cortar a meta. Os dois abraçaram-se no chão, mas Vilaça nem sem lembra muito bem deste momento. Estava quase a perder a consciência.

“Não estava a 100%. No final da prova, nos últimos cinco quilómetros dei tudo o que tinha para tentar chegar à frente. Cheguei exausto, a temperatura do corpo tinha subido aos 40 graus e quando chega a esse ponto não consegue descer e precisa de alguma ajuda para recuperar”, disse o atleta português, que esteve mais de meia-hora para descer a temperatura corporal depois de cortar a meta. E, contou, estava com a cabeça demasiado quente para se lembrar desse momento de partilha com Batista: “Quando acabei a prova não estava muito consciente, não senti muito.”

Os dois portugueses andaram sempre perto um do outro no segmento da natação – Vilaça em 26.º, Batista em 28.º, a cerca de um minuto do líder. Mas o segmento de ciclismo acabaria por ser o grande unificador, com um grupo de 30 a chegar em pelotão à transição para a corrida. Aí, foi Batista quem saiu melhor, ganhando posições à medida que se avançava nos quilómetros, enquanto Vilaça fez a transição em 25.º. Os dois portugueses juntaram-se à entrada para a última volta, deixaram para trás o brasileiro Hidalgo e foram juntos atrás dos franceses.

Não havia nenhum plano de entreajuda durante a prova nem houve diálogo durante a corrida. Foi antes uma junção natural de dois amigos que também são concorrentes. Nenhum iria deixar o outro levar a melhor e talvez tenha sido isso que os tenha empurrado quase até às medalhas.

“É sempre bom ter alguém com quem trabalhar”, comentava Batista sobre ter feito a última parte da prova com um compatriota. “Fizemos ambos uma prova de trás para a frente, é sempre bom acabar junto com um colega do que um adversário. Não houve diálogo. E não havia estratégia de estarmos juntos. Somos muito amigos, mas o triatlo é uma prova individual, estamos ali para ganhar um ao outro no fim.”

O quinto lugar de Vilaça iguala o melhor resultado de sempre do triatlo masculino português – João Pereira fez a mesma posição nos Jogos do Rio em 2016. O que é histórico e haver dois atletas no top-6, dois diplomas para dois atletas estreantes nos Jogos, o que é um bom sinal, não só para futuras aventuras olímpicas, mas também para a prova de estafetas mistas na próxima segunda-feira.

Vilaça e Batista apontam a esse futuro a longo prazo, mas a ambição em Paris não se esgotou nas provas individuais. “São bons resultados e bons indicadores, tenho a certeza que vamos lutar até ao fim”, garante Batista. Mas Vasco Vilaça pareceu um pouco mais ambicioso. “Diploma? Se vamos ao diploma é porque acreditamos na medalha.”

Maria Tomé em bom plano

Antes dos homens, foram as mulheres que primeiro testaram as águas do Sena, também com duas portuguesas entre o pelotão. Das duas, foi a estreante Maria Tomé a brilhar, com um 11.º lugar, enquanto a mais experiente Melanie Santos em 45.º entre as 51 que terminara a prova.

“Foi melhor do que estava à espera, sem dúvida. Qualquer resultado melhor do que no ano passado era o grande objectivo e fazer um 11.º... nem tenho palavras para descrever. A natação nesta altura é o meu ponto fraco mas sabíamos que tínhamos de gerir bem, tentar não ser afogada e gerir ao máximo porque havia também bastante corrente e fiz uma segunda volta que nem sei bem como foi muito inteligente e deu para chegar mais à frente. Quando comecei a correr disseram-me que estava dentro do top 15, foi lutar até ao fim”, comentou a atleta portuguesa.

Quando Maria Tomé falou aos jornalistas portugueses em Paris, ainda a prova masculina não tinha começado, mas a atleta do CN Torres Novas reconheceu que esta classificação surpreendente até para ela própria e pode abrir os horizontes da estafeta para a próxima segunda-feira: “Agora na estafeta isto dá mais confiança mas também haverá mais nervos porque não depende só de mim, é a equipa toda e eu por eles. Temos de lutar por um lugar próximo do pódio porque temos uma equipa forte.”

Notícia corrigida às 17h11 rectificando o clube da atleta Maria Tomé

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