Visita a Portugal é a afirmação de Leonor enquanto futura rainha de Espanha

A herdeira do trono espanhol visita Lisboa a convite do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e vai ao Oceanário para falar sobre a preservação dos oceanos.

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Leonor celebrou 18 anos a 31 de Outubro de 2023, dia em que jurou fidelidade à Constituição Reuters/SUSANA VERA
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São menos de oito horas que Leonor de Espanha estará em Portugal, mas a primeira visita oficial da herdeira da coroa está envolta em simbolismo e protocolo. Apesar de esta não ser uma visita de Estado, a princesa das Astúrias será recebida com pompa e circunstância em Lisboa nesta sexta-feira, cumprindo uma agenda que vai ao encontro do interesse pela conservação dos oceanos e que representa o emancipar enquanto futura rainha. “É muito significativo e, quando for soberana, estará sempre no seu currículo que a primeira visita oficial foi feita a Portugal”, celebra José de Bouza Serrano, antigo chefe de protocolo de Estado.

A escolha de Portugal para a primeira visita oficial de Leonor, 18 anos, não é surpreendente. A família real espanhola tem uma ligação ao país, já que foi aqui que Juan Carlos I passou parte da sua infância e adolescência (incluindo o malfadado dia em que matou o irmão, Alfonsito) na Villa Giralda, no Estoril. “É simpático que tenha escolhido vir ao país vizinho. Leonor nunca esteve aqui, mas a visita traz um reconhecimento do carinho da família real pelo país que os acolheu no exílio”, sublinha o embaixador, que é autor da biografia de Juan Carlos, O Rei Sem Abrigo.

“O facto de Leonor ser recebida pelo Presidente da República é um forte contributo para as relações com Espanha e reforça simultaneamente o papel da monarquia. Marcelo Rebelo de Sousa sempre teve boas relações com a coroa espanhola”, concorda Rui Calafate, consultor de comunicação política. Em 2014, foi a Portugal que Felipe VI e Letizia fizeram a primeira visita de Estado enquanto reis de Espanha.

Ainda antes, em 2011, Bouza Serrano organizou a visita oficial do então príncipe de Gales, Carlos, e esclarece que o protocolo da vinda de um herdeiro do trono é muito semelhante ao de uma visita de um chefe de Estado, uma vez que se trata de “uma pessoa da realeza que tem sempre precedência. E exemplifica: “A única diferença são os sítios onde as coisas decorrem. Quando foi o príncipe Carlos, jantou no Palácio de Queluz, se voltasse como rei, seria no Palácio da Ajuda.”

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Felipe, Letizia, Leonor e Sofia na varanda do Palácio Real, em Madrid SUSANA VERA/REUTERS

Leonor vai almoçar no Palácio de Belém e a ementa, servida na baixela de prata da Presidência, deverá ter sido escolhida de “acordo com os gostos da princesa”. Antes disso, pelas 11h, fará uma curta paragem no Mosteiro de Jerónimos para colocar uma coroa de flores no túmulo de Luís da Camões, um momento simbólico que é comum nestas visitas. Depois, é recebida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que fez o convite para este encontro e vai acompanhar a espanhola ao longo do dia.

No Pátio dos Bichos, na residência oficial do Presidente de República, é onde têm lugar as honras militares e é feita a fotografia oficial, antes de uma conversa privada entre Marcelo e Leonor — com 57 anos de diferença entre eles. Durante a tarde, a princesa visita a Fundação Oceano Azul, no Oceanário de Lisboa, dado que a visita tem um “enfoque particular na protecção do ambiente e na conservação dos oceanos, temas prioritários para Portugal e Espanha”, fez saber a Presidência quando anunciou o encontro.

O protagonismo de Leonor

O tema de uma visita oficial, detalha Bouza Serrano, é sempre uma decisão mútua entre os dois países, que “acertam a vinda, a duração e o programa” de acordo com os gostos do convidado. E Rui Calafate acredita que o tema vai ao encontro da agenda da coroa espanhola que quer firmar Leonor como a voz das preocupações dos jovens, para alcançar maior popularidade entre esta faixa etária. “Este crescimento de aparições da princesa e a crescente actividade diplomática reforçam a popularidade da própria e dão-lhe notoriedade. Reputação e notoriedade são cruciais na comunicação”, defende o autor de Os 10 Mandamentos da Política.

Ou seja, o especialista em comunicação defende que a visita oficial de Leonor tem maior importância para a casa real espanhola do que para a vida política portuguesa. “O que é importante para Portugal é a ligação entre [os primeiros-ministros] Luís Montenegro e Pedro Sánchez, mas é claro que beneficiamos de boas relações institucionais entre os vários poderes de Estado.”

É que Leonor será a futura rainha — “se ainda houver monarquia em Espanha”, defende Bouza Serrano, não esquecendo a “fragilidade” da monarquia num país dividido. Uma sondagem realizada em 2022 pela Sinaptica revelou que 51,6% dos espanhóis queriam que o país se tornasse uma república, enquanto 34,6% preferiam uma monarquia, embora uma outra sondagem realizada um ano antes mostrasse que 55,3% apoiavam a coroa.

Em Espanha, os herdeiros masculinos continuam a prevalecer sobre as mulheres. Se Felipe e Letizia tivessem tido um filho, Leonor, ainda que fosse a mais velha, não seria a herdeira da coroa. Mas o destino ditou que, em 2014, quando o pai subiu ao trono, a filha se tornasse princesa das Astúrias, tinha então oito anos. “Mãe, por que nos tiram tantas fotografias?”, terá perguntado um dia a Letizia, que lhe explicou que os avós eram os reis daquele país.

Uma década depois, é ela a representar Espanha e, independentemente do futuro da monarquia, Bouza Serrano assevera que é fundamental que a princesa das Astúrias como herdeira “vá definindo a sua própria agenda” e até prevê que, no futuro, venha a ter uma residência independente no complexo do Palácio de Zarzuela, nos arredores de Madrid. A 31 de Outubro, no dia em que celebrou 18 anos, Leonor jurou fidelidade à Constituição, perante o olhar do pai orgulhoso e, na sua página biográfica, registou que se “compromete com a dedicação de servir Espanha e todos os espanhóis”.

Nesta quarta-feira, a princesa, que se encontra a cumprir a formação militar de três anos, entregou os prémios da Fundação Princesa de Girona, em Lloret de Mar, na Catalunha, onde continuam a soprar ventos de uma desejada independência. Leonor é a presidente da instituição que distinguiu seis jovens de áreas como a arquitectura, o teatro, a engenharia e, claro, o ambiente. “Vocês são referências para a minha geração. Admiro-vos e agradeço-vos pelo que fazem e pela vossa forma de pensar”, disse a filha de Felipe VI no discurso.

O rei também discursou e confessou-se “emocionado” enquanto pai por ver Leonor e Sofia envolverem-se no quotidiano do trabalho da coroa, o que também inclui viagens como a que fará nesta sexta-feira. A visita a Portugal fará parte da história da futura rainha que, quando chegar ao trono, será a primeira mulher a reinar em Espanha nos últimos 150 anos.

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