António Mota inventa trava-línguas e espera que perdurem

Um livro que não é só para ler, mas para dizer. Os sucessivos enganos de dicção resultam numa grande algazarra. “Os livros também servem para nos divertirmos”, diz o escritor.

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“Se a Branca não lava a banca, nunca fica lavada a banca da Branca”; “O Trindade tira e trinca tremoços. Trinta tremoços tira e trinca o Trindade!” Helder Teixeira Peleja
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“Não confundas coelho com coalho. O coelho é o coelho, o coalho é o coalho. O coalho não é coelho, o coelho não é coalho”” Helder Teixeira Peleja
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Capa do livro Muito Serra a Serra da Estela, editado pela ASA Helder Teixeira Peleja
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Comecemos pelo título, que muitos pensam conter uma gralha: “Estela”. Não é gralha, não senhor. É uma brincadeira a travar a língua entre “Estrela” e “Estela”. Muito Serra a Serra da Estela, eis o que se lê na capa. Lá dentro, um dos 50 trava-línguas inventados por António Mota: “Muito serra a serra da Estela! Só não serra a serra da Estrela.”

O escritor conta ao PÚBLICO: “Inventar trava-línguas era uma ideia que aparecia e desaparecia, e eu protelava porque outras histórias se me meteram pelo meio, e também porque não tinha a certeza de ser capaz de concluir a tarefa que ninguém me encomendou. Uma ideia que me seguiu ao longo de muitos anos.”

Volta e meia, recolhia palavras e guardava-as em “notas” no telemóvel. Até que mudou de telemóvel e perdeu-as. “As notas desapareceram, mas a ideia continuou”, recorda, dando-nos conta do primeiro trava-línguas que inventou. Surgiu no dia em que lhe deram um pão de ló, em Felgueiras. “Há pão de ló cá e pão de ló lá. Queres pão de ló de lá ou pão de ló de cá?”, regista-se na pág. 15, com uma ilustração que representa o interior de uma casa portuguesa, em que se expõe o famoso quadro Menino da Lágrima e se vislumbra a serra da Estrela através da janela.

Ilustrações que são mini-histórias

O ilustrador do livro, Helder Teixeira Peleja, conta ao PÚBLICO via email: “Logo que recebi este convite, directamente do autor, a minha primeira ideia foi idealizar as ilustrações de maneira a tornar este um livro diferente dos que já existem com textos deste género. Passou por tentar que cada dupla contasse uma mini-história, com os elementos representativos de cada trava-línguas a interagirem entre si.” Conseguiu.

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“Ainda não choveu, mas vai chover na casa do Xá, que já não mora lá”; “A Luana manda à mana Ana uma anona e uma banana” Helder Teixeira Peleja

Na ilustração que encima este texto, juntam-se quatro histórias: “Se a Branca não lava a banca, nunca fica lavada a banca da Branca”; “O Trindade tira e trinca tremoços. Trinta tremoços tira e trinca o Trindade!”; “O peru e a perua peroram. Permanentemente peroram, peroram o peru e a perua”; “Um melão, um limão, mil limões, mil melões. Um milhão de limões, um milhão de melões.”

Para António Mota, “os trava-línguas cumprem a sua função quando fazem nascer um sorriso ou uma enorme gargalhada”. E não tem dúvidas: “Rir faz bem. Fico muito contente quando isso acontece.”

Do que o autor gostava mesmo era que “um ou dois dos trava-línguas publicados neste livro fossem, daqui a muitos anos, conhecidos como ‘da tradição’”, era para ele “uma grande alegria”.

Diz ainda: “Os trava-línguas são para os avós, para os pais, para os meninos e meninas. Não é um livro só para ler, é também para dizer. E o mais interessante é que toda a gente tropeça quando diz muito depressa aquelas palavras, mas volta a insistir, e o volume da voz começa a subir. E os livros também servem para nos divertirmos e para partilharmos.”

Muito Serra a Serra da Estela será apresentado na Maratona de Leitura da Sertã pela contadora de histórias Bru Junça, no dia 6 de Julho, às 18h30, no recinto da Feira do Livro (Casa da Cultura da Sertã).

Leiam em voz alta, atrapalhem-se, voltem atrás, repitam e divirtam-se.

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