Pedro Machado: Portugal quer ser “o melhor destino de enoturismo do mundo”

O secretário de Estado do Turismo visitou o evento Vinhos de Portugal no Brasil, em São Paulo, e garantiu que a ambição nacional é grande no que diz respeito ao enoturismo.

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Em São Paulo, os vinhos de Portugal fizeram a festa no Pavilhão da Bienal (Ciccillo Matarazzo), desenhado por Oscar Niemeyer RICARDO VALARINI
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Pedro Machado não hesita em colocar a fasquia alta. “Portugal definiu como grande ambição tornar-se um caso de excelência em enoturismo a nível mundial. Queremos ser claramente o melhor destino de enoturismo do mundo”, declarou o secretário de Estado do Turismo durante uma visita ao Vinhos de Portugal no Brasil, o evento que desde 13 e até 15 de Junho ocupa o Pavilhão da Bienal (Ciccillo Matarazzo), obra desenhada pelo arquitecto Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera em São Paulo, depois de no fim-de-semana anterior ter estado no Jockey Club do Rio de Janeiro.

Pedro Machado - que esteve no primeiro dia em São Paulo do evento organizado pelos jornais PÚBLICO, de Portugal, e O Globo e Valor Económico, do Brasil, em parceria com a ViniPortugal e curadoria da Out of Paper – acredita que o país “tem bons argumentos” para conseguir cumprir essa ambição. “Temos mais de 250 castas registadas no Instituto do Vinho e da Vinha, o que faz de nós um país com uma diferenciação extraordinária comparativamente a outros mercados. E conciliamos isso com o facto de sermos um dos países mais seguros do mundo”, disse à Fugas.

“Se estudarmos um bocadinho a história do vinho e das castas, Portugal, juntamente com a Itália e a Geórgia, é provavelmente o berço de muitas das castas que conhecemos hoje no mundo vínico”, sublinha Pedro Machado. “Vamos à África do Sul, por exemplo, que é um portento na produção mundial de vinho e o país tem duas castas autóctones e depois essencialmente castas do Novo Mundo. Portugal, nomeadamente com o trabalho feito ao nível genético das videiras, chegou a um patamar de excelência.”

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Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, nos Vinhos de Portugal em São Paulo RICARDO VALARINI

A estratégia agora é juntar os produtos. Cada vez mais a promoção do vinho deve andar de mãos dadas com a de outras componentes turísticas, acredita o secretário de Estado. “O vinho hoje é também uma experiência cultural.” Por isso, não é estranho ver no Vinhos de Portugal Rui Dias, que traz os chapéus feitos artesanalmente em São João da Madeira, e, com eles, a história do avô, António Marau, nascido no Brasil mas que regressou a Portugal aos seis anos e, mais tarde, tornou-se chapeleiro.

“Com o primeiro grande trabalho que fez, conseguiu comprar uma carroça e um cavalo para poder expandir-se para as terras vizinhas”, conta Rui, orgulhoso desta sua herança. Na época, São João da Madeira abastecia não só Portugal mas países como os Estados Unidos, Venezuela, Espanha, e até a Nova Zelândia. Já não conseguiu aprender esta arte com o avô, que morreu quando ele tinha quatro anos, mas Rui teve outros professores bons, como “o sr. Valdemar, com 84 anos”, recorda.

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Pelo evento, não faltaram jogos à volta do vinho RICARDO VALARINI

À sua frente tem os chapéus feitos com feltro de pelo de três animais diferentes: coelhos, lebres e castores – a pele destes últimos, que “passam 90% do seu tempo imersos na água”, é mais impermeável e resistente aos líquidos e, por isso, mais duradoura, garante.

Mas Rui não veio ao Brasil para vender chapéus. Está no evento para mostrar “o saber-fazer que existe em Portugal, não só no vinho mas no calçado, no pastel de nata…”. E sente que “há muito interesse no storytelling, até porque o meu avô nasceu no Brasil”. Quer no Rio quer agora em São Paulo, Rui tem desafiado as pessoas a aprenderem a moldar os chapéus, com a ajuda de um ferro a vapor e algum jeito de mãos. “Muita gente ficou surpreendida de vir para um evento de vinhos e encontrar um chapeleiro, mas depois todos têm uma história para contar que envolve um chapéu”.

O enoturismo, em particular, atravessa grande parte da programação do evento, seja nas provas principais - no Rio, a sommelière Cecília Aldaz apresentou duas provas centradas no tema e em São Paulo foi o crítico português Luís Lopes quem dirigiu a prova sobre o enoturismo no Alentejo e outra sobre a oferta a esse nível em todo o país.

As viagens à volta do vinho

E tudo o que os amantes de vinho podem descobrir nas suas viagens em Portugal foi também o tema de várias sessões do Tomar um Copo, o espaço de conversas mais informais em torno de dois copos de vinho e com a presença dos produtores ou dos enólogos.

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Vinhos de Portugal com os olhos no futuro: da realidade virtual à realidade física é um passo RICARDO VALARINI

No espaço dedicado aos Vinhos de Lisboa, acessível a quem sai das sessões de duas horas do Salão de Degustação, há sempre alguém com uns óculos brancos e um ar de quem foi transportado para outro sítio – o que não anda longe da verdade. A experiência de realidade virtual permite uma viagem até à célebre onda gigante da Nazaré. Quando olhamos para baixo, vemos os nossos pés em cima de uma prancha de surf e quando damos por isso já aterrámos, suavemente, nas areias acolhedoras de uma praia.

“Nunca imaginei que o mar estava assim tão próximo e que tinha tanta influência sobre o vinho”, comenta Jéssica, uma das duas recepcionistas que apresentam esta experiência. “Quero muito ir a Portugal.”

No stand dos Vinhos do Tejo há um balouço para quem quiser experimentar e, em frente, no do Turismo do Alentejo, o desafio é um jogo da memória, no qual temos de virar as peças e memorizar onde está a que faz par com a outra. E no do Centro de Portugal, é preciso responder – acertadamente, claro – a três perguntas para se ganhar um brinde: “Você sabe de que Região Demarcada de Vinhos do Centro de Portugal são oriundos os Baga Friends?; A Quinta do Sanguinhal fundada em 1869, é uma das mais famosas vinícolas do Centro de Portugal. Fica localizada mais próximo de Óbidos ou da Nazaré?; Com 17 000 hectares, a Região dos Vinhos do Tejo tem, numa ilha, o castelo mais romântico de Portugal. Você sabe qual é o nome desse castelo?”.

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Vinhos de Portugal em São Paulo RICARDO VALARINI
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O chef Arnaldo Azevedo apresenta as suas iguarias RICARDO VALARINI

No exterior, convidado pelo Turismo de Portugal, o chef Arnaldo Azevedo, do restaurante e hotel Vila Foz, no Porto, com uma estrela Michelin, vai apresentando algumas das especialidades portuguesas, do arroz de bacalhau, pretexto para se falar da relação dos portugueses (e também dos brasileiros) com este peixe dos mares frios do Norte, ao polvo com batata-doce, que cozinha e serve aos presentes. Este sábado, último dia do evento, será a vez de Maria Sardinha apresentar um ícone madeirense, as broas de mel.

Aproveitando uma pausa no Salão de Degustação, Lúcia Freitas e Filipe Cruz, da Quinta da Mariposa, no Dão, mostram-se muito satisfeitos com os resultados desta 11ª edição dos Vinhos de Portugal. “Sentimos um aumento crescente de procura dos vinhos do Dão”, afirma Lúcia. “Isto significa que está a haver uma ligeira alteração dos gostos dos brasileiros.”

Para Filipe, o mais interessante aqui é que “as pessoas são curiosas”. E, em todos os que visitaram o stand da Quinta da Mariposa, há um ponto comum, que Lúcia resume: “Quase todos querem ir a Portugal. Ou já foram ou estão a pensar ir brevemente. E muitos terminam a prova a perguntar se temos enoturismo porque querem visitar-nos.”

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