O campeão entra em campo no “grupo da morte”

Itália abre defesa do título ganho em 2020 frente a uma Albânia que se habituou rapidamente ao seu treinador brasileiro.

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Luciano Spalletti, seleccionador italiano DANIEL DAL ZENNARO / EPA
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Não foram muitos os campeões europeus que foram felizes a defenderem o seu estatuto. Na verdade, foi apenas um, a Espanha campeã de 2008 que deu seguimento a essa conquista com o Euro 2012 (e com o Mundial de 2010 pelo meio). Será que a Itália vai conseguir ser a outra excepção? Ou vai ser mais um campeão que desilude? A partir deste sábado, saberemos como se apresenta esta renovada “squadra azzurra” no Euro 2024, em Dortmund, frente à Albânia de Sylvinho (20h, SPTV1), a contar para a primeira jornada do Grupo B.

Muita coisa mudou desde 2021 nesta “squadra azzurra”, a começar no treinador. Roberto Mancini, o técnico campeão, trocou a selecção italiana pela selecção da Arábia Saudita e foi chamado de emergência Luciano Spaletti, que, depois de um ano intenso a conquistar o scudetto com o Nápoles, teve de adiar os seus planos de ano sabático a descansar na sua quinta na Toscânia.

O que lhe pediam não era coisa pouca: recuperar os “azzurri” para a vida. E o início não foi animador – empate com a Macedónia do Norte, a mesma selecção que os tinha eliminado no apuramento para o Mundial 2022. Mas Spaletti, com alguns sustos pelo meio, lá conseguiu conduzir a campeã até ao Europeu e, pelo caminho, operar uma inevitável renovação. Dos 26 do Euro 2020 restam apenas nove em 2024 – Donnarumma, Meret, Di Lorenzo, Bastoni, Jorginho, Chiesa, Cristante, Barella e Raspadori – e metade da equipa (13) tem menos de 15 internacionalizações.

A perda de estatuto recente no futebol internacional deixou a Itália à mercê de um grupo complicado e foi o que aconteceu, naquele que é considerado o grupo da morte no torneio, com Espanha e Croácia, para além da Albânia, que não será um adversário simpático para ninguém. Grupo da morte? Spaletti não tem medo. Para ele é um sonho estar no Europeu e sentir o peso de uma nação que ferve com o futebol.

“Estamos a viver o sonho de todos os italianos que, quando eram crianças, saíam de casa com a bola debaixo do braço e voltavam a casa à noite, cansados, suados e com os joelhos esfolados. Somos heróis, gigantes, o que quer dizer que não sentimos a pressão de usar esta camisola. Os gigantes e os heróis não têm medo de jogar um jogo”, reforçou o técnico italiano.

Com 11 presenças, a Itália é a quarta selecção entre as que mais vezes estiveram na fase final de um Europeu de futebol e uma das que já conquistou dois títulos (1968 e 2020). A Albânia está quase no pólo oposto em termos de currículo no futebol continental, sendo esta apenas a sua segunda participação – em 2016 até chegou a ganhar um jogo (1-0 à Roménia) e só não se qualificou para os oitavos-de-final pela diferença de golos. O seleccionador já não é o mesmo – saiu o italiano Gianni di Biasi, entrou o brasileiro Sylvinho, antigo lateral do Barcelona. Mas a conexão italiana mantém-se: dez dos 26 convocados actuam no “calcio”.

Muito do trabalho feito na selecção albanesa nos últimos anos foi de prospecção na diáspora e esse trabalho está bem presente entre os convocados de Sylvinho. Oito dos 26 nasceram em território albanês, os outros vêm de oito países diferentes. Muitos vêm de países que foram de acolhimento para refugiados, como a Suíça, e de países que estão umbilicalmente ligados à Albânia (Macedónia, Kosovo), mas também há quem tenha nascido na Alemanha, Grécia, Inglaterra e Espanha.

Para a Albânia, este será ainda mais o “grupo da morte”, mas não se pense que não há talento nesta equipa – e não esquecer que há uma pequena conexão portuguesa nesta selecção, Enea Mihaj, central do Famalicão, e Ivan Baliu, ex-lateral do Arouca. Armando Broja, jogador ligado ao Chelsea, é uma torre de 1,93m com escola do futebol inglês, Rey Manaj, do Sivasspor, é um avançado com golo, Berisha é um guarda-redes com muita experiência de futebol italiano, tal como Djimsiti, central da Atalanta e capitão de equipa.

Sylvinho, que será o segundo treinador brasileiro num Europeu depois de Scolari com Portugal em 2004 e 2008, também não tem medo do “grupo da morte”. “Crescemos muito e temos de aprender muito”, dizia há poucos dias o treinador brasileiro, “mas o futebol é uma loucura, tudo pode acontecer.”

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