Porque é que perder um amigo pode ser tão mau como acabar um namoro

A distância física, a presença de outras pessoas e a interferência de relações amorosas são algumas das causas para o fim das amizades. Conversar sobre os problemas é a solução.

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Porque é que perder um amigo pode ser tão doloroso como terminar um namoro Felix Rostig/Unsplash
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Se já perdeste um amigo, não estás sozinho — um estudo realizado nos EUA revelou que 86% dos adolescentes já passaram pela mesma situação.

Apesar de termos tendência em associar as piores rupturas ao fim das relações amorosas, perder um amigo — especialmente um que nos é próximo — pode ser igualmente difícil. Numa sessão recente com um grupo de desenvolvimento pessoal dirigido por mim, vários participantes entre os 20 e os 30 anos discutiram o facto de terem sido abandonados por um amigo. E ficaram surpreendidos com o facto de os dois tipos de “separações” terem semelhanças.

A maioria pensava que as coisas estavam bem, mas depois recebeu uma longa mensagem em que o amigo explicava que estava infeliz e não queria mais nenhum contacto.

Muitos reagiram como seria de esperar: Como é que não me apercebi disto?”, Como é que o meu amigo pôde acabar com tudo?”, e também coisas como: Porque é que me sinto tão arrasado se não é o meu companheiro?”. Como é que posso falar sobre como isto é mau ou ter apoio quando as pessoas provavelmente vão pensar que estou a exagerar?

A investigação sobre o vínculo entre duas pessoas pode ajudar-nos a perceber porque é que acabar com uma amizade pode ser desolador.

Quando somos crianças, as nossas relações mais importantes são com os nossos pais ou cuidadores. Mas durante a adolescência a situação muda. É algo que faz parte dos nossos genes, prepara-nos para crescer e construir uma vida adulta independente dos nossos pais. A pessoa em quem mais confiamos, de quem mais dependemos e de quem procuramos estar próximos muda e agora é alguém que é um companheiro de vida — ou um melhor amigo.

A ligação com um amigo, a pessoa que é o teu confidente e parceiro de viagem durante as grandes mudanças da vida adulta, pode ser mais forte do que qualquer outra. As mulheres, em particular, tendem a discutir questões pessoais com os amigos mais do que com a família.

Enquanto psicoterapeuta, ouço frequentemente pacientes descreverem o facto de os amigos lhes proporcionarem uma estabilidade constante, mesmo quando as relações românticas começam e acabam. Ter um melhor amigo é uma parte importante do desenvolvimento saudável. Por isso, não é de admirar que o fim de uma amizade possa abalar a vida de alguém. E se não estavas à espera, pode ser bastante desorientador.

O estudo mostra que a forma mais comum de terminar uma amizade é evitar, ou seja, não abordar os problemas em causa. Há quem receba isto como um choque, uma vez que o sentimento de ser rejeitado pode doer tanto como a dor física e afectar a confiança, especialmente quando não entendem o que correu mal.

Porque é que as amizades chegam ao fim?

As principais razões para o fim das amizades entre jovens adultos são a distância física, o facto de aparecerem novos amigos que substituem os antigos, de começarem a desgostar do amigo e a interferência de um namoro ou casamento.

Uma relação amorosa séria (com ou sem família constituída) significa que o tempo e a atenção dedicados à amizade vão certamente diminuir. E, se um dos amigos ainda estiver solteiro, é provável que se sinta excluído, com ciúmes e intimidado.

No entanto, as amizades não têm de acabar por causa de mudanças como esta se tentares empatizar com o que o teu amigo está a passar em vez de o julgares ou dares demasiada importância à situação. Falares com ele sobre o que está diferente e como te sentes afectado pode normalizar os sentimentos por que estás a passar.

Ao conversarem, podem também assegurar o empenho que têm na vossa amizade — mesmo que tenham de ajustar a forma como passam tempo juntos. Dar espaço a uma amizade para crescer, mudar, passar por momentos difíceis, mas ainda assim voltar a juntá-la, pode fortalecer a ligação entre as pessoas e permitir que esta se mantenha ao longo de muitos anos de situações conturbadas da vida. É comum as amizades de longa data passarem por mudanças, por isso, é normal que às vezes os amigos se sintam mais próximos e, noutras situações, mais afastados.

Mas e se já tentaste falar com o teu amigo, mas ele não quer falar contigo?

Esta situação pode fazer com que a proximidade entre vocês seja afectada. Ou pior ainda, o teu amigo pode tentar fazer com que te sintas mal contigo mesmo e te culpe por teres outras amizades ou interesses. Esta ausência de respeito e apoio mútuos indica que o relacionamento saudável acabou e é nessa altura que é melhor deixar a amizade de lado. Nestas circunstâncias, pode ser um alívio terminares a relação com a pessoa.

Como lidar com a situação

Se a amizade acabar, podes sentir um tipo de angústia associado ao término de uma relação amorosa, incluindo sintomas de depressão, ansiedade e reflexão (pensares muito na situação). Esta fase de sentimentos dolorosos é normal mas, com o passar do tempo, vai diminuindo.

A respiração diafragmática, está comprovado, reduz o stress ​e pode ajudar-te a lidar com a situação. É uma técnica fácil que podes fazer sozinho em qualquer lugar e em qualquer altura. Tens de colocar uma mão na zona das costelas e inspirar em direcção a ela para a sentires subir contra a barriga a cada inspiração. Inspira durante três contagens e expira durante sete. Continua a repetir até te sentires mais calmo.

Por outro lado, discutir a situação com outra pessoa também te pode ajudar e permitir-te ver o que podes aprender com ela. Ou então experimenta escrever um diário para exprimires livremente os teus pensamentos e sentimentos e, assim, estimulares emoções positivas que te vão ajudar a aceitares gradualmente a situação.

Para fazeres frente a qualquer tipo de ruptura, os traços de resiliência (optimismo, auto-estima e coragem) vão ajudar-te na adaptação. Podes desenvolvê-los se te lembrares que há muitas pessoas maravilhosas com quem podes fazer novas amizades, de que és uma pessoa que vale a pena ter como amigo e esforçares-te activamente por cultivares outras amizades na vida.


Exclusivo P3/ The Conversation
Sonja Falck é professora de Psicologia na University of East London, no Reino Unido

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