A depressão do meu amigo e eu: como lidar e ajudar?
Mostrar disponibilidade, ser paciente e ajudar em tarefas práticas. Mas também há coisas que não devemos fazer: ser excessivamente positivo é uma delas.
Ver alguém de quem gostamos a passar por uma depressão pode ser um desafio. Queremos saber o que dizer, o que fazer ou como ajudar, sem corrermos o risco de nos tornarmos intrusivos — o que pode ser difícil. Há que ter em conta os limites da outra pessoa, mantendo uma ideia presente: a de que estamos disponíveis a qualquer momento. A psicóloga Piedade Vieitas ajuda a perceber como lidar e ajudar o nosso amigo que está a passar um mau momento.
Que sinais podem indicar que o meu amigo está com depressão?
A tristeza é, claro, “um sinal de alarme”, mas há mais: ver alguém de quem gostamos mais “apático, fechado, isolado, desmotivado, angustiado e preocupado” é motivo de preocupação.
E há outros indicadores mais imprevisíveis que nos dizem o mesmo, como a “irritabilidade, impulsividade, reactividade e desadequação das respostas ou na interacção connosco”. São, no fundo, respostas “exageradas e estranhas” em relação àquele que é o “comportamento habitual” da outra pessoa.
Devo perguntar o que se passa ou esperar que seja a outra pessoa a tomar essa iniciativa?
“Depende do amigo e da relação que tenho com ele”, acredita Piedade Vieitas. “Mas considero que, como amiga, a minha atitude será perguntar-lhe se precisa de alguma coisa, porque não o sinto bem, sinto-o diferente”, refere. O objectivo deverá ser mostrar que pode contar com o nosso apoio, que o queremos ajudar.
O que posso fazer depois?
Essencialmente, “manter-me presente”. Mas também “encorajar para a procura de ajuda profissional e mostrar-lhe os benefícios que pode retirar dessa ajuda”.
“É necessário ser paciente”, avisa a psicóloga. Se a pessoa que estamos a tentar ajudar for resistente à ajuda, podemos tentar ter “uma postura firme e assertiva, a par de uma atitude calorosa e de aconchego” — tentar fazer com que a pessoa se sinta “segura e protegida” connosco.
E, mais do que palavras, há coisas práticas que podemos fazer para contribuir positivamente para a vida de quem está a passar um mau momento: “Telefonar-lhe, ir ao seu encontro, propor-lhe alguma actividade de que ele goste fora de casa”, enumera. Mas, também, ajudar em tarefas em que sinta “mais dificuldade ou se sinta incapaz de realizar”, como arrumar a casa, cozinhar, tratar da roupa.
O que não devo fazer?
“Julgar, criticar, desvalorizar ou minimizar a dor, mostrar desinteresse ou pena, infantilizar.”
Mas também é importante não cair naquilo que se chama positividade tóxica. “Uma coisa é dar esperança a um amigo, outra é levá-lo a criar expectativas irrealistas ou falsas”, alerta. Não devemos, por isso, insistir “numa visão positiva da vida ou da situação” quando a outra pessoa não consegue sentir-se assim, porque isso pode ser visto como “desrespeito, gozo, sarcasmo e acentuar da fragilidade”.
Devemos ainda ter em conta a "disponibilidade interna" da outra pessoa. É normal querermos ligar todos os dias e acompanhar a evolução da situação, mas é preciso ter em conta que quem está num período mais difícil pode não querer falar sobre isso a toda a hora. "Se o nosso amigo não quiser falar, não faz sentido forçar", defende Piedade Vieitas. Ainda que possa ser um desafio entender as necessidades do outro: "Por vezes as pessoas mostram-se ambivalentes. Dizem que está tudo bem e não precisam de falar, mas simultaneamente o comportamento diz o contrário."
Quando assim é, o importante é fazer a outra pessoa saber que "estamos disponíveis a qualquer momento", ou até perguntar-lhe o quão envolvidos podemos estar. Algo como: "Queres que te ligue todos os dias ou preferes ser tu a fazê-lo? Estou disponível para te ouvir e ajudar."
"Falar dói... Nem sempre os nossos amigos estão dispostos a lidar com essa dor interna. Ou estar em contacto de forma consciente com essa dor. Por isso é fundamental respeitar as suas resistências e o seus timings."
Como devo agir se achar que o meu amigo pode magoar-se ou tem pensamentos suicidas?
É “fundamental” aceitar o seu sofrimento, mas também “aconselhá-lo a procurar (e garantir que tem) ajuda profissional”. A psicóloga sublinha que é “inconveniente deixá-lo ‘sozinho’”, sendo que, em situações mais graves, pode ser necessário “orientá-lo ou acompanhá-lo a um serviço de urgência”. Se esta existir, pode ser necessário activar a sua “rede de suporte”, como um familiar próximo.