Adolescência, um novo tempo entre pais e filhos

Embora a adolescência seja um período sensível, não tem de significar, inevitavelmente, que se trate de um momento de instabilidade constante entre o jovem e a família.

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Para alguns adultos as transformações do jovem podem ser dolorosas e causar incompreensão e conflito na relação @petercalheiros
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A adolescência é reconhecida como um período onde ocorrem mudanças físicas, emocionais, cognitivas e sociais. É também neste período de vida que o adolescente se depara com uma das tarefas mais importantes do seu desenvolvimento: a necessidade de reajustar a relação com os pais. A ligação antes estabelecida de maior dependência e procura de proteção, transita para a maior necessidade de autonomia, concretizada, por exemplo, no desejo de passar mais tempo com os amigos, de tomar decisões sozinho e de valorização das suas capacidades, agora mais desenvolvidas, para sentir, pensar e agir.

A qualidade da relação precoce que os pais estabelecem com os filhos, através de experiências de afeto, de procura de proximidade, de atenção às suas necessidades e de fornecimento de segurança, organiza-se num sistema de vinculação cujas funções principais são a proteção e a regulação emocional da criança. Estas interações têm uma forte influência na trajetória de desenvolvimento da criança, contribuindo, de forma marcada, para o ajustamento psicológico desde a infância até à idade adulta e para a qualidade dos relacionamentos com outros significativos, incluindo amorosos, de amizade e, inclusive, na parentalidade.

A partir da experiência com as figuras de vinculação, as crianças vão construir guias internos para interpretar as situações e para se orientarem ao nível dos comportamentos a adotar.

A formação e a manutenção da vinculação segura, por exemplo, vão traduzir-se em segurança em si e nos outros, em flexibilidade, num equilíbrio entre a autonomia e a dependência e no sentimento de confiança de que as suas relações permanecerão intactas mesmo quando vão explorar o meio. Este tipo de relação é um fator de proteção no desenvolvimento de perturbações psiquiátricas.

Em contraste, a vinculação insegura é geralmente marcada por baixos níveis de envolvimento e confiança da criança nas interações, e em atitudes que tendem a dificultar a autonomia na adolescência. Enquanto que a vinculação segura favorece a resolução do desacordo, tão importante na adolescência, a díade insegura tende a vivê-lo como uma ameaça à relação, criando tensão, afastamento, menos controlo emocional, além de uma tendência a sentirem-se menos compreendidos.

Durante a adolescência, as relações com os pares tornam-se centrais, sendo os amigos considerados a principal fonte de intimidade e de apoio socioemocional. No entanto, os pais devem ter consciência de que, apesar de verem diminuídos os comportamentos de vinculação próprios da infância nos seus filhos, não perdem total importância, podendo permanecer como uma fonte de suporte a quem os jovens recorrem em momentos de stress, embora com menos frequência.

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Atendendo ao facto de que a maior parte dos adolescentes mantém relações saudáveis com a sua família, importa compreender, o afastamento emocional do jovem, tal como a maior necessidade de privacidade e a redução do tempo que passa com os pais, como integrados numa função desenvolvimental de preparação para a vida adulta. Tudo isto com uma ressalva relativamente à frequência e intensidade dos comportamentos, não sendo tolerado, por exemplo, que o jovem deixe de participar nos convívios em família.

Para alguns adultos as transformações do jovem podem ser dolorosas e causar incompreensão e conflito na relação, mas importa realçar que a procura de autonomia face aos pais contribui para o aumento da individualização e da autoconfiança, o que mobiliza a aprendizagem para cuidar de si, resolver problemas e lidar com situações exigentes.

Assim, embora a adolescência seja um período sensível, não tem de significar, inevitavelmente, que se trate de um momento de instabilidade constante entre o jovem e a família, sendo fundamental um esforço dos pais para atender às necessidades e reduzir as fragilidades do filho, sem tornarem-se permissivos.

Sendo certo que a qualidade da relação segura entre pais e filhos permite que haja uma comunicação clara, expectativas positivas, confiança mútua, expressão de afetos e comportamentos de proximidade, não significa que pais que não estabeleceram este tipo de relação com os filhos não sejam capazes de a desenvolver nesta fase. As crescentes capacidades cognitivas emergentes na adolescência podem promover uma revisão da relação do adolescente com os pais, que permite a resolução de dificuldades na vinculação, além do reajuste dos comportamentos de proximidade e de autonomia, em função dos interesses e necessidades de ambos. Deste modo, novas experiências relacionais entre pais e filhos podem promover a transformação da relação, através de um envolvimento emocional genuíno, além de mudanças no contexto familiar e social que favoreçam a segurança e a proximidade.

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Algumas atitudes e comportamentos podem ajudar os pais a melhorar a relação com o adolescente. Eis alguns exemplos:

Dedique tempo de qualidade para estar com o seu filho e nunca perca de vista o diálogo e a negociação, sem cobrança ou crítica. A proximidade promove a cooperação.

Perante um problema, escute o seu filho e envolva-o na resolução, evitando tornar-se radical.

Um adolescente cuja relação com os pais é pautada por tensão e afastamento pode sentir-se mais frustrado numa situação de conflito, pois espera não ser compreendido pela figura parental..

Aproveite o fim da tarde e o jantar para criar momentos de família e promover proximidade, fortalecer a comunicação, a transmissão de valores e a partilha.

Mesmo que não compreenda o motivo das alterações emocionais do seu filho, evite julga-lo ou dizer que ele não tem motivos para estar assim.

Facilite a interação do adolescente com os seus pares e procure conhecê-los sem ser intrusivo.

Promova os esforços de autonomia do adolescente, considerando o ponto de vista e os sentimentos dele.

Não subestime o que o seu filho está a sentir e, se considerar que ele está a sofrer, procure os cuidados adequados junto de serviços de saúde mental.

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