Reacções à morte de António-Pedro Vasconcelos, o cineasta que “travou os combates certos”

De comunicados oficiais às redes sociais, várias figuras do panorama cultural e político português prestam homenagem ao realizador que faleceu esta quarta-feira, aos 84 anos.

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António-Pedro Vasconcelos em 2018 Miguel Manso
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Da Presidência da República às lideranças partidárias, dos actores com que trabalhou ao meio do cinema, as reacções à morte de António-Pedro Vasconcelos, a dias de completar 85 anos e a pouco mais de um mês de ver festejado o 50.º aniversário do 25 de Abril, chegam de vários quadrantes da política e da cultura portuguesa.

António Costa, primeiro-ministro

“Lamento profundamente a morte de António-Pedro Vasconcelos. Com um percurso que se dividiu entre a realização de cinema e a intervenção pública, APV marcou decisivamente o cinema português.”

Cinemateca Portuguesa

“A Cinemateca presta homenagem ao cineasta, produtor, crítico e professor António-Pedro Vasconcelos, ‘obreiro decisivo’ da geração do Cinema Novo. (…) A Cinemateca dedicou uma retrospectiva integral, em Junho e Julho de 2018, ao trabalho enquanto realizador de António-Pedro Vasconcelos. No texto de introdução ao ciclo, escrevia-se: “Viajar pela obra de António-Pedro Vasconcelos é assim viajar por mais de meio século de cinema português e pelos debates levados a cabo no seio dele, desde um cinema muito próximo da vida e da vivência do autor (o lado autobiográfico que é também uma das suas vertentes Nouvelle Vague) a um outro que procura aproximar-se mais dos grandes modelos universais da ficção e de um cinema de género, sempre em cruzamento com uma sublinhada reflexão sobre a relação amorosa e a paixão.”

Fernanda Serrano, actriz

"Esta é daquelas publicações que não queremos fazer. Mas como meu, nosso, de tantos de nós actores, mentor, que com ele aprendemos, crescemos, trabalhámos, sonhámos, rimos e discutimos projectos felizes e completos, quero deixar aqui o meu muito obrigada por tudo o que fez e deu ao cinema português, aqui e lá fora, à cultura, ao futebol, à arte, à política, à vida de todos nós. Há de facto pessoas únicas com que temos a sorte e o privilégio de nos cruzarmos. O António-Pedro Vasconcelos é uma dessas poucas pessoas. APV como carinhosamente o tratamos. Este é o abraço que deixo com o maior carinho, admiração e respeito. Ao Homem, Pai, Cidadão, Benfiquista, Homem de muitos ideais, Cineasta, realizador maior, obrigada por tudo! O meu pesar e sentimentos a toda a família tão bonita que construiu!”

GEDIPE - Associação Para A Gestão De Direitos De Autor, Produtores e Editores Cinematográficos e Audiovisuais, a FEVIP - Federação Editores de Videogramas e a APEC – Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas

“O cinema português está de luto. Com a morte de António-Pedro Vasconcelos, esta terça-feira, dia 5 de Março, aos 84 anos, desaparece um dos maiores expoentes da arte cinematográfica e audiovisual, multifacetado na sua longa carreira, coroada de êxitos como Jaime (1999), Call Girl (2007) e ainda Os Imortais (2003). (…) APV, como gostava de ser conhecido, partiu, mas deixa para trás uma vastíssima obra, com mais de vinte longas-metragens realizadas pelo que será, para sempre, recordado como um dos mais emotivos e vibrantes activistas pela causa do Cinema Português.”

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

“A partir de finais dos anos 1960, António-Pedro Vasconcelos foi um dos críticos e cineastas que prolongaram a esperança num cinema novo português, desalinhado do regime e alinhado com o cinema europeu.

Dirigiu documentários, uma ficção, e depois da Revolução esteve com o cinema militante. Na sequência de O Lugar do Morto (1984), à época o maior sucesso de bilheteira nacional, António-Pedro Vasconcelos viria a destacar-se como defensor e praticante de um cinema de grande público, projecto que nunca abandonou e que se tornaria uma polémica recorrente, pois dizia respeito tanto aos modos de financiamento como às próprias ideias de cinema e de público.

Homem culto, frontal, interventivo e intempestivo, gostava de literatura, da clareza e acutilância da prosa de Stendhal, dos grandes mestres do cinema clássico americano, e envolveu-se em campanhas políticas e em combates cívicos, ligados por exemplo à RTP e à TAP.

Também professor, cronista e ensaísta, esteve ligado ao decisivo Centro Português de Cinema e à Associação Portuguesa de Realizadores. Em tudo o que fez, foi figura destacada no nosso espaço público do último meio século.

Com antiga e grande amizade, o Presidente da República manifesta à Família de António-Pedro Vasconcelos o seu pesar e o seu reconhecimento.”

Ministério da Cultura

“O ministro da Cultura lamenta o falecimento do cineasta e escritor. António-Pedro Vasconcelos, figura decisiva da renovação do cinema português. Deixou desde muito cedo uma marca na imprensa, como crítico literário e de cinema. Passa em seguida à realização (sendo também argumentista) e assume mais tarde um papel importante também como produtor. Os seus primeiros filmes - Perdido por Cem... (1973), Adeus, até ao meu Regresso (1974) e Oxalá (1979) - imediatamente o estabelecem como um dos principais autores da nova geração. Mais tarde, defende a necessidade de reconciliar o cinema feito no nosso país com o grande público, ambição que concretiza na prática com O Lugar do Morto (1984), Aqui d'El-Rei (1992), ou Jaime (1999), entre outros.

Teve ainda um papel de destaque na definição de políticas públicas para o sector, tanto no nosso país - como coordenador do Secretariado Nacional para o Audiovisual - quanto ao nível europeu, tendo justificado orgulho no trabalho que dirigiu enquanto presidente do grupo de trabalho para o Livre Verde da Comissão Europeia sobre o audiovisual. Foi, além de tudo e antes de tudo, um cidadão empenhado e inconformado, comprometido desde sempre com os rumos da democracia, designadamente na defesa do serviço público de rádio e televisão. A família, e aos inúmeros amigos e admiradores que deixa nas mais diversas áreas da vida cultural portuguesa, o ministro da Cultura manifesta o seu pesar.”

Pedro Nuno Santos, dirigente do Partido Socialista

“Deixou-nos hoje um dos grandes cineastas portugueses do nosso tempo. António-Pedro Vasconcelos deixa uma obra que fez dele uma figura incontornável da cultura portuguesa, com um percurso notável nas áreas do cinema, do jornalismo e da docência. Mas foi também alguém com quem sempre partilhámos valores fundadores do PS. A sua participação cívica na campanha presidencial de Mário Soares, de quem foi amigo próximo, e o exercício de cidadania do qual nunca abdicou, revelam-nos alguém que sempre travou os combates certos. É uma grande perda para o País. À sua família e aos muitos amigos, as mais sentidas condolências, prestando homenagem à sua obra notável como humanista e cidadão.”

Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda

“Partilhei com o António-Pedro Vasconcelos um movimento importante contra a privatização da TAP. Tive o prazer e o privilégio de poder trabalhar o lado do António-Pedro e de muitos outros que se juntaram nesse movimento.” (…) “Essa é a mensagem que quero deixar, de um homem de luta e que até ao fim, até estes últimos anos, sempre se quis mobilizar para defender o país.”

Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril

António-Pedro Vasconcelos foi um civil de Abril que manteve uma permanente e intensa intervenção cívica. Deixa por cumprir o seu maior projecto de cineasta, a série Conspiração, que estava a realizar para integrar as comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril. Terminar essa obra constituirá certamente uma grande homenagem que o António-Pedro bem merece.

Nuno Santos, director da CNN Portugal

Para mim o António-Pedro Vasconcelos andava sempre de chapéu. Chegava sempre de chapéu. Mas não vinha do passado, vinha do futuro. Aparecia sempre a falar do novo. Do que queria fazer, do que devíamos fazer. Não por ele, mas pelo cinema, pelo país e, uma ou outra vez, pelo Benfica.
O António-Pedro que morreu hoje aos 84 anos nunca chegou a essa idade. Reinventou-se sempre. Cruzou gerações, encontrou talento, deixou sabedoria e ouviu os mais novos. Era mesmo um homem sábio, que é um pouco mais do que aquilo a que chamamos “um homem de cultura”. E era um homem que amava o cinema e a liberdade

Rui Tavares, líder do Livre

"António-Pedro Vasconcelos viveu muito. Criou. Ensinou. Filmou. Pensou. Escreveu muito e muito bem. Participou. Mobilizou os seus concidadãos. Foi sempre convicto das suas opiniões e tolerante em relação às opiniões dos outros. A primeira vez que o vi estávamos por acaso ambos em Florença, eu a fazer entrevistas para um doutoramento e a visitar amigos, ele a acabar de sair de um Fiorentina-Benfica a que também fui assistir. Anos 90. Depois, já nos anos 2000, encontrámo-nos várias vezes, quase sempre por causas políticas e sociais. A luta contra a austeridade na zona euro. A luta pela TAP pública. A luta por mais investimento na cultura. Lutas, mas sempre com um sorriso na cara. Era um gosto receber mais uma mensagem dele a convidar para um café ou a desafiar para um manifesto. Grande A-PV. Já fazes falta. Mas continuaremos o caminho contigo."

Sofia Grillo, actriz

"O António-Pedro. Confesso que me emocionei muito com a notícia. Fui ao passado e recordei os momentos que tive o privilégio de viver com ele. Os filmes, as lições, as conversas, a paixão por pessoas, pelas suas histórias, o enorme dom da empatia. Tantas memórias. A sua partida deixa um vazio insubstituível no cinema e no mundo da cultura. O seu legado será eterno. Adeus e obrigada, querido Mestre! Um beijo, Teresa e Patrícia."

Catarina Martins, política e comentadora

“Os filmes, sempre os filmes, as conversas, os debates acesos sobre política cultural, os livros, a luta contra as privatizações que assaltam o país. O tanto que te devemos. Obrigada. António Pedro Vasconcelos.”

João Soares, político e comentador

“Recebo com grande tristeza a notícia da morte de António Pedro Vasconcelos. Admirava-o muito como cineasta, a obra que nos deixa é notável. Também como cidadão, cujas opiniões respeitava e muitas vezes seguia. Um homem de esquerda, desde quase sempre próximo do PS. Teve um papel muito importante na campanha presidencial do meu pai em 1986. Foi amigo e apoiante sem falhas de Mário Soares, sempre. A honrar a sua memória aqui fica aquele trecho da letra do inesquecível Rock da liberdade que escreveu em 1986: ‘Para nós só há a liberdade...’. À sua família, os meus sentidos pêsames. Honra à memória de António-Pedro Vasconcelos.”

Ruy de Carvalho, actor

“Até um dia, meu amigo. O cinema fica muito mais pobre sem ti, meu estimado amigo.”

Sport Lisboa e Benfica

"O Sport Lisboa e Benfica endereça as suas mais sentidas condolências à família do nosso sócio António-Pedro Vasconcelos, um homem da cultura e de benfiquismo devotado e sem limites. A morte de um dos cineastas portugueses de maior reconhecimento deixa a cultura portuguesa mais pobre. Com 84 anos, António-Pedro Vasconcelos era sócio do Sport Lisboa e Benfica, tendo exercido uma actividade pública notória na defesa do prestígio, da reputação e da imensa grandeza do nosso Clube, com um posicionamento independente, crítico e apaixonado. À família e amigos, o Sport Lisboa e Benfica manifesta solidariedade e presta homenagem neste momento difícil.​"

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