Seis filmes para entender António-Pedro Vasconcelos
Da sua primeira longa-metragem, Perdido por Cem, de 1973, a Parque Mayer, de 2018, o PÚBLICO recorda o cinema de António-Pedro Vasconcelos.
Numa carreira de cineasta que, ao longo de meio século, acabou por se resumir a 12 longas-metragens de ficção, podemos definir dois grandes momentos no cinema de António-Pedro Vasconcelos. Um primeiro, até 1984 e O Lugar do Morto, onde se manifestam de forma mais evidente as suas influências do cinema francês da Nouvelle Vague cuja eclosão acompanhara em directo em Paris no início dos anos 1960. Um segundo, a partir de 1999 e Jaime, onde regressa ao seu amor pelo cinema clássico e procura fazer filmes que falem da realidade portuguesa e interpelem o grande público. Escolhemos três filmes de cada um desses momentos.
Perdido por Cem (1973)
A primeira longa-metragem transportava as influências da Nouvelle Vague francesa para um dos temas centrais do cinema português dos anos 1970: um olhar sobre uma geração insatisfeita apanhada num país fechado sobre si próprio.
Oxalá (1980)
É a sua segunda longa-metragem e a primeira ficção rodada depois do 25 de Abril. Oxalá conta os romances de um exilado português nas suas viagens entre Lisboa e Paris após a revolução. O realizador definia-o como “segunda parte” de uma “trilogia confidencial” com o seu quê de autobiográfico.
O Lugar do Morto (1984)
Este policial com Ana Zanatti como "mulher fatal" e o jornalista Pedro Oliveira é ainda hoje um dos títulos míticos do cinema feito em Portugal: um enorme êxito comercial que recebeu também o aplauso da crítica. “O único filme em que fui produtor e ganhei dinheiro”, disse o realizador ao PÚBLICO em 2018.
Jaime (1999)
É o regresso de António-Pedro Vasconcelos à realização após quase uma década de ausência. Jaime invocava abertamente o neo-realismo italiano numa variação sobre Ladrões de Bicicletas, de Vittorio De Sica, e iniciou o período mais produtivo da sua carreira. Foi a partir daqui que o realizador sentiu “ter finalmente obra”.
Call Girl (2007)
O seu maior sucesso após O Lugar do Morto, ambientado no submundo da política e da corrupção, era considerado pelo realizador como “o mais político” dos seus filmes, revelando igualmente a modelo Soraia Chaves como actriz de recursos.
Parque Mayer (2018)
História de época ambientada nos anos dourados do teatro de revista, Parque Mayer correspondia a um desejo de longa data de A-PV de homenagear Jean Renoir e de explorar o ambiente do palco. Foi a sua última colaboração, após 20 anos de trabalho em conjunto, com o produtor Tino Navarro.