Annie Leibovitz fotografou 25 famílias em todo o mundo para a Ikea
Nos últimos anos, a fotógrafa de moda percorreu sete países para fotografar 25 famílias nas suas casas. O objectivo era mostrar diferentes formas de viver.
Quando se pensa em Annie Leibovitz associam-se nomes como as revistas Vogue ou Vanity Fair e a Ikea pode não ser a colaboração mais óbvia. Ainda assim, a fotógrafa de moda mais conhecida do mundo acaba de anunciar um projecto em conjunto com a gigante sueca de mobiliário, focado nas famílias, que fotografou em sete países diferentes. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira em Paris, numa exposição que pode ser visitada até 3 de Março.
O mobiliário acessível pode não ser a maior paixão da fotógrafa norte-americana, mas Leibovitz confessa ter um encanto particular pelas famílias. Quando a marca sueca a contactou durante a pandemia, descreve ao The Guardian ter sentido que este “era um projecto de sonho”, pela oportunidade de conhecer (e fotografar, claro) tantas pessoas diferentes na Alemanha, Índia, Itália, Japão, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos.
Essa viagem ao longo de sete países deu-lhe uma visão diferente do significado de família, que pode ter diversas interpretações ─ por exemplo, habitar em comunidade, três pais a viver com o filho, um casal jovem a partilhar casa com uma viúva ou mesmo não ter casa. “Havia a ideia de que isto era sobre casa. Na verdade, é sobre a vida destas pessoas. Foi tão poderoso e emocional entrar nestas vidas”, relata a fotógrafa.
Uma das histórias é de Cal Orre, activista LGBT, que vive com o parceiro, o filho e um terceiro membro do casal poliamoroso. Conta-se também a vida de Safdar Rahman, que foi nómada durante décadas na Índia e se fixou agora com a família perto de Goa; ou a activista indígena Kymon Greyhorse, que partilha casa com a mãe no Novo México ─ as duas querem aumentar o conhecimento sobre a tradição dos seus antepassados.
Os cenários encontrados nas casas terão sido diferentes daqueles a que a fotógrafa poderá estar habituada nos estúdios de moda ou mesmo em palácios reais, para fotografar nomes como Isabel II ou Felipe VI e Letizia de Espanha. Ainda assim, garante, encara com a mesma paixão qualquer tarefa. “Não considero nenhuma sessão mais ou menos importante. É quase uma espécie de maldição ─ fazemos tudo exactamente com a mesma intensidade.”
E nem isso muda com a idade ─ Leibovitz tem 74 anos e cinco décadas de carreira. “Uma das coisas de que não se fala o suficiente é que se torna muito mais interessante ser velho. Sabemos o que estamos a fazer”, argumenta. E a vida tem-se encarregado de lhe ensinar algumas coisas como a escolher as suas batalhas. “Já não perco muito tempo com um assunto. Se não conseguirmos logo a fotografia, é melhor ir embora.”
Ainda assim, a persistência é uma das qualidades que ensina a jovens fotógrafos, como os que está a apoiar neste projecto da Ikea, onde além de Leibovitz, outros seis jovens fotografaram casas em todo o mundo. Por exemplo, Praise Hassan captou a casa da melhor amiga na Nigéria ou Toma Hurduc registou o companheiro com o cão de ambos.
A imagem mais impactante do conjunto é a de Elena Kalinichenko, fotógrafa em Kiev, na Ucrânia, que fotografou uma amiga no local onde outrora foi a sua casa, destruída pelos bombardeamentos provocados pelo conflito com a Rússia. Um cenário onde a própria Annie Leibovitz já tinha estado em 2022, quando retratou o presidente ucraniano Vladimir Zelensky acompanhado de Olena Zelenska para a capa da Vogue ─ uma sessão polémica.
Ligação entre a Ikea e a moda
As fotografias de Leibovitz e dos seis fotógrafos estarão expostas durante a Semana da Moda de Paris, até 3 de Março, na mostra Ikea+ no número 28 da Rue de Lappe. A iniciativa surge na sequência do relatório A Vida em Casa, conduzido pela empresa sueca, que dá conta que 48% das pessoas não sente que a realidade da vida doméstica esteja representada nos meios de comunicação.
Esta, dizem em comunicado, é a primeira iniciativa de residência artística promovida pela Ikea, que também expõe no mesmo espaço na capital francesa o trabalho de jovens criadores de moda. A ligação à moda não é a uma novidade para a empresa sueca, que colaborou com Virgil Abloh, em 2018. O criador norte-americano, que morreu em 2021, desenhou uma colecção de decoração, mantendo a sua assinatura de moda, que incluía um poster com o recibo do Ikea ou um tapete com uma das suas frases icónicas entre aspas.
Antes disso, tinha-se tornado viral uma mala da Balenciaga inspirada no saco azul da loja de mobiliário. A Ikea reagiu bem à cópia e partilhou uma campanha publicitária com “o original”, lembrando que custa menos de um euro, em comparação com os mais de 1500 euros da peça da marca de luxo. “Se faz barulho, é o real”, prometiam então.
Na galeria de imagens acima, veja todas as fotografias de Annie Leibovitz para a Ikea.