Annie Leibovitz fotografou Olena Zelenska para a capa da Vogue, mas nem todos gostaram

Retratista norte-americana esteve em Kiev para sessão fotográfica com primeira-dama ucraniana. A decisão de o casal ser fotografado e entrevistado para uma revista de moda está a ser alvo de polémica.

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Detalhe da capa de Outubro da Vogue com Olena Zelenska retratada por Annie Leibovitz DR

A retratista norte-americana Annie Leibovitz esteve em Kiev, neste mês, para fotografar a primeira-dama ucraniana. O resultado sairá na edição da Vogue de Outubro, na qual Olena Zelenska — os nomes eslavos variam conforme o género de quem os usa — será capa e tema principal da revista. O anúncio foi feito por Leibovitz na rede social Twitter e as reacções de condenação não tardaram, com críticas ao casal por ter feito a sessão fotográfica.

Quando a guerra começou, há cinco meses, Zelenska e os filhos, Oleksandra, de 18 anos, e Kyrylo, de nove, foram levados para um local desconhecido, por razões de segurança. Mas depois de meses ausente, a primeira-dama ressurgiu, em Maio, para assumir um papel mais activo no esforço de guerra, altura em que recebeu Jill Biden, ou participando em eventos públicos, assim como dando entrevistas que têm como objectivo elevar o moral do seu país.

A Vogue norte-americana esteve em Kiev, onde entrevistou Olena e o marido, o Presidente Vladimir Zelensky, separadamente. Num artigo assinado pela jornalista Rachel Donadio, a primeira-dama conta como inicialmente se dizia que ela e os filhos eram os segundos alvos a abater pelos russos, depois do marido, e como deixou de pensar sobre isso; caso contrário, tornar-se-ia “paranóica”.

A entrevista foi feita no complexo presidencial, em Kiev, e a primeira-dama confessa que os últimos meses foram os “mais horríveis” da sua vida, “assim como de todos os ucranianos”, acrescentando que o que a inspira são os seus compatriotas: “Estamos ansiosos pela vitória. Não temos dúvidas de que prevaleceremos. E é isto que nos faz continuar.”

Críticas à sessão fotográfica

A decisão de o casal dar estas entrevistas e fazer uma sessão fotográfica num país em guerra deixou muitos em choque. Há uma fotografia de Olena Zelenska no Aeroporto Antonov, em Hostomel, onde a primeira-dama posa frente aos restos de um avião destruído, com o cabelo ao vento e o olhar distante, cercada por mulheres-soldado; noutra, o casal está abraçado.

Para o especialista norte-americano em política externa Ian Bremmer, a decisão de dar uma entrevista à revista de moda foi uma “má ideia”. O editor do India Today, Kamlesh Singh, também critica a decisão, considerando que não é assim que se chama a atenção para o que se está a passar na Ucrânia, onde muitos perdem a vida, enquanto o casal posa para a Vogue.

Mas também há quem elogie, como é o caso da activista ucraniana Val Voshchevska, que antes da guerra trabalhava em estratégias de comunicação para as redes sociais, que disseca a fotografia de Leibovitz. Para a criadora digital, a capa da Vogue é “icónica” e explica porquê: Olena não está a fazer uma pose, está vestida de uma maneira simples, não está de saltos altos, mas sentada como qualquer pessoa, com as costas ligeiramente inclinadas, a olhar de frente, sem medo, transmitindo confiança.

A primeira-dama está sentada nas escadas do Parlamento, que fica no centro de Kiev, e por detrás vêem-se os sacos de areia que protegem as colunas de serem destruídas pelo invasor, continua a activista. “O cenário lembra-nos que a guerra não acabou”, escreve Val Voshchevska, fazendo um elogio a Olena, que não abandonou o seu país, que ficou para o proteger e que é um “símbolo da resistência”.

Papel mais activo

De regresso à entrevista da Vogue, ao ser questionado sobre o novo papel de Olena como o rosto da Ucrânia no exterior, o Presidente destaca a “personalidade forte” da sua companheira e confessa que, apesar de Olena Zelenska ser a pessoa que ama, “acima de tudo”, é sua amiga.

O casal conhece-se há 26 anos, desde os tempos do ensino secundário,​ começou a namorar na universidade e trabalhou junto antes de o comediante ter abraçado a carreira política, em 2019. A mulher sempre trabalhou nos bastidores e é aí que gosta de estar, confessa. Contudo, a guerra obrigou-a ao desempenho de um papel mais activo, tal como aconteceu há uma semana, em Washington, onde pediu ao Congresso mais armas para combater contra a Rússia.

Em terras ucranianas, a primeira-dama é o rosto de uma iniciativa que promove a formação de profissionais de saúde mental que possam ajudar as pessoas a lidar com o stress da guerra. Esta formação visa socorristas de primeira linha, professores, farmacêuticos, assistentes sociais e agentes da polícia que podem agir como conselheiros. “Esta iniciativa procura melhorar a saúde mental na nação”, resume à Vogue, numa tentativa de promover a saúde mental a longo prazo.

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