Adolescentes, por favor, não sejam burras!
Porque é que elas precisam de “imitar” os rapazes, recorrendo a estas bengalas que lhes prejudicam a saúde, a fertilidade, o futuro?
Filha,
Esta minha carta é um apelo a que as adolescentes não sejam burras!
Desculpa, sei que o meu tom é um bocadinho agressivo, mas revela o meu desespero ao ver as raparigas — as mulheres jovens — a adoptarem os “vícios” tradicionalmente masculinos, num tempo em que existe já informação médica segura das consequências gravíssimas dessas dependências. E que, ainda para mais, são mais graves quando conjugadas no feminino.
Sim, Ana, estou a falar do tabaco, da cannabis e, claro, do álcool, por muito que em Portugal se resista a qualificá-lo no campo das drogas.
Mas hoje vamos ao tabaco. As estatísticas revelam que o consumo do tabaco entre as raparigas não pára de subir, já quase superando o deles, que tem vindo a descer.
Porque é que elas — que são por regra melhores alunas, amadurecem mais cedo, entram para a faculdade em maior número, acabam as licenciaturas e seguem para mestrados e doutoramentos —, precisam de “imitar” os rapazes, recorrendo a estas bengalas que lhes prejudicam a saúde, a fertilidade, o futuro? Porque é que sendo tão espertas e perspicazes, caem na esparrela de campanhas de publicidade que, se está mesmo a ver, visam as suas inseguranças em proveito próprio?
E, nós, adultos, porque é que não somos capazes de lhes demonstrar este logro? A última campanha portuguesa destinada a dissuadir as mulheres de fumar, datada já de 2007, era desastrosa — uma mãe com cancro do pulmão terminal, culpava-se pelo mau exemplo que dera à filha, a sua “princesa”. Sempre a associação entre a maternidade e a culpa. Ou seja, era tempo de se criar uma nova, que apelasse exatamente a esta ideia de que para vencerem na vida, para terem sucesso, as mulheres já não precisam de imitar os homens!
Tu, que estás mais perto dos adolescentes, o que vês do teu ponto de vigia?
Querida Mãe,
Na minha ignorância julgava que os hábitos tabágicos estavam a diminuir. Fiquei chocada com a sua birra, e com o que fui ler depois! Numa altura em que não se fala de outra coisa que não detoxs, veganismo, ligação à natureza, e sobretudo em sermos nós próprios, não me passou pela cabeça que ainda haja tanta gente que caia na esparrela dos cigarros.
Questionei os meus sobrinhos mais velhos e, aparentemente, entre os adolescentes os cigarros tradicionais parecem “já não estar na moda”, mas os vapes são a nova explosão. Mas os motivos que levam a fumar uns e outros são os mesmos.
A mãe sabia que as primeiras campanhas de cigarros direcionadas especificamente para as mulheres (em 1920) tentaram estabelecer uma relação entre o cigarro e a perda de peso? E que as campanhas mais modernas, batem escandalosamente na mesma tecla? Estamos em 2024, pregamos a aceitação do corpo, mas ainda estamos tão vulneráveis como dantes, e os cigarros eletrónicos mantêm a estratégia de marketing apenas mudando o produto.
Não, mãe, provavelmente elas não querem ser iguais a eles, continuam é a fazer tudo para se sentirem aceites por eles, para irem ao encontro dos preconceitos que se mantêm.
Mas tem razão, é urgente não desistir de lhes abrir os olhos, de os ajudar a não precisarem destas “bengalas”, como a mãe lhes chama; e se temos provas irrefutáveis que o marketing funciona “para o mal”, temos de usar o feitiço contra o feiticeiro e criar campanhas fantásticas ao serviço do bem: incentivando e ajudando as raparigas e os rapazes a não começarem sequer a fumar. Porque mal o fazem o risco da dependência, física e psicológica, cresce exponencialmente.
E os pais e as mães quando descobrem que um filho fuma, o que devem fazer? Pergunta para uma próxima birra!
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990.