Cigarros electrónicos são “a nova face da epidemia no século XXI” entre os jovens

Segundo a OMS, os adolescentes entre os 13 e os 15 anos utilizam cigarros electrónicos em taxas mais elevadas do que os adultos em todas as regiões do globo.

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OMS diz que adolescentes entre os 13 e os 15 anos utilizam cigarros electrónicos em taxas mais elevadas do que os adultos Regis Duvignau

O coordenador da Comissão Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Paulo Corrêa, afirmou que os dispositivos electrónicos para fumar são “a nova face da epidemia no século XXI” do tabagismo entre os jovens.

O Brasil é um dos 34 países do mundo que proíbe a venda de cigarros electrónicos e “é um dos 15 de sucesso em termos de regulação no mundo”, disse o investigador, que falava à agência Lusa após o alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS), no relatório Electronic Cigarettes Call to Action, para o “uso alarmante” de cigarros electrónicos por crianças e jovens.

Segundo a OMS, os adolescentes entre os 13 e os 15 anos utilizam cigarros electrónicos em taxas mais elevadas do que os adultos em todas as regiões da OMS.

Paulo Corrêa afirmou que “os dispositivos electrónicos para fumar, como o cigarro de tabaco aquecido, são a nova face da epidemia no século XXI num momento em que as políticas de ambientes livres de fumo tinham caminhado no mundo todo”.

“Nós conseguimos caminhar e rapidamente a indústria conseguiu reinventar-se através dos cigarros electrónicos utilizando os mesmos expedientes que utilizavam no século XX, com atores de Hollywood, a fazer a apologia do uso [do tabaco]”, mas agora utilizando influenciadores nas redes sociais, no YouTube para poder fazer o recrutamento.

“É o mesmo padrão que a gente observava no século XX, ou seja, a disseminação de mitos”, como os cigarros electrónicos e de tabaco aquecido serem apenas vapor de água, e “com alarmante preocupação, nós notamos a atractividade desses produtos para os jovens”, disse Paulo Corrêa.

No seu entender, o alerta da OMS a chamar a atenção dos países para a necessidade de políticas públicas de protecção, especialmente da juventude, é necessário, mas surge tardiamente, uma vez que há crianças de 7, 8 anos a fumar cigarros electrónicos.

A percentagem de população consumidora destes dispositivos, entre os 8 e os 19 anos, varia de 2% no Camboja e os 52% na França, observou, salientando que os países têm regulações muito diferentes.

Segundo a OMS, 34 países proíbem a venda de cigarros electrónicos, enquanto 88 países não têm estabelecido uma idade mínima a partir da qual os cigarros electrónicos podem ser comprados e 74 países não têm regulamentação para estes produtos nocivos.

A OMS aponta a necessidade de os países que proíbem a venda de cigarros electrónicos reforçarem a aplicação da proibição e pede aos que permitem a sua comercialização que garantam regulamentações rigorosas para reduzir o consumo, incluindo a proibição de todos os sabores, limitando a concentração e a qualidade da nicotina e tributando-os.

Falando do caso do Brasil, Paulo Corrêa disse que, em 2019, a prevalência de jovens, dos 15 a 24 anos, que fumava era de 2,4%, enquanto nos Estados Unidos, que não proíbe o cigarro electrónico, é na ordem dos 28%.

A agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem em consulta pública, até 9 de Fevereiro, um texto que propõe a manutenção da proibição dos cigarros electrónicos e a proibição da publicidade e qualquer tipo de divulgação desses produtos.

“Estamos esperançosos que a política pública vai ser mantida, já que o Grupo Técnico da agência fez um relatório muito bem feito no ano passado e sugeriu inclusive restrições mais fortes, com fiscalização mais efectiva, porque existe muito contrabando no Brasil”, adiantou.

O professor na Universidade Federal de Ouro Preto citou o estudo de um pediatra americano publicado em 2018 que mostrou que o uso de cigarro electrónico no início da adolescência triplica ou quadruplica o uso de haxixe.

Estudos também demonstram que o seu consumo triplica ou quadruplica as hipóteses de vir a fumar o tabaco convencional. Esta realidade causa uma “enorme preocupação”, sendo por isso importantes os países caminharem para essa proibição, “que tem sido eficaz em proteger a saúde pública dos brasileiros”.