“Como é que sabemos que acabámos um desenho?”

Uma oficina para crianças orientada por Carlo Giovani no Braga em Risco sujou-as de carvão e transformou-se numa festa a preto e branco.

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A partir de um recorte, as crianças desenham a carvão o que vislumbram para lá dele Rita Araújo/Braga em Risco
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As mãos de carvão limpam-se facilmente: “Afinal, isto sai num instante”, ouve-se na voz de uma menina Rita Araújo/Braga em Risco
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“Eu estou a desenhar uma pessoa como uma pessoa”, diz Gonçalo (dez anos) Rita Araújo/Braga em Risco
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Participaram na oficina 23 crianças, dos cinco aos 13 anos DR
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Carlo Giovani vai observando os trabalhos e esclarecendo as dúvidas das crianças Rita Araújo/Braga em Risco
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Leonor, dez anos, fez “um golfinho feliz” e chamou-lhe Cleo DR
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Alguns dos participantes mais crescidos optaram por desenhar na vertical Rita Araújo/Braga em Risco
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Em pouco tempo, os miúdos revelaram o seu poder de observação e de imaginação DR
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Uma das ilustrações de O Feiticeiro do 4.º Esquerdo. António está convencido de que a sua irmã também é feiticeira Carlo Giovani
Preto e branco
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A visita de Alfred assustou o protagonista da história Carlo Giovani
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Será que a família de António pertence mesmo a uma linhagem de feiticeiros? Carlo Giovani
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Elisabete Rosa-Machado (editora) Vânia Calado (escritora) e Carlo Giovani (ilustrador) na apresentação de O Feiticeiro do 4.º Esquerdo no Braga em Risco (Salão Medieval da Reitoria da Universidade do Minho) Rita Araújo/Braga em Risco
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Capa do livro O Feiticeiro do 4.º Esquerdo, editado por The Poets and Dragons Society Carlo Giovani
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Depois do lançamento do livro O Feiticeiro do 4.º Esquerdo, com texto de Vânia Calado e ilustração de Carlo Giovani, durante o encontro de ilustração Braga em Risco, o ilustrador seguiu para o mercado municipal da cidade. Ali, esperavam-no 23 crianças, dos cinco aos 13 anos, para a oficina Mãos de Carvão.

Descrição feita pelo próprio: “A oficina Mãos de Carvão é sobre ver o que ninguém vê. É sobre explorar linhas, formas, texturas e volumes. É sobre dar significados às coisas e torná-las gigantes através do desenho. É sobre encontrar o maior número de soluções para um problema muito específico através da observação.”

Antes, já o artista plástico, “metade brasileiro, metade italiano”, tinha dito ao PÚBLICO como lhe agrada estas oficinas com crianças: “São espontâneas, verdadeiras, não se põem a fazer grandes interpretações sobre aquilo que vêem, imaginam e desenham.”

A actividade começa com a escolha por parte dos miúdos de vários recortes diferentes em cartolinas coloridas. O que virem para lá deles será representado numa folha grande com a ajuda de pauzinhos de carvão.

Olhei e vi o Pinóquio”, diz Maria João Gomes (dez anos) ao PÚBLICO. “Estou a desenhá-lo.” O recorte de Maria Miguel Gabriel, sete anos, parece-lhe óbvio: “Vê-se logo que é uma serpente.” Já Leonor, dez anos, vislumbrou “um golfinho feliz”. Chamou-lhe Cleo: “Dou sempre este nome aos animais.”

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“Olhei e vi o Pinóquio”, diz Maria João Gomes (dez anos). “Estou a desenhá-lo” DR

A vontade de ser feiticeiro

Carlo Giovani estreou-se no trabalho com carvão para este livro, que conta a história de um miúdo prestes a fazer seis anos e que está convencido de que a sua família lhe vai revelar que é feiticeiro, por isso assinala no calendário os dias que faltam para o seu aniversário. “Adorei a experiência com carvão e quero repetir. O ambiente era propício ao uso desta técnica”, diz o ilustrador. Terá oportunidade de o fazer, pois um segundo texto sobre o rapaz do 4.º esquerdo já está nas mãos da editora Poets and Dragons.

Fábio, de cinco anos, vê muitas coisas no recorte escolhido. “Pistola, telhado, crocodilo, cadeira, estrada, boca de dinossauro”, enumera, enquanto aponta cada desenho executado. Depois, diz: “Já gastei as ideias.”

Será ele que perguntará mais adiante, perante outra folha e novo recorte: “Como é que sabemos que acabámos um desenho?” Carlo Giovani responde: “Ele acaba, por exemplo, quando nos cansamos dele. Mas noutro dia podemos voltar e continuar.”

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Fábio, cinco anos: “Já gastei as ideias” DR

Uma das irmãs de Fábio, Marta (dez anos), revela-se mais calma e, muito concentrada, vai criando um dinossauro. “Eu estou a desenhar uma pessoa como uma pessoa”, diz Gonçalo (dez anos). Parece um auto-retrato, mas ele afirma convictamente que não é.

Das mãos de Nádia (nove anos) nasce “um crocodilo que comeu uma tartaruga e duas borboletas”. Dir-se-ia um desenho raio-X. Enquanto Maria (oito anos) explora “a letra F”, Fábio já preencheu três folhas. Quer mais. O ilustrador dá-lhe outra, maior, e incita-o a pô-la no chão e a escolher novo recorte.

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Das mãos de Nádia (nove anos) nasce “um crocodilo que comeu uma tartaruga e duas borboletas”. Um desenho raio-X DR

O menino ajoelha-se e, de imediato, aparece... “um queijo, duas peças de dominó, um dado e um túnel”. Queremos saber onde este vai dar. “A Itália!”, grita divertido. “Deve ter saudades”, conclui alguém que acompanha a mãe do rapaz. “Sou italiana”, diz sorridente a mãe de Fábio, num português claro, sem qualquer sotaque.

Carlo Giovani conclui assim a descrição desta actividade com as crianças: “É, afinal, uma oficina sobre pensamento divergente, tão pouco estimulado apesar de muito falado. E não, não é uma oficina para ‘libertar a criatividade’ ou ‘deixar fluir’ ou onde ‘vale tudo’. Estas ideias, junto com a ideia do ‘dom’, na verdade só atrapalham, e muito, a compreensão do processo criativo e são-nos introduzidas desde muito cedo, infelizmente.”

O tempo passou depressa e é altura de dar os trabalhos por terminados. As crianças, orgulhosas, enrolam os desenhos que fizeram e limpam as mãos negras com a ajuda de toalhitas perfumadas. “Afinal, isto sai num instante”, ouve-se na voz de uma menina. “Foi tão bom, mãe”, diz-lhe durante um abraço.

Não se ficou a saber se o rapaz do 4.º esquerdo é ou não feiticeiro, mas a magia andou por ali.

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