Turma do Curupira salva Amazónia
O guardião da floresta e os seus amigos dão uma lição aos lenhadores que ali abrem grandes clareiras com “caranguejos mecânicos”.
Curupira, segundo o dicionário da Porto Editora, “é uma figura do folclore brasileiro, guardião da floresta, que tem como característica distintiva o facto de ter os pés virados para trás”. Exactamente como a personagem criada por Sandra Pinheiro e José Costa Pina, um casal que vivia no Rio de Janeiro quando o seu filho nasceu.
“Quisemos criar um herói ecológico e defensor da natureza e dos animais. O nosso filho, Raphael, que andava na creche, bem como os seus amiguinhos, só conhecia heróis americanos (Batman, Super-Homem, Homem-Aranha)”, contam ao PÚBLICO por email.
Pensaram então que o menino “precisava de um herói mais moderno e actual, com valores ambientais e de protecção da vida, da natureza e do meio ambiente, que é vital para todos podermos viver harmoniosamente no nosso planeta, sem poluição”.
E nasceu o Curupira, que se rodeou de amigos para o ajudarem na importante missão de salvar a Amazónia. Tufão (um ser mágico, feito de nuvens e vento, que se transforma no que o Curupira quer), Juca (jacaré especialista em artes marciais que “põe todo o mundo pra correr com o seu famoso ‘golpe de cauda’”), Cinho (uma onça-pintada muito valente e ágil, sempre em alerta e pronta para defender a natureza), Tatá (uma anta bailarina que espalha sementes pela floresta para nascerem novas árvores) e Bananão (um macaquinho brincalhão e valente que “atira cascas de banana e faz mil e uma travessuras para assustar quem quer que seja” que ponha a floresta em perigo).
Nesta história, os lenhadores capturados pela Turma do Curupira tentam fugir ao compromisso de reflorestarem os campos, pelo que serão alvo da magia do grupo. A sua transformação deixará todos felizes, mas ainda vai demorar para que tudo volte a florescer.
Os autores explicam assim a sua forma de trabalhar em conjunto: “O facto de sermos um casal facilita este processo. Os textos iniciais são desenvolvidos e aprimorados pela Sandra. As ilustrações são desenvolvidas pelo José, primeiro em rascunhos a lápis de cor e depois passadas ao digital no Procreate, um programa de desenho no iPad. De qualquer modo, ambos damos sugestões para melhorar textos e desenhos.”
Como em qualquer projecto partilhado, as ideias aparecem e vão sendo discutidas, “algumas ficam, outras vão sendo eliminadas, mas é importante falar de todas elas, porque umas puxam as outras”, descrevem. E acrescentam: “Muitas vezes, são as mais malucas, divertidas e improváveis que trazem outras interessantes e que podem ser aproveitadas. É muito importante que o processo criativo seja divertido e só depois é que fazemos uma triagem do que pode ou não ser usado na história final.”
Sardinha Amália há-de juntar-se à turma
Sandra Pinheiro é natural de Torres Vedras, licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas (no ramo de Formação Educacional), tem pós-graduação em Psicologia Positiva e é professora de Português.
José Costa Pina nasceu em Lisboa e é arquitecto, formado no Rio de Janeiro, onde viveu de 1976 a 1990. Durante a faculdade, participou no Projecto Rondon, trabalhando no Nordeste e na Amazónia. Foi nessa altura que conheceu “o Curupira, personagem marcante do folclore brasileiro”. Anos mais tarde, voltou a viver no Brasil (de 2008 a 2017) e começou a escrever e ilustrar histórias sobre temas ambientais à volta desta personagem.
A Turma do Curupira não se resume à edição de livros, sendo um projecto educativo que pretende “sensibilizar as famílias para a importância de respeitar, valorizar e cuidar da natureza, através de histórias, músicas e actividades lúdicas”, disponíveis num site. Também visitam escolas.
Num novo livro da colecção, há-de juntar-se a estes heróis brasileiros a sardinha Amália, que se irá aventurar pelo Atlântico para pedir ajuda ao Curupira. Objectivo: “Ajudar os animais portugueses ameaçados de extinção: o cavalo garrano, o lobo, o lince e a águia ibéricos.” A natureza agradece. Nós também.