Kiev diz que a Rússia disparou um míssil intercontinental contra a Ucrânia
Força Aérea ucraniana acusa Moscovo de ter lançado um míssil ICBM pela primeira vez desde o início da guerra, da região de Astracã, contra “infra-estruturas críticas” de Dniepropetrovsk.
A Força Aérea da Ucrânia acusou nesta quinta-feira a Federação Russa de ter disparado um míssil balístico intercontinental (ICBM), a partir da região de Astracã, perto do mar Cáspio, contra “empresas e infra-estruturas críticas na cidade de Dniepropetrovsk, no centro-leste” da Ucrânia.
As autoridades militares ucranianas não revelaram detalhes sobre eventuais mortos e feridos, ou mesmo de danos materiais, mas acrescentaram que, no mesmo ataque, conseguiram interceptar seis mísseis de cruzeiro Kh-101.
Um “responsável ocidental” disse, ainda assim, à ABC News, que o ataque em causa não parece ter incluído um míssil intercontinental. Mas não revelou mais pormenores.
Da parte da Rússia não houve confirmação ou refutação da acusação ucraniana. O Ministério da Defesa russo informou apenas que interceptou dois mísseis de longo alcance Storm Shadow, de fabrico britânico, que, segundo fontes militares ouvidas pelo Guardian e pela Bloomberg, começaram a ser usados pelas forças ucranianas na quarta-feira para ataques dentro do território da Federação Russa.
A confirmar-se a denúncia da Força Aérea ucraniana, seria a primeira vez que as Forças Armadas russas recorriam a um projéctil balístico intercontinental, uma arma com capacidade para transportar ogivas nucleares, desde o início da invasão do território ucraniano, em Fevereiro de 2022.
A Rússia levou a cabo vários ensaios com mísseis ICMB nos últimos anos, incluindo com o RS-28 Sarmat – a que a NATO chama “Satan 2” –, um míssil com um alcance máximo de 18 mil quilómetros e que pode transportar até 16 ogivas nucleares. Vladimir Putin, Presidente russo, chegou a descrevê-lo como “invencível”.
O jornal ucraniano online Ukrainska Pravda cita, no entanto, fontes militares que falaram sob anonimato que acreditam que o míssil disparado pela Rússia é o RS-26 Rubej, com capacidade para percorrer cerca de 5800 quilómetros.
Na sequência das autorizações dos Estados Unidos e do Reino Unido para que as Forças Armadas ucranianas usem mísseis de longo alcance ATACMS e Storm Shadow, respectivamente, para atingir alvos militares dentro do território russo, o Kremlin acusou a NATO de “envolvimento directo” na guerra e prometeu uma resposta “apropriada e palpável”.
Enquanto se tenta perceber se o alegado disparo de um míssil intercontinental pela Rússia pode ser essa retaliação, teme-se uma enorme escalada do conflito.
Esta quinta-feira, por exemplo, o ministro da Defesa da Hungria, Kristof Szalay-Bobrovniczky, anunciou a instalação de um sistema de defesa antiaérea junto à fronteira com a Ucrânia. No mesmo dia, o Governo russo disse que a nova base militar dos EUA na Polónia, inaugurada no passado dia 13, “é mais um passo extremamente provocador numa série de acções profundamente desestabilizadoras por parte dos norte-americanos e dos seus aliados da NATO”.
Numa conferência de imprensa, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, afirmou, por isso, que, “dada a natureza do nível de ameaça das instalações militares ocidentais, a base de defesa antimísseis de Redzikowo, na Polónia, há muito que foi incluída na lista de alvos prioritários” da Federação Russa “para possível destruição”.
Para além da promessa de retaliação, a Rússia actualizou na terça-feira a sua doutrina nuclear, especificando que ataques “convencionais” de “Estados não nucleares” com o apoio de “Estados nucleares”, recorrendo a aviões de guerra, mísseis de cruzeiro ou veículos não tripulados são considerados como um “ataque conjunto à Federação Russa” que torna “possível uma resposta nuclear”.