Australiana morreu de doença gastrointestinal aguda. Agora, família culpa o Ozempic

A mulher estava a tomar o medicamento com intenção de perder peso, relatou o marido, que quer que seja aberta uma investigação.

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Canetas para o medicamento para a diabetes Ozempic numa linha de produção para serem embaladas nas instalações do fabricante dinamarquês de medicamentos Novo Nordisk Reuters/TOM LITTLE
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A australiana Trish Webster pretendia perder alguns quilos até ao casamento da filha, de forma a caber no vestido que, na sua óptica, era o ideal para o papel de mãe da noiva. Entre dietas e exercício físico, viu um anúncio na televisão ao Ozempic, o nome comercial de semaglutido, um medicamento injectável para tratar a diabetes tipo 2, o qual também é associado à perda de peso, e conseguiu uma receita com o seu médico. Mas, cinco meses depois, e após ter perdido 16 quilos, a mulher morreu. Na certidão de óbito, a causa apontada é doença gastrointestinal aguda. Trish Webster tinha 56 anos.

O caso foi, agora, recuperado pelo programa 60 Minutes Australia, que entrevista o marido de Trish e reacende a polémica em torno da substância que tem visto a sua popularidade a aumentar entre quem quer perder peso de forma rápida.

Roy Webster aponta o dedo ao laboratório responsável pelo Ozempic, mas também pelo Saxenda, um liraglutida injectável que ajuda na gestão do peso, relatando que a mulher, além da perda de peso, sofreu, ao longo daqueles meses, de náuseas, vómitos e diarreia graves. Até que, a 16 de Janeiro, o homem apercebeu-se que “coisas castanhas” estavam a sair da boca de Trish, e instantes depois “ela não estava a respirar”. O marido aplicou manobras de reanimação cardiorrespiratória, mas sem sucesso.

Roy disse ao 60 Minutes Australia que os injectáveis que a sua mulher estava a tomar contribuíram para a sua morte súbita, manifestando-se determinado a conseguir que seja aberta uma investigação à morte de Trish. “Se eu soubesse que isso podia acontecer, ela não o teria tomado. Eu ter-me-ia assegurado de que ela não o tomaria.”

O Ozempic integra a lista dos chamados agonistas dos receptores GLP-1, fármacos usados na diabetes tipo 2 com vantagem de reduzirem o peso, e cujas vendas dispararam em todo o mundo, Portugal incluído, por causa desse “efeito secundário”. A perda de peso dá-se por promover uma redução significativa do apetite.

A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Saxenda, esclareceu, numa declaração enviada à revista People, que “os riscos conhecidos associados à utilização de Ozempic estão reflectidos na rotulagem do produto”, detalhando que “os efeitos secundários mais frequentemente notificados foram gastrointestinais, incluindo náuseas, vómitos, diarreia, dores de estômago (abdominais) e obstipação”.

O impacte do Ozempic e de medicamentos semelhantes no sistema digestivo estão actualmente a ser investigados e, em Setembro, a Food and Drug Administration, que funciona como uma espécie de Infarmed nos EUA, lançou um aviso sobre o Ozempic poder provocar a paralisação do íleo, que pode restringir o fluxo sanguíneo para os órgãos, resultando em necrose dos tecidos.

Sobre o caso de Trish Webster, o laboratório dinamarquês escusou-se a tecer considerações — “não fazemos comentários sobre casos individuais de doentes” —, atestando, porém, que “a segurança dos doentes é uma prioridade máxima” e que por isso a Novo Nordisk “leva muito a sério todas as notificações de acontecimentos adversos resultantes da utilização dos medicamentos”.

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