Covid-19: como preparar o inverno

A covid já não é uma emergência de saúde pública de interesse internacional, segundo a Organização Mundial da Saúde, mas os riscos continuam e é preciso manter medidas preventivas. Saiba quais.

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Reuters/KAMIL KRZACZYNSKI
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a covid-19 tenha causado pelo menos 20 milhões de mortos desde o seu aparecimento no final de 2019. Apesar de a OMS ter anunciado, a 5 de maio de 2023, que a covid-19 já não constituía uma emergência de saúde pública de interesse internacional, mantém a indicação para a vacinação sazonal desta doença.

A gravidade da infeção pelo SARS-CoV-2 diminui quanto mais infeções tenhamos tido, portanto, para a maioria das pessoas, esta será uma doença cada vez mais leve. Além disso, dois terços da população mundial, incluindo 89% dos profissionais de saúde e 82% dos adultos com mais de 60 anos, receberam pelo menos duas doses das vacinas covid-19.

Contudo, de acordo com dados recentes do Centro Europeu para o Controle de Doenças (ECDC), atualmente, existem ainda altos níveis de transmissão contínua de SARS-CoV-2 na União Europeia e, portanto, um alto risco associado de exposição para grupos vulneráveis à covid-19 grave.

Tal como recomendado pela OMS, devemos manter-nos vigilantes — e já que a testagem dos casos é mínima, a monitorização das águas residuais torna-se muito importante.

Existem várias medidas preventivas, já amplamente divulgadas pelas autoridades de saúde, que nunca é demais reforçar, nomeadamente: adotar a etiqueta respiratória, manter o distanciamento e utilizar máscara em locais de grande concentração de pessoas onde não seja possível o distanciamento, essencialmente a pessoas mais vulneráveis.

Os diferentes vírus respiratórios podem causar infeções leves e assintomáticas e as pessoas podem não se aperceber que estão infetadas e podem ser contagiosas. Assim, a utilização da máscara permite diminuir a transmissão de diversas infeções por vírus respiratórios.

E em relação à próxima vacina contra a covid-19, qual será a sua composição?

Os estudos de investigação mostraram que entre as pessoas que receberam três doses da vacina monovalente original (isto é, representando apenas uma variante) contra SARS-CoV-2 ancestral, apenas aquelas que também receberam a vacina bivalente (isto é, representando duas variantes) ou foram infetadas com a variante Omicron produziram anticorpos protetores contra subvariantes XBB.

Assim, a próxima vacina para o outono de 2023 é especificamente dirigida contra as mutações mais recentes do vírus da estirpe Omicron (XBB.1.5).

Atualmente, segundo dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), a variante em maior circulação no mundo será a XBB.1.16, mas a que requer maior atenção é a BA.2.86 devido ao grande número de mutações (semelhante às diferenças que existiam entre a variante Omicron e a Delta). Esta já se identificou em três países europeus — Dinamarca, Suíça e Reino Unido —, mas ainda não em Portugal, e os vários organismos mundiais estão cuidadosamente a analisar se a vacina atualizada para a próxima época será capaz de proporcionar uma boa proteção para esta nova variante.

A campanha de vacinação com esta nova vacina terá início no final do mês de setembro nos centros de saúde e farmácias comunitárias aderentes (lista aqui). Estas últimas privilegiarão as pessoas sem história anterior de reações alérgicas às vacinas anteriormente administradas ou outras situações clínicas subjacentes que exijam maior monitorização após a toma.

As recomendações da recente norma da DGS 005/2023, de 13/09/2023, sugere que os esforços de vacinação durante o outono/inverno de 2023 se devem concentrar na proteção de pessoas com mais de 60 anos e outros indivíduos vulneráveis, independentemente da idade, como os que têm comorbilidades subjacentes e os imunocomprometidos. Além destes grupos, os profissionais de saúde e as grávidas também são contemplados.

Como nas épocas anteriores, recomenda -se a vacinação simultânea contra a gripe e a covid-19. Entretanto, neste ano, surgiu uma nova vacina contra o vírus Sincicial Respiratório (RSV), muito comum, que se aconselha também a pessoas com mais de 60 anos.

Será então ideal aconselhar três vacinas neste outono? Isso poderá ser um grande desafio, quer do ponto de vista logístico, quer do ponto de vista técnico. Os dados de ensaios clínicos estão disponíveis apenas para a coadministração de vacinas contra gripe e RSV e da gripe com a da covid-19. Faltam dados sobre a coadministração da vacina do RSV com as vacinas contra a covid-19.

Agora que a campanha da vacinação está prestes a começar, devemos mantermo-nos atentos, cabendo a cada um de nós adotar as medidas preventivas nas nossas rotinas, em especial no caso de pertencermos aos chamados grupos de risco.

Não esquecer que os testes rápidos continuam eficazes e que existem medicamentos orais que reduzem o risco de doença grave independentemente do seu estado vacinal. A covid-19 pode estar a cair no esquecimento, mas ainda não desapareceu.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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