Somos o que comemos — e eles também
A presença de números elevados das bactérias “boas” por todo o corpo ajuda a impedir a “invasão” por parte de bactérias causadoras de doenças.
O Dia Internacional do Microrganismo assinalou-se neste domingo, 17 de setembro, e vale a pena refletir sobre um dos papéis mais relevantes que os microrganismos têm nas nossas vidas: o de serem intervenientes ativos na nossa saúde.
Sabemos hoje que o nosso corpo é habitado por um imenso número de microrganismos, das mais variadas espécies, incluindo bactérias e vírus, que vivem e convivem diariamente connosco de forma inteiramente pacífica. Cobrem toda a nossa pele, vivem no nosso nariz e sistema digestivo, incluindo boca e intestino. O nosso estilo de vida, aquilo que comemos, o stress a que nos sujeitamos (a nós e a eles), a toma de antibióticos e até o tipo de parto que nos trouxe ao mundo influenciam a quantidade e o tipo de microrganismos que se desenvolvem no nosso corpo ao longo de toda a nossa vida.
Mas, mais do que apenas uma relação de coabitação pacífica, falamos de uma relação de benefício mútuo: estes “micróbios” beneficiam enquanto “hóspedes” por terem um local para se estabelecerem e alimento abundante; e nós beneficiamos enquanto “hospedeiros” por vários motivos.
Em primeiro lugar, a presença destes microrganismos no nosso intestino, principalmente bactérias, ajuda a nossa digestão, fornecendo-nos as ferramentas necessárias para digerir alguns nutrientes que, de outra forma, não conseguiríamos assimilar. Por outro lado, a presença de números elevados destas bactérias “boas” por todo o corpo ajuda a impedir a “invasão” por parte de bactérias causadoras de doenças. Vários estudos científicos demonstram que um sistema digestivo “pobre” em microrganismos — quer em termos de quantidade como de variedade — está frequentemente associado a doenças, incluindo a diabetes tipo 2.
A comunidade médica e científica tem vindo a desenvolver esforços para melhorar a comunidade microbiana — a microbiota — de cada um de nós, no sentido de nos tornarmos mais saudáveis. É um esforço considerável, tendo em conta que, tal como cada um de nós, cada microbiota é única e, por isso, não existe uma solução única capaz de resolver os problemas de todos.
Neste contexto, o consumo de probióticos (microrganismos que, quando ingeridos vivos, vão estabelecer-se no nosso organismo e promover a nossa saúde) tornou-se uma tendência, integrando cada vez mais a rotina alimentar de todos. O consumo de probióticos começou já há milhares de anos, de forma inconsciente, através do consumo de alimentos fermentados, ou seja, produtos como o queijo e outros leites fermentados.
Com o desenvolvimento das tecnologias alimentares, foi possível compreender o papel benéfico que os microrganismos “produtores” destes alimentos têm também para a nossa saúde digestiva e consequente bem-estar geral. Hoje, procuramos novos microrganismos probióticos e novas formas de os administrar, em suplementos ou alimentos funcionais cada vez mais atrativos.
Assim, ainda em jeito de comemoração do Dia Internacional do Microrganismo, não nos esqueçamos de celebrar estes pequenos amigos que, todos os dias, tanto contribuem para a nossa saúde e bem-estar.
As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990