“Não há nada como envelhecer em casa.” Nasceu um projecto que quer dar vida à velhice

A Hug distingue-se pelo apoio domiciliário totalmente personalizável, com uma aposta no “estimulo intelectual”. Têm ainda um programa de envelhecimento activo e de voluntariado.

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“Foi-nos imposto pela sociedade que o símbolo de uma pessoa com mais de 65 anos é uma bengala ou uma corcunda. Vai ter de mudar.” DR
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Quem entra na Hug, na Rua Correia Teles, no coração do Campo de Ourique, em Lisboa, fica na dúvida se estará no local certo. Não é a loja de ortopedia e geriatria ou de apoio a idosos de que se está normalmente à espera. O ambiente hospitalar deu lugar a uma casa com divisões. É o conceito do novo projecto de apoio ao envelhecimento, defensor de que não há lugar melhor do que a nossa casa para os últimos dias.

A ideia para o projecto, lançado nesta semana, surgiu depois de um “confronto” pessoal com a realidade de o que é envelhecer e da forma como a sociedade encara esta fase da vida, conta a empresária Rita Corrêa Mendes ao PÚBLICO. “Ensinaram-nos a nem olhar para o envelhecimento. É um tabu, tal como a morte”, lamenta, defendendo que “se a vida for bem vivida”, estamos também preparamos para envelhecer melhor. E insiste: “Foi-nos imposto pela sociedade que o símbolo de uma pessoa com mais de 65 anos é uma bengala ou uma corcunda. Vai ter de mudar.”

Mas como ainda não mudou (para já), a Hug propõe-se a ajudar desde o início do processo do envelhecimento. “O que queremos é criar uma estrutura que apoie todas as fases, que são muito heterogéneas”, explica. E como defendem que “não há nada como envelhecer em nossa casa”, o foco, para já, está na questão mais premente: o apoio domiciliário, um tópico onde acreditam ser precisas “grandes transformações”.

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Rita Corrêa Mendes DR

Tudo começa quando as famílias, assoberbadas com a falta de tempo ou sem saberem como cuidar dos mais velhos, abordam a empresa à procura de apoio. “É feito um diagnóstico, como um raio-X para identificar aquilo que a pessoa tem, o que sente, quem é e quem foi. Nunca podemos descurar o passado ou o que está a precisar agora para viver os anos que lhe faltam de forma leve”, declara.

Concluída essa primeira fase, “o apoio domiciliário é totalmente desenhado à medida do cliente”, podendo dividir-se entre regime interno, parcial ou até só auxílio nas higienes, por exemplo. “Cuidar de alguém é uma das maiores formas de amor e cuidar de alguém que não conhecemos também — é preciso um altruísmo gigante”, defende, lembrando que não se trata apenas de garantir a “logística”, mas também de cuidar emocionalmente.

É por isso que um dos grandes elementos diferenciadores do projecto é o estímulo intelectual, salienta Rita Corrêa Mendes. “Vamos ter uma parceria com uma universidade para juntar esta parte do conhecimento e também unir as gerações mais jovens aos idosos”, avança. “Se conseguirmos proporcionar, num mês, cinco minutos em que a pessoa tenha um sentimento profundo de realização, alegria ou gratidão, estamos a cumprir a nossa missão.”

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E, claro, isso também só se faz com uma equipa com competências específicas — outra das apostas da Hug, com 140 cuidadores ao serviço, formados e apoiados pela empresa, que comprou outro negócio de apoio domiciliário. “Os cuidadores também têm de estar realizados e felizes, porque estão a lidar com situações complexas. Temos de dar um apoio enorme”, afirma, lembrando que têm “um gestor de sonhos”, que se preocupa com o “bem-estar físico e emocional dos cuidadores”.

Têm, ainda, um programa de formação contínua para os cuidadores, a pensar na especialização que permite uma correspondência mais adequada entre aquele cuidador e a casa ideal para trabalhar. “Em casa, há uma personalização de atendimento total, que numa residência ou lar não é possível. Todos comem à mesma hora, jogam cartas ou vão ao jardim”, observa.

Voluntariado e envelhecimento activo

É o cuidador que assegura o bem-estar do idoso, mas não está sozinho. Além da equipa de estímulo mental, há outros serviços complementares para as cerca de 70 pessoas apoiadas, como nutricionistas, fisioterapeutas ou psicólogos. Claro que tudo isto tem um custo associado, ainda que Rita Correa Mendes não adiante um valor médio, por ser tudo “personalizável”.

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Mas a Hug não quis fechar os olhos aos idosos sem capacidade de suportar esse apoio e desenvolveu o projecto de voluntariado, fazendo a ligação entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda. Além disso, também investiram na formação no local. Ou seja, idosos sem capacidade financeira são apoiados por cuidadores em formação.

Para os que ainda não precisam de apoio domiciliário, a aposta está no envelhecimento activo e saudável, um dos propósitos do Clube Hug, que promove actividades gratuitas. Todos os meses, há uma agenda aberta ao público nas lojas da empresa — para já em Alvalade e Campo de Ourique, em Lisboa, mas o objectivo é que o projecto se estenda ao resto do país em breve —, que inclui tertúlias de literacia para o envelhecimento.

“Agora, de repente, o envelhecimento não virou uma bolha cor-de-rosa em que tudo é espectacular. Mas queremos olhá-lo de forma activa e positiva”, conclui Rita Corrêa Mendes.

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