Lula diz que BRICS não querem rivalizar com o G7, “o grupo dos ricos”

Há uma expectativa elevada de que a cimeira dos BRICS de Joanesburgo, que começou esta terça-feira, possa abrir caminho para a entrada de novos membros.

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Lula suavizou a posição brasileira em relação a futuras adesões aos BRICS EPA/KIM LUDBROOK
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A cimeira anual dos BRICS (acrónimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) começou esta terça-feira com o reforço dos planos de expansão do bloco que junta economias emergentes, mas com a garantia, pela voz do Presidente brasileiro, Lula da Silva, de que o objectivo do grupo não é rivalizar com o G7.

Com a presença dos chefes de Estado e de Governo dos seus membros, com a excepção do Presidente russo, Vladimir Putin, a cimeira dos BRICS arrancou esta terça-feira em Joanesburgo rodeada de grande expectativa. A principal interrogação é acerca da possibilidade de haver novas adesões ao grupo criado há 16 anos – apenas a África do Sul se juntou aos quatro fundadores em 2010.

Há mais de vinte países que formalizaram pedidos de adesão ao grupo, entre os quais estão a Argentina, Arábia Saudita, Irão, Cuba, Nigéria ou Indonésia. Em Joanesburgo vão estar presentes os Presidentes da Indonésia, Joko Widodo, e do Irão, Ebrahim Raisi. Com a continuação da guerra na Ucrânia, em simultâneo com um processo de crescente rivalidade entre a China e os EUA, a cimeira dos BRICS tem sido vista como um teste decisivo sobre o papel geopolítico que as economias do chamado “Sul global” podem vir a ter no futuro.

Um dos objectivos dos líderes dos BRICS reunidos em Joanesburgo é o de tentar superar a imagem de falta de coesão e harmonia entre países de perfil muito diferente e com prioridades por vezes pouco coincidentes. Uma das divergências é a escala e o ritmo da expansão da organização.

A China tem sido uma das principais promotoras da adesão de novos países ao grupo, como forma de aumentar o peso económico e político dos BRICS, num contexto de crescente antagonismo em relação aos EUA e aos seus aliados. No entanto, a entrada de novos membros é um tema que não reúne consenso, sobretudo porque Brasil e Índia se mostram reticentes.

O Presidente chinês, Xi Jinping, chegou na véspera do início dos trabalhos para um encontro bilateral com o homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa. “Estou confiante de que a próxima cimeira será um marco importante no desenvolvimento do mecanismo dos BRICS”, afirmou Xi.

Ramaphosa sublinhou que os dois países partilham “visões semelhantes” sobre a expansão do bloco. “Partilhamos a sua visão, Presidente Xi, de que os BRICS são um fórum crucial que tem um papel importante na reforma da governação a nível global e na promoção do multilateralismo e da cooperação em todo o mundo”, afirmou o Presidente sul-africano, citado pela Reuters.

Lula da Silva, através de um vídeo nas redes sociais, orientou o seu discurso para afastar o cenário de rivalidade entre as potências emergentes e os países mais ricos da Europa e da América do Norte. "A gente não quer ser contraponto ao G7 ou ao G20, nem aos Estados Unidos. A gente quer se organizar”, afirmou o Presidente brasileiro.

Apesar de ter mostrado alguma resistência à adesão de novos membros, Lula disse que os BRICS “não devem ser um clube fechado”, dando o G7 como exemplo de um “clube fechado” e “dos ricos”.

Nada de concreto se sabe acerca do que pode ser alcançado na cimeira de Joanesburgo, mas a convicção geral é a de que serão dados importantes para a reafirmação da posição política e económica do “Sul global”. O embaixador chinês na África do Sul, Chen Xiaodong, disse que “a expansão dos BRICS se tornou no tópico principal”. “Acredito que a cimeira deste ano irá ser testemunha de um passo novo e sólido neste tema”, afirmou, citado pela Associated Press.

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