“Sentia-se uma alegria especial.” Houve música e dança entre peregrinos, mas também descanso
O despertar foi cedo, com um céu alaranjado e o padre-DJ Guilherme a dar música aos peregrinos. Uns dormiram depois de um dia longo, mas muitos aproveitaram para conversar e dançar entre peregrinos.
Ainda não eram 7h da manhã quando as batidas techno do padre Guilherme Peixoto, que também é DJ e uma "estrela" do TikTok, acordavam e animavam os milhares de jovens peregrinos que fizeram dos cem hectares do Parque Tejo casa e cama por uma noite. Uns ritmos de Jerusalema ali, umas pinceladas de Xutos & Pontapés acolá.
Há olhares ensonados, outros mais despertos. Afinal, a noite foi de cânticos, danças, de festa para uns; de oração e sono profundo para outros que conseguiram ignorar toda a confusão.
A música durou até perto da meia-noite. Depois disso, Guilherme Coelho e os amigos jogaram às cartas. “Depois fomos dormir, mas havia pessoas que estavam a divertir-se muito bem”, diz o jovem de 18 anos, que está com um grupo de cerca de 150 dos Salesianos do Estoril. Foram também voluntários paroquiais nesta Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que descrevem como uma “grande experiência de estar com Cristo”.
“É muito especial por serem muitas pessoas, de muitas partes do mundo. Ver o Papa falar de perto”, diz Guilherme. “Estavam todos felizes e sentia-se uma alegria especial”, completa o amigo Tomás Carrapatoso, de 20 anos.
Por agora, aguardam a chegada do Papa Francisco que na manhã deste domingo celebra a missa do envio, o último grande acto com os peregrinos desta JMJ.
Dos altifalantes, ouvem-se pedidos da organização. “Pedimos que desmontem todas as tendas e desimpeçam os corredores entre sectores.” Francisco faz questão de passar por todos eles. E os jovens depressa se levantam para guardar um lugar.
Também Paulina Bianciotti, de 19 anos, já guarda o seu lugar. A noite foi “entretida”, diz a argentina. Uma experiência “incrível”, à qual até o frio que esperava junto ao rio deu tréguas. “Eu estava preparada para muito frio e a verdade é que não tive nenhum.”
No seu grupo estão 25 voluntárias do movimento internacional católica, que surgiu na Alemanha em 1914, por altura da Primeira Guerra. Preferiram ficar no seu sector porque havia confusão nos corredores, muita gente a movimentar-se. Tinham chegado ao Parque Tejo pela 13h de sábado, por isso preferiram uma noite mais calma. “Descansámos, fizemos um pouco de conversa. Jogámos às cartas. Foi lindo.”
Música em colunas e sonos descansados
Os peregrinos vão arrumando as tendas, enrolando os sacos-cama, mantas e colchões. Uns ainda estão de pijama, outros aproveitam mesmo até à última para acordar. Tomam o pequeno-almoço, um bagel com queijo e fiambre, e um pacote de sumo. Lavam os dentes, ali mesmo no meio da confusão. As filas para a casa de banho estão demasiado longas.
Para Miquela Maig, a noite poderia ter sido mais descansada. “O nosso sector já estava cheio quando chegámos e a organização não nos arranjou outro lugar para nós”, conta a italiana de 32 anos. A solução era sair do recinto, ou pôr os sacos-cama nos corredores entre sectores, fora da relva e em cima de pequenas pedras. Então nós ficamos aqui, mas a organização não quer que ficamos aqui.
A solução para esta monitora de um grupo de cerca de 50 peregrinos de perto de Roma, de um grupo neocatecumenal, foi aproveitar também ela a noite. “Andámos a dançar em grupos onde havia música”, partilha a italiana, que dormiu apenas três horas.
É a segunda JMJ em que participa. A primeira foi em Colónia, na Alemanha. A experiência, diz, é sempre arrebatadora. “É muito lindo estarmos todos aqui a escolher Deus e Jesus Cristo. E ver que em 2023 há muitos jovens que vêm aqui por Deus. Eu tenho muitos amigos que não acreditam, por isso ver muitos jovens é muito lindo.”
Houve grupos com guitarras a tocar e a cantar, outros a tentarem chegar junto de amigos. Mas nada que tenha impedido Aurora Sapena de dormir “bastante”. “Havia música em colunas, mas estava tão cansada que dormi”, diz a jovem espanhola de 16 anos, de um grupo que pertence à Obra San Juan de Ávila.
São de toda Espanha, entre 200 e 300. Chegaram apenas no sábado para a vigília e partem este domingo para Fátima. Será certamente uma noite que tão cedo não lhes sairá da memória. “Gostei muito porque vemos gente de todo o mundo, com culturas diferentes, idiomas diferentes, bandeiras diferentes, mas todos vivem a mesma fé”, frisa Elisa Ramirez, de 22 anos, do mesmo grupo de Aurora. “Somos de lugares tão longe, mas temos uma união, acreditamos no mesmo.”