“Não tenham medo”, pediu o Papa aos jovens na homilia final da JMJ

Seul, na Coreia do Sul, vai acolher a próxima JMJ em 2027. No final desta, Papa disse que “escutar e ouvir” é a mensagem que os jovens devem levar no regresso à vida quotidiana.

Papa Francisco em Portugal. Uma semana de JMJ em quatro minutos RTP, Joana Gonçalves
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“Que levamos connosco quando regressarmos ao vale da vida quotidiana?”, perguntou o Papa Francisco, durante a homilia da sua missa de despedida, que decorreu no Parque Tejo, entre Lisboa e Loures, antecedendo o derradeiro encontro com os voluntários da JMJ 2023, às 16h30, no Passeio Marítmo de Algés. E a resposta, dada pelo próprio foi: “Resplandecer, ouvir, não temer.”

Muito antes de anunciar que Seul, na Coreia do Sul, foi a cidade escolhida para acolher a JMJ de 2027, e a propósito do primeiro verbo — resplandecer —, Francisco garantiu que o Evangelho detém a luz necessária à vida de cada um. “Precisamos de alguns lampejos de luz para enfrentar a escuridão da noite, os desafios da vida, os medos que nos inquietam, a escuridão que muitas vezes vemos ao nosso redor”, proclamou o argentino, para avisar que ninguém se torna luminoso por se colocar a si próprio em destaque: “Não nos tornamos luminosos quando nos colocamos sob os holofotes, quando exibimos uma imagem perfeita e nos sentimos fortes e bem-sucedidos.”

Na sua última intervenção pública antes de regressar a Roma, ao fim de cinco dias em solo português, o líder da Igreja Católica citou o filósofo Kierkegaard para recordar que a necessidade de amar o próximo se impõe sempre. “Amar o próximo como é: não apenas quando está em sintonia connosco, mas também quando nos é antipático e apresenta aspectos de que não gostamos”, convidou, assegurando que “com a luz de Jesus” é possível “amar assim e derrubar certos muros, certos preconceitos, levando ao mundo a luz do amor que salva”.

Quanto ao segundo verbo — ouvir —, o Papa sublinhou a importância de ouvir a palavra de Deus e dos outros. “É isto que precisamos na vida: não é fama, sucesso, dinheiro, mas saber que não estamos sozinhos”, recordou, afiançando que quem se põe à escuta torna-se mais capaz. “Como é bom escutar Jesus, escutarmo-nos mutuamente e crescermos no diálogo, um mundo onde tantos viajam fechados na própria solidão e pensando em si mesmos”, disse.

"Tenham cuidado com os egoísmos disfarçados de amor", alertou ainda, considerando que por isso também é preciso saber escutar.

Aos primeiros dois verbos, Francisco somou a necessidade de os jovens não deixarem que o medo os paralise. “A vós, jovens, que cultivais sonhos grandes mas frequentemente ofuscados pelo medo de não os ver realizados; a vós, jovens, que às vezes pensais que não ides conseguir, a vós, jovens, tentados neste tempo a desanimar, a julgar-vos inadequados ou a esconder a vossa dor disfarçando-a com um sorriso; a vós, jovens, que quereis mudar o mundo e lutais pela justiça e a paz; a vós, jovens, que investis o melhor do vosso esforço e imaginação ficando porém com a sensação de que não bastam”, introduziu, para aconselhar: “Não tenham medo.”

“Fechai os olhos e repeti: ‘Não tenhas medo’”, insistiu o Papa, para a seguir, recuperando algumas palavras do seu antecessor, João Paulo II, que foi quem na primeira metade da década de 1980 criou a JMJ, sublinhar a necessidade de cada um “depor as máscaras que tornam a vida falsa”.

Antes, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente disse acreditar que a JMJ 2023 “será lembrada como um momento decisivo para uma geração que construirá um mundo mais belo e fraterno”. Referindo-se ao Papa como “o mais jovem dos jovens” presentes na missa e no Parque Tejo, o cardeal destacou também as “iniciativas incansáveis” de Francisco durante a sua visita de cinco dias a Portugal — a mais longa visita papal de sempre.

Quando Francisco voltou a falar foi para dizer “obrigado”, num agradecimento extensível ao cardeal-patriarca, mas também a Marcelo Rebelo de Sousa, bem como à cidade de Lisboa que ficará “na memória destes jovens como casa da fraternidade e cidade de sonhos”. “Obrigado”, repetiu, referindo-se também aos voluntários da JMJ.

Aos jovens, o Papa aconselhou-os a “fixar na mente os momentos mais belos da jornada”, de modo a que os possam recuperar “quando vier algum inevitável momento de cansaço e desânimo e, quem sabe, a tentação de parar no caminho”.

Na despedida, Francisco referiu-se aos que não puderam estar presentes “por causa de conflitos e guerras”. “E são tantos por esse mundo fora. Pensando neste continente, sinto grande tristeza pela queria Ucrânia, que continua a sofrer muito”, confidenciou, antes de partilhar com os presentes o que disse ser o seu “sonho da paz”.

“Vóis sois um sinal de paz para o mundo, um testemunho de como as nacionalidades, as línguas e as histórias podem unir em vez de dividir. Sois a esperança dum mundo diferente. Obrigado por isso. Avante!”, despediu-se, para anunciar de seguida que Seul, na Coreia do Sul, foi a cidade escolhida para receber a próxima JMJ, em 2027.

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