Todos contam na deteção precoce do cancro do pulmão

A 1 de agosto celebra-se o dia mundial do cancro do pulmão, chamando a atenção para uma patologia muito comum e tantas vezes com mau prognóstico.

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"É absolutamente fundamental que os grupos reconhecidos de risco sejam incentivados a realizar uma avaliação precoce" Manuel Roberto/Arquivo
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Em Portugal o cancro do pulmão representa 10% dos novos casos por cancro e 26% das mortes. Mata mais pessoas do que todos os outros tumores comuns combinados (mama, próstata e colorretal). O grande enfoque continua a estar nos hábitos tabágicos com responsabilidade na grande maioria desses tumores, embora outros fatores também estejam na sua génese como o radão (um gás radioativo de origem natural) e o amianto.

O fator de prognóstico mais importante para além do estado geral do doente é o estadio (fase de desenvolvimento da doença) na altura do diagnóstico, estando o êxito do tratamento relacionado com o estadio inicial do tumor, continuando a cirurgia ainda a ser a única terapêutica potencialmente curativa. No entanto, 70% dos portugueses são diagnosticados em fases avançadas de doença reforçando a necessidade de melhorar o diagnóstico, iniciando uma referenciação tão precoce quanto possível, pois só assim poderemos mudar o paradigma do prognóstico desta doença.

Não há dúvida de que o rastreio é a estratégia mais eficiente para o controlo do cancro para além da prevenção. Graças ao desenvolvimento da tomografia computorizada de baixa dose na década de 1990, dois grandes ensaios clínicos randomizados nos EUA e na Europa, iniciados nos anos 2000, vieram comprovar que a tomografia de baixa dose pode reduzir substancialmente a mortalidade por este tipo de cancro em até 20%. Não há dúvidas que o grande paradigma da melhoria da sobrevida se deve à deteção precoce, o que permite aumentar as terapêuticas cirúrgicas, que ainda são até aos dias de hoje as potencialmente curativas

O papel de todas as estruturas de saúde na referenciação precoce é da maior importância e o médico de família (médico assistente) tem também aqui um importante papel, pelo conhecimento de todo o agregado familiar, antecedentes familiares, estilos de vida pessoais e profissionais, o que permitirá ao doente ser encaminhado o mais precocemente possível para os centros de diagnóstico e tratamento.

Ainda não existe em Portugal um rastreio de cancro de pulmão de base epidemiológica, tal como acontece noutros países. Este projeto que pode no início parecer sobrecarregar os serviços de saúde, será largamente compensado, evitando que estes doentes numa fase mais tardia da doença, tenham sofrimento, perda de qualidade de vida e custos elevados para a sociedade.

Pensamos que, a curto prazo, o rastreio possa vir a ser uma realidade em Portugal, tendo já o Ministério da Saúde anunciado a implementação de um projeto-piloto.

É absolutamente fundamental que os grupos reconhecidos de risco sejam incentivados a realizar uma avaliação precoce com a realização de TAC torácica de baixa dose de radiação (habitualmente este exame apresenta radiação correspondente a cerca de duas radiografias de tórax, o que é muito pouco, comparativamente a radiação emitida por TAC de tórax normal).

Enquanto esta situação não é uma realidade em Portugal cabe a todos os profissionais de saúde — e até ao próprio doente esclarecido — orientar o acesso em situações de risco a consultas de diagnóstico precoce.

Além da prevenção, também os doentes que apresentem sintomas devem procurar o seu médico. É importante que o intervalo de tempo entre a apresentação dos sintomas passando pelo diagnóstico até ao encaminhamento para um centro de patologia respiratória seja reduzido. Esta questão é preocupante pois os estudos efetuados, quer em Portugal quer noutros países, mostram que os tempos de espera têm atrasos mais longos na fase inicial do processo do que os observados na fase de diagnóstico e envio para centros de referência. Uma das principais razões refere-se aos sintomas que são comuns a outras patologias respiratórias na apresentação inicial.

O doente de hoje tende a ser mais proativo e a procurar o médico assistente aos primeiros sintomas ou a dirigir-se a um centro de referenciação pulmonar. Atualmente existe informação fidedigna disponível nas redes sociais e nos meios de comunicação, que podem esclarecer a pessoa e levá-la a procurar ajuda na área da prevenção se tiver fatores de risco ou na procura do diagnóstico precoce se tiver sinais e sintomas de cancro do pulmão.

A luta contra o cancro é uma responsabilidade de todos e para todos, desde a promoção da literacia sobre o tema, a mudança de estilos de vida e a implementação de ferramentas de diagnóstico precoce. O cancro do pulmão não é exceção e, na realidade, deve ser encarado com uma grande seriedade, quer pelos fumadores quer pelos não fumadores.

A referenciação precoce permite antecipar o diagnóstico num cenário em que a falta de sintomas precoces (como por exemplo a dor) explica muitas vezes o facto de este tumor ser silencioso na maioria dos doentes, sendo diagnosticados em fases avançadas da doença. Perante esta realidade, é essencial procurar um especialista pelo aparecimento de qualquer sintoma que possa ser relevante, realizar análises de rotina e, se apresentar antecedentes pessoais ou familiares, realizar outros exames aconselhados pelo seu médico. O diagnóstico precoce é essencial para maximizar as possibilidades de tratamento bem-sucedidas desta doença.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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