PAM sem dinheiro, corta na prevenção da desnutrição no Iémen
Previsão aponta para a subida da insegurança alimentar aguda até ao fim do ano no Iémen. Há cortes em 38 países por falta de doações, no meio da “maior crise alimentar e de nutrição na história”.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou que a partir do mês de Agosto vai suspender o seu programa para a prevenção da desnutrição no Iémen por falta de fundos. A agência das Nações Unidas só conseguiu angariar 28% da verba que necessitava para o seu trabalho humanitário naquele país e, por isso, irá focar-se nas iniciativas mais urgentes.
O Programa de Tratamento da Desnutrição Moderada e Aguda, essencial para 1,5 milhões de iemenitas, entre eles quase um milhão de crianças entre seis meses e dois anos, vai continuar, garante o PAM, aquilo que pára, por agora, são as “actividades para a prevenção da desnutrição”, que abrangiam 2,4 milhões de pessoas.
Do financiamento necessário para o próximo semestre, a agência da ONU obteve apenas 1050 milhões de dólares (952 milhões de euros), o que corresponde a pouco mais de um quarto das suas necessidades e teme-se que o problema possa agudizar-se, mantendo-se a actual tendência de decréscimo.
Segundo as projecções da agência, no final deste ano, o número de pessoas a sofrer de insegurança alimentar aguda poderá subir para 3,9 milhões.
Num país devastado por uma década de guerra, há 17 milhões de pessoas que vivem em estado de insegurança alimentar, sendo que 6,1 milhões estão classificadas como de emergência e 3,5 sofrem de desnutrição aguda,
De acordo com o relatório de Junho da agência, 45% dos agregados familiares do Iémen não têm comida suficiente, sendo que a situação é pior nas áreas sob controlo do governo reconhecido internacionalmente (48%) do que nas zonas controladas pelos rebeldes houthis.
Os cortes na ajuda humanitária das Nações Unidas não se cingem ao Iémen, já que as doações dos países caíram para metade, numa altura em que a fome se agudiza e atinge níveis recorde no mundo. Carl Skau, vice-director executivo do PAM, falava na sexta-feira, em conferência de imprensa, numa “crise de financiamento incapacitante”.
Afirmava Skau, citado pela Associated Press, em cortes nos planos de assistência em 38 dos 86 países em que o PAM está presente, incluindo, além do Iémen, Afeganistão, Síria e na região da África Ocidental.
Já não se está a falar de conseguir os 20 mil milhões de dólares (18,1 mil milhões de euros) que o PAM necessitava para fazer chegar a ajuda humanitária a todos os que precisam. Mesmo as expectativas frugais de entre 10 mil milhões (9,1 mil milhões de euros) a 14 mil milhões de dólares (12,7 mil milhões de euros), que tem sido o valor que a agência tem angariado nos últimos anos, não foram cumpridas.
“Ainda estamos a apontar para isso, mas, até agora, este ano só conseguimos cerca de metade disso, à volta de cinco mil milhões de dólares [4,5 mil milhões de euros]”, explicava Skau.
No meio da “maior crise alimentar e de nutrição na história”, com 345 milhões de pessoas ainda a sofrer de insegurança alimentar aguda e “centenas de milhões de pessoas em risco de a fome piorar”, a ajuda financeira “está a secar”, dizia o vice-director executivo do PAM. “Por isso, estamos a antecipar um 2024 ainda mais seco”, desabafou.
A falta de fundos obrigou o PAM a cortar as rações de 75% para 50% em comunidades afegãs que enfrentam níveis de fome considerados de emergência e, em Maio, teve mesmo de deixar de prestar auxílio alimentar a 8 milhões de pessoas, o equivalente a dois terços do total de pessoas que ajudava.
Na Síria, onde 5,5 milhões de pessoas dependentes da ajuda do PAM já estavam a receber apenas 50% das rações, a agência teve de ir ainda mais longe e, em Julho, cortou totalmente a ajuda alimentar a 2,5 milhões delas.