Pais com níveis de ansiedade e depressão comparáveis aos dos filhos adolescentes
Não é invulgar encontrar pais e filhos que sofram dos mesmos problemas de saúde mental, já que, por exemplo, a ansiedade e a depressão são doenças altamente genéticas.
O aumento dos problemas de saúde mental entre os adolescentes ao longo da última década tem sido bem documentado, mas o investigador Richard Weissbourd não acredita que esses dados contenham toda a história. De facto, os pais sofrem de ansiedade e depressão ao mesmo ritmo que os adolescentes, de acordo com uma nova investigação.
“Nesta narrativa sobre os adolescentes, cometemos muitas vezes o erro de os arrancar das suas comunidades, tratando-os como se fossem casos isolados”, referie Weissbourd, psicólogo familiar da Faculdade de Educação de Harvard e director da Making Caring Common, que conduziu a investigação. “Não podemos realmente entender o que está a acontecer com os adolescentes se não entendermos o que está a acontecer nas suas famílias.”
De acordo com duas pesquisas realizadas no final de 2022 — uma feita com adolescentes e jovens adultos, a outra com pais ou cuidadores —, 18% dos adolescentes disseram que sofriam de ansiedade, enquanto 20% das mães e 15% dos pais também sofriam. Enquanto isso, 15% dos adolescentes relataram ter depressão, em comparação com 16% das progenitoras e 10% dos pais.
Entretanto, de acordo com o estudo, mais de um terço dos adolescentes tinha pelo menos um dos pais que relatara ansiedade ou depressão, enquanto quase 40% dos adolescentes também disse que estavam “um pouco preocupados” com a saúde mental de um dos seus pais.
“Seria tão correcto evidenciar a saúde mental dos pais como a dos adolescentes”, resumem os investigadores.
Embora o estudo não responda definitivamente à razão pela qual os pais apresentam taxas tão elevadas de problemas de saúde mental, Weissbourd sugere que muitos dos mesmos factores de stress que se sabe estarem a afectar os adolescentes também afectam os pais: desequilíbrio da sociedade, tiroteios em escolas, alterações climáticas, redes sociais e solidão.
Weissbourd observa ainda que os adolescentes e os pais ansiosos podem agravar o estado de saúde uns dos outros. “Quando se está ansioso, isso pode ser destrutivo e preocupante de uma forma que o torna menos disponível emocionalmente para o seu filho adolescente e torna-o cada vez menos disponível emocionalmente para si próprio”, afirma.
É claro que não é invulgar encontrar pais e adolescentes que sofram de problemas de saúde mental semelhantes. Como refere Harold Koplewicz, presidente e director médico do Child Mind Institute, a ansiedade e a depressão são duas doenças altamente genéticas. Além disso, pais ansiosos tendem a ter hábitos nervosos. “É um ambiente em que as pessoas estão mais receosas, preocupadas e cuidadosas do que o normal”, justifica.
De acordo com Weissbourd, os dados anteriores à pandemia não permitem saber se as taxas de ansiedade e depressão dos pais estão a aumentar actualmente. Mas a pandemia é um factor de stress documentado, que se verifica em todas as idades. Esta investigação sugere que a saúde mental dos pais e dos adolescentes esteja mais interligada do que anteriormente documentado. Felizmente, isso significa que existem formas, de acordo com Weissbourd, de atenuar ou prevenir os efeitos da ansiedade e da depressão nos pais e nos filhos, o que pode ter um efeito em todo o agregado familiar.
Eis as sugestões do investigador para uma acção preventiva:
Ouvir os adolescentes
Quarenta por cento dos adolescentes referem o desejo de que os pais fizessem mais perguntas sobre as suas vidas e “ouvissem realmente” as suas respostas. Ouvir pode encorajar os adolescentes a recorrerem aos pais para obterem apoio emocional e pode ser uma indicação de uma relação estável, realça o estudo.
Orientar os pais no apoio aos adolescentes
A educação sobre os distúrbios de saúde mental é essencial para os combater. “Para proporcionar um apoio tranquilizante e eficaz, os pais precisam de orientação para gerir a sua própria ansiedade quando os seus filhos estão ansiosos ou deprimidos”, refere o estudo.
Cuidar dos progenitores
Os pais também precisam de cuidados de saúde mental. Weissbourd realça que a divulgação e normalização da saúde mental dos pais através de centros de saúde, locais de trabalho e instituições comunitárias podem beneficiar toda a família.
Orientar os pais para falarem sobre a sua própria saúde mental
De acordo com a investigação, os adolescentes com pais deprimidos têm tendência para se culparem a si próprios pelo comportamento dos progenitores. É por isso que os pais devem aprender a ser francos e honestos sobre as suas experiências quando falam com os filhos.
Ajudar os adolescentes a cultivar um sentido
Trinta e seis por cento dos adolescentes inquiridos responderam que sentiam “pouco ou nenhum objectivo ou sentido na vida”, o que tem uma forte correlação com a depressão e a ansiedade. Os pais podem ajudar a orientar os filhos para relações, actividades e comunidades que possam beneficiar o seu bem-estar mental.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Vera Sousa; edição: Bárbara Wong