Alterações climáticas agravam doenças mentais como ansiedade e depressão
Estudo feito no Bangladesh, um país vulnerável aos efeitos do aquecimento global, estima que o calor e a humidade acentuam em mais de 20% o risco de sofrer de ansiedade e depressão.
Calor extremo e humidade têm impacto sobre a saúde mental dos habitantes de um país altamente vulnerável às alterações climáticas como o Bangladesh, determinou um estudo publicado nesta segunda-feira, que conseguiu quantificar como o aumento de temperatura continuado e da humidade fazem aumentar a probabilidade de as pessoas sofrerem de transtorno de ansiedade ou depressão.
Uma equipa de investigadores descreve num artigo publicado na revista Lancet Planetary Health que durante dois meses, mediram variáveis relacionadas com o clima em 43 estações meteorológicas no Bangladesh, para obterem dados como variações nas temperaturas e na humidade do ar, e anotaram também a exposição ao risco de cheias de dois grupos de pessoas, um que vivia num meio urbano, outro num meio rural – no total, cerca de 7000 pessoas.
Dois meses não é tempo suficiente para aferir impactos das alterações climáticas, que levariam muitos anos a estudar, “mas dá uma indicação de como mesmo pequenas alterações nas condições meteorológicas relacionadas com as alterações climáticas podem influenciar a saúde mental”, diz um comunicado de imprensa da Faculdade de Medicina da Universidade de Georgetown (Washington D.C., Estados Unidos), em cujo departamento de Saúde Global trabalha Syed Shabab Wahid, o primeiro autor do artigo.
A Organização Mundial da Saúde salientou no ano passado que a crise climática afecta tanto a saúde física como a mental, num documento divulgado na Conferência nas Nações Unidas Estocolmo+50.
Com os dados meteorológicos, e os resultados dos inquéritos, feitos entre Agosto e Setembro de 2019 e Janeiro e Fevereiro de 2020 (a um total de 7000 pessoas), os cientistas chegaram a algumas conclusões relevantes.
Assim, concluíram que as pessoas durante os dois meses anteriores ao estudo viveram com uma temperatura média um grau acima dos valores normais tinha uma probabilidade 21% maior de sofrer de transtorno de ansiedade, e 24% mas possibilidades de sofrer de ansiedade e depressão ao mesmo tempo.
Notaram ainda que o aumento de um grama de humidade por metro cúbico de ar estava relacionado com uma probabilidade 6% mais elevada de sofrer de transtorno de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Não foram encontrados elos entre o nível de humidade e a ocorrência de depressão.
Risco de cheias
A exposição ao risco de cheias por factores que têm a ver com as alterações climáticas foi também relacionada com um aumento da probabilidade de sofrer de todos os problemas de saúde mental que foram estudados: 31% de depressão, 69% de ansiedade e 87% da presença de ambos os problemas ao mesmo tempo.
A prevalência da depressão na população do Bangladesh é de 16,3%, o que os investigadores dizem ser bastante elevado, comparando com as estimativas globais de 4,4% da população mundial sofrer desta doença, segundo outros estudos. O transtorno de ansiedade afecta 6% da população daquele país, quando a estimativa é que seja um problema que afecta 3,6% da população a nível global.
“Outra investigação feita anteriormente já tinha encontrado uma relação entre fenómenos relacionados com o clima e problemas de saúde mental, depressão e ansiedade”, sublinhou Syed Shabab Wahid, citado no comunicado da Universidade de Georgetown. “Mas nós estabelecemos um marcador sobre como o clima pode ter impacto na saúde mental num país vulnerável. Poderá servir como um alerta para outros países”, comentou.
À medida que as alterações climáticas se agravam, a temperatura e a humidade vai continuar a aumentar em países como o Bangladesh, e os desastres naturais, como cheias, também vão aumentar. “Isto prenuncia um impacto agravado na nossa saúde mental colectiva, em termos globais”, sublinhou Syed Shabab Wahid.