João Baptista, o santo brincalhão
Apesar de João Baptista ser o mais popular, não é ele o padroeiro do Porto. A honra cabe a Nossa Senhora de Vandoma, ou Nossa Senhora do Porto, que se celebra a 11 de Outubro.
O dia 24 de Junho veste-se de festa todos os anos na cidade do Porto para celebrar o nascimento de São João. Além da comemoração religiosa, o feriado coincide com o solstício de Verão, antigamente celebrado para solenizar a natureza e as colheitas.
Numa conversa telefónica com o PÚBLICO, o padre Almiro Mendes sublinha que “a igreja sempre celebrou o bom, o nobre e o belo ao longo da sua História, e quem interpreta isto da melhor maneira são os santos.”
S. João Baptista — ou apenas S. João — nasceu em Jerusalém, filho de Isabel e Zacarias. A gravidez, dizem as escrituras, terá sido anunciada pelo anjo Gabriel, numa altura em que a mulher, prima de Maria, já não se encontrava em idade fértil. O mesmo anjo terá visitado Maria, alguns meses depois, a comunicar a vinda do Messias, por intervenção do Espírito Santo. Jesus, que foi baptizado pelo primo nas águas do rio Jordão, reconheceu João como o maior dos profetas terrenos.
O santo que se celebra neste sábado terá sido um homem austero, de alimentação fraca e desprendido, apregoando as virtudes morais. De acordo com os evangelhos sinópticos, Herodes Antipas, filho do rei Herodes e governador da Judeia, mandou prender João por este o ter admoestado por se divorciar da sua mulher e tomar como sua amante Herodias, cônjuge de um dos seus irmãos. João teria cerca de 30 anos quando foi executado e decapitado.
Mas, embora a Invicta festeje o S. João, o santo não é o padroeiro da cidade. A honra cabe a Nossa Senhora de Vandoma, sendo que, nos antigos brasões, lê-se “civitas virginis”, ou seja, a cidade da Virgem, numa referência à padroeira. Só que o primo de Jesus de Nazaré acabaria por ser adoptado pelos portuenses. “Os santos são a alta-costura humana. Conseguiram constituir-se como seres encantadores, e São João é uma dessas pessoas”, justifica Almiro Mendes, padre da paróquia de S. Pedro da Afurada, em Vila Nova de Gaia.
E, em 1911, o feriado de São João foi decretado após a ideia ter sido submetida em referendo à população (a Lusa acrescenta que os resultados do referendo não foram vinculativos e que o feriado foi classificado “não como dia de São João, mas como de festa da natureza”).
Júlio Santos, presidente da Academia de Danças e Cantares Norte de Portugal de S. João da Foz, acrescenta que o feriado é celebrado de uma forma alegre e brincalhona. “São João tem a fama de brincalhão. É mais conhecido como o santo rapioqueiro.”
Também é atribuído um símbolo a João, tal como a Santo António, conhecido como o casamenteiro. Para além de estar ligado com a imagem do cordeiro — devido ao facto de ter anunciado a vinda do Cordeiro de Deus [Jesus Cristo], o santo tem uma forte ligação com as tradicionais fogueiras realizadas na noite de 23 para 24 de Junho.
Hoje em dia, o Porto comemora o feriado sem restrições religiosas. O presidente da Academia de S. João da Foz refere que “as celebrações são marcadas pela espontaneidade de cidadãos, vizinhos e moradores dos bairros característicos do Porto”. Descreve Júlio Santos: “Abrem asas à sua imaginação: celebram com as fogueiras e as tradicionais sardinhas, pimentos, broas e os tradicionais arcos pendurados para cima nas suas casas, significando que naquela residência irá haver festa.”
E, sublinha o responsável, as noites de São João são “mágicas”. “Não existe diferenciação, são todos iguais. Não há diferença de classes sociais, [os portuenses] celebram muito juntos, mesmo que não se conheçam.”
Mas as festas são-joaninas não se ficam apenas pelo Porto. O santo é celebrado com feriado municipal em 34 localidades, entre as quais Almada, Angra do Heroísmo, Braga, Calheta, Figueira da Foz, Sertã, Tavira ou Vila Nova de Gaia.
Texto editado por Carla B. Ribeiro.