João Baptista, o santo brincalhão

Apesar de João Baptista ser o mais popular, não é ele o padroeiro do Porto. A honra cabe a Nossa Senhora de Vandoma, ou Nossa Senhora do Porto, que se celebra a 11 de Outubro.

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No S. João do Porto, é habitual acenderem-se balões na noite de 23 para 24 de Junho Nelson Garrido/Arquivo
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O dia 24 de Junho veste-se de festa todos os anos na cidade do Porto para celebrar o nascimento de São João. Além da comemoração religiosa, o feriado coincide com o solstício de Verão, antigamente celebrado para solenizar a natureza e as colheitas.

Numa conversa telefónica com o PÚBLICO, o padre Almiro Mendes sublinha que “a igreja sempre celebrou o bom, o nobre e o belo ao longo da sua História, e quem interpreta isto da melhor maneira são os santos.”

S. João Baptista — ou apenas S. João — nasceu em Jerusalém, filho de Isabel e Zacarias. A gravidez, dizem as escrituras, terá sido anunciada pelo anjo Gabriel, numa altura em que a mulher, prima de Maria, já não se encontrava em idade fértil. O mesmo anjo terá visitado Maria, alguns meses depois, a comunicar a vinda do Messias, por intervenção do Espírito Santo. Jesus, que foi baptizado pelo primo nas águas do rio Jordão, reconheceu João como o maior dos profetas terrenos.

O santo que se celebra neste sábado terá sido um homem austero, de alimentação fraca e desprendido, apregoando as virtudes morais. De acordo com os evangelhos sinópticos, Herodes Antipas, filho do rei Herodes e governador da Judeia,​ mandou prender João por este o ter admoestado por se divorciar da sua mulher e tomar como sua amante Herodias, cônjuge de um dos seus irmãos. João teria cerca de 30 anos quando foi executado e decapitado.

Mas, embora a Invicta festeje o S. João, o santo não é o padroeiro da cidade. A honra cabe a Nossa Senhora de Vandoma, sendo que, nos antigos brasões, lê-se “civitas virginis”, ou seja, a cidade da Virgem, numa referência à padroeira. Só que o primo de Jesus de Nazaré acabaria por ser adoptado pelos portuenses. “Os santos são a alta-costura humana. Conseguiram constituir-se como seres encantadores, e São João é uma dessas pessoas”, justifica Almiro Mendes, padre da paróquia de S. Pedro da Afurada, em Vila Nova de Gaia.

E, em 1911, o feriado de São João foi decretado após a ideia ter sido submetida em referendo à população (a Lusa acrescenta que os resultados do referendo não foram vinculativos e que o feriado foi classificado “não como dia de São João, mas como de festa da natureza”).

Júlio Santos, presidente da Academia de Danças e Cantares Norte de Portugal de S. João da Foz, acrescenta que o feriado é celebrado de uma forma alegre e brincalhona. “São João tem a fama de brincalhão. É mais conhecido como o santo rapioqueiro.”

Também é atribuído um símbolo a João, tal como a Santo António, conhecido como o casamenteiro. Para além de estar ligado com a imagem do cordeiro — devido ao facto de ter anunciado a vinda do Cordeiro de Deus [Jesus Cristo], o santo tem uma forte ligação com as tradicionais fogueiras realizadas na noite de 23 para 24 de Junho.

Hoje em dia, o Porto comemora o feriado sem restrições religiosas. O presidente da Academia de S. João da Foz refere que “as celebrações são marcadas pela espontaneidade de cidadãos, vizinhos e moradores dos bairros característicos do Porto”. Descreve Júlio Santos: “Abrem asas à sua imaginação: celebram com as fogueiras e as tradicionais sardinhas, pimentos, broas e os tradicionais arcos pendurados para cima nas suas casas, significando que naquela residência irá haver festa.”

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As tradicionais sardinhas Nelson Garrido/Arquivo

E, sublinha o responsável, as noites de São João são “mágicas”. “Não existe diferenciação, são todos iguais. Não há diferença de classes sociais, [os portuenses] celebram muito juntos, mesmo que não se conheçam.”

Mas as festas são-joaninas não se ficam apenas pelo Porto. O santo é celebrado com feriado municipal em 34 localidades, entre as quais Almada, Angra do Heroísmo, Braga, Calheta, Figueira da Foz, Sertã, Tavira ou​ Vila Nova de Gaia.


Texto editado por Carla B. Ribeiro.

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