Angra do Heroísmo enche-se de tascas para matar a “fome de festa” nas Sanjoaninas
As ruas de Angra do Heroísmo, nos Açores, voltam a encher-se de tascas improvisadas, com os mais diferentes petiscos, para matar a “fome de festa” nas Sanjoaninas, depois de dois anos de paragem forçada pela pandemia.
As Sanjoaninas regressam esta sexta-feira, com o modelo habitual, depois de um ano sem festa e de uma edição sem animação de rua, devido à pandemia de covid-19. Durante dez dias, Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, celebra o São João com cortejos, marchas populares, música, tauromaquia, desporto, exposições e gastronomia.
“Foi difícil, não só para nós como para toda a gente. A pandemia foi muito complicada e continua a ser. Vamos lá a ver estas Sanjoaninas”, afirma Ricardo Costa, da tasca Setor 7, em declarações à agência Lusa. “Está toda a gente com fome de festa, que faça bom tempo e que as pessoas venham para a rua.”
A cidade está já vestida a rigor, com varandas enfeitadas e iluminação nas principais ruas à espera do cortejo de abertura, em que desfilam a “rainha” das festas e o restante “séquito real”. No centro histórico da cidade, antigas lojas, hoje fechadas, dão lugar a espaços gastronómicos, que se abrem apenas por dez dias.
Muitos dos promotores destas tascas só passam para o outro lado do balcão uma vez no ano, como Ricardo Costa, funcionário público do município de Angra do Heroísmo. “Cada um tem o seu trabalho, em áreas completamente diferentes, longe da gastronomia e da restauração, mas é um gosto que nós temos de organizar e participar nas festas”, sublinha.
Responsável pela limpeza urbana e recolha de resíduos em Angra do Heroísmo, Ricardo Costa espera “muito trabalho”, dentro e fora da tasca, durante os dez dias de festa, mas, como a maioria dos terceirenses, há muito que aguardava pelo regresso das Sanjoaninas. “É uma semana que é fundamental para a economia da ilha. É uma semana que gera muito dinheiro, em que toda a gente compra e vende. As Sanjoaninas na Ilha Terceira são fundamentais”, frisa.
Criada há dez anos por um grupo de amigos aficionados, a tasca Setor 7 está pronta a abrir portas, com decoração alusiva à tauromaquia, no local habitual, na Rua de São João. Quem por lá passa, já espreita e pergunta quando abre, para provar as amêijoas, o pica-pau, as asinhas de frango, as moelas ou as bifanas. “Já se vê muito turista a passear na cidade. As pessoas já começam a vir para a rua com o bom tempo”, aponta Ricardo Costa.
A poucos metros, numa antiga loja de roupa na Rua das Minhas Terras, a tasca Abanka C'agente também prepara os últimos detalhes para abrir portas. Durante as festas, Ricardo Mendes deixa a contabilidade de lado e abre uma tasca com dois amigos, que são funcionários públicos. “Requer muito tempo para montar as tascas, a logística em si é muito grande, mas o gosto está no nosso sangue. Somos da Ilha Terceira, queremos é festa”, brinca.
Desde 2017 que dormem “três, quatro horas, nem sequer às vezes”, durante a semana de festas, que deixou saudades durante a pandemia. Os terceirenses compreenderam o motivo da paragem, mas foi “muito duro”, segundo o contabilista. “Muitas pessoas passam por aqui, olham para dentro e já estão com a ânsia de vir tomar uma cerveja, comer uma bifana, uma morcela.”
São muitas as tascas espalhadas pela cidade, mas Ricardo Mendes acredita que todas terão casa cheia durante as Sanjoaninas, possivelmente com mais clientes do que na última edição das festas. “Eu espero que seja melhor, porque vejo aí muitos turistas e com a fome do terceirense de festa, acho que vai haver para todos”, salienta.
Mesmo ao lado da tasca tipicamente terceirense, com chicharros fritos, bifanas, morcelas e linguiças, está a Ilha da Madeira, uma tasca que se estreia nas Sanjoaninas, com sandes de carne em vinho e alhos em bolo do caco e poncha. Diogo Sousa já está habituado a participar em arraiais no arquipélago vizinho, mas vem pela primeira vez à Ilha Terceira, com três tascas de produtos madeirenses.
“Nós tínhamos amigos em comum aqui na Ilha Terceira e ouvimos falar que era uma grande festa. Nunca tínhamos trabalhado nos Açores e decidimos que seria uma óptima experiência”, aponta. Ainda sem termo de comparação com anos anteriores, o madeirense espera uma elevada adesão, a julgar pelo movimento que já se faz sentir na ilha.
“As expectativas são óptimas. As pessoas durante dois anos tiveram uma situação pandémica e, neste momento, querem-se divertir, querem conviver.”