Aos 82 anos, Miriam Margolyes, a professora de Harry Potter, posa nua para a Vogue

A actriz faz capa da edição de Julho da revista britânica, que é dedicada à comunidade LGBTQ+.

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Miriam Margolyes é actriz e autora de best-sellers Vogue
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A actriz britânica Miriam Margolyes, conhecida por na saga de Harry Potter interpretar a professora Sprout, é a capa da edição de Julho da Vogue britânica, e aparece nua nas páginas interiores da revista que é dedicada à comunidade LGBTQ+. Sentada à mesa, usando apenas um colar de pérolas e o corpo tapado com bolachas e bolos, Margolyes fala do seu activismo, mas também da relação com o seu corpo, confessando que não gosta dele.

Aos 82 anos, Miriam Margolyes, que assumiu que era lésbica em 1966, é considerada pelo director da Vogue, Edward Enninful — que, para muitos, é o sucessor natural de Anna Wintour — uma “pioneira” no activismo LGBTQ+. Mas não é a única. Juntaram-se a Margolyes, na capa desdobrável, a cantora norte-americana Janelle Monáe e a cantora britânica de origem japonesa Rina Sawayama, “duas potências polimáticas globais no seu auge, cujo trabalho na música e no cinema se situa entre o mainstream e a vanguarda”, define Enninful no seu editorial.

No interior, há outros “talentos extraordinários”, incluindo a modelo do momento Mona Tougaard e as novas estrelas da televisão Emma D’Arcy, Bella Ramsey e Ncuti Gatwa.

Quanto a Miriam Margolyes — que não considera que o papel em Harry Potter tenha sido o seu melhor desempenho, mas reconhece que foi o que lhe deu, até hoje, mais visibilidade, uma vez que os espectadores continuam a abordá-la na rua para a elogiar —, é conhecida também por ser autora, uma “lenda dos talk-shows” e a “encarnação viva da excentricidade britânica”, descreve a revista. “A sua moeda de troca é o riso por todos os meios possíveis: ultraje, obscenidade, o peido ocasional. ‘Ainda sou um pouco criança’, diz. ‘Não resisto à malandrice.’”, escreve o jornalista Chris Godfrey, que a entrevistou em sua casa, em Londres.

Miriam Margolyes é autora de dois best-sellers, as suas memórias, com mais de três milhões de exemplares vendidos, e também fala das suas inseguranças. “Gosto da minha cara”, diz à Vogue. “Acho que a minha cara é simpática, calorosa, aberta e sorridente. Mas odeio o meu corpo. Detesto as mamas grandes [e tenho] uma barriga descaída, pernas pequenas e retorcidas. Isso não me entusiasma. Mas aproveita-se o melhor que se pode. Tem de ser. Faz-se o melhor que se pode...”

A actriz, que foi criada em Oxford, filha única de um médico e de uma promotora imobiliária de origem judaica, estudou Inglês em Cambridge. Foi então que percebeu que era lésbica e se assumiu, numa altura em que a homossexualidade era ilegal no Reino Unido, em 1966. “Nunca tive vergonha de ser homossexual ou de qualquer outra coisa. Sabia que não era criminoso porque era eu. Eu não podia ser criminosa”, declara.

Apesar de se assumir e ser uma porta-voz da comunidade LGBTQ+, Margolyes lamenta ter magoado os pais quando lhes disse, referindo que nenhum aceitou a sua sexualidade. Contudo, isso nunca a impediu de os amar. “Magoou-os e eu não quero magoar as pessoas.” A actriz tem uma relação de 54 anos com a académica Heather Sutherland, que vive em Amesterdão. O casal nunca viveu na mesma casa. “Eu não queria que Heather tivesse de abdicar de nada. E eu não queria abdicar de nada. Queria o meu bolo e queria comê-lo também. E até agora, tem funcionado”, explica, referindo que esta decisão poderá ser mais fácil para casais homossexuais do que heterossexuais.

A actriz recorda que viveu anos de grandes mudanças sociais, mas também de grandes perdas — com o aparecimento do VIH, em meados da década de 1980, 34 amigos morreram. “Um dia contei, porque havia tanta gente que tinha morrido e eram todos rapazes bonitos, talentosos, divertidos e dotados”, recorda à Vogue. Hoje, embora haja mais conhecimento, liberdade e tolerância, Margolyes não está optimista quanto ao futuro, lamentando a “falta de compaixão pelas pessoas vulneráveis”. E resume: “Em Inglaterra, tem havido um deslizamento moral para o poço profundo da iniquidade.”

Aos 82 anos, Miriam Margolyes, que ainda quer fazer um documentário sobre Israel e a Palestina, pensa na morte diariamente. “Oh, todos os dias, de certeza. Todas as manhãs, quando me levanto, penso: ‘Hmmm, mais um dia que talvez não estivesse à espera’.” Mas isso não a impede de continuar a sonhar e a planear. “Continuo aberta a novas experiências. Estou apenas muito consciente de que não há luz ao fundo do túnel”, conclui.

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