O editor-chefe da edição britânica da revista Vogue, Edward Enninful, vai deixar o cargo já no próximo ano. Contudo, o inglês deverá manter-se no grupo editorial Condé Nast com um novo cargo, será consultor criativo e cultural global e tornar-se-á o primeiro conselheiro editorial na Vogue britânica, avança nesta sexta-feira um porta-voz da editora, citado pela revista da especialidade WWD.

De acordo com o próprio, Enninful vai continuar a contribuir para a marca global, mas com mais “liberdade para aceitar projectos criativos mais vastos”, escreveu numa nota enviada aos colaboradores da revista, a que a imprensa de moda teve acesso. Apesar de ter informado da sua saída, não adiantou mais detalhes sobre o novo cargo.

A promoção, acrescentou ainda, resulta de vários meses de negociação com Anna Wintour, directora criativa da Vogue mundial e editora-chefe da edição norte-americana, e Roger Lynch, director executivo da Condé Nast. É com a mulher mais poderosa da moda que continuará a trabalhar directamente, informou.

A partir de agora, Enninful está à procura de um substituto para o seu lugar, mas há novidades. É que deixa de existir o cargo de editor-chefe, substituído por um responsável de conteúdo editorial. A mudança resulta de uma nova estratégia da Condé Nast, onde os conteúdos são partilhados globalmente por todas as publicações, havendo cada vez menos escrita independente.

Esse novo “editor” vai trabalhar “de perto” com a equipa da Vogue britânica e com Anna Wintour, respondendo ainda directamente a Edward Enninful numa primeira fase. “Por agora mantém-se tudo o mesmo e estou entusiasmado quanto ao que o futuro nos reserva. Quero agradecer ao Roger e à Anna pelo seu apoio constante”, terminou o britânico.

Edward Enninful, filho de emigrantes do Gana, está no grupo há mais de 25 anos e foi em 2017 que assumiu o cargo de editor da Vogue britânica. Três anos depois, recebia a promoção para director editorial da revista na Europa. Há quem diga que será ele o sucessor de Anna Wintour ─ ela que promete trabalhar até ao fim da vida.

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“Quando comecei em 2017, estava a trabalhar com uma revista. Hoje, estou a lidar com uma marca que inclui impresso, digital, áudio, vídeo e podcast, o que é entusiasmante para alguém que pensa no futuro”, dizia ao WWD numa entrevista no final de 2021, em antecipação da publicação do seu livro de memórias, A Visible Man (Um homem visível, ainda sem tradução em português).

Uma das bandeiras do trabalho de Enninful tem sido também a inclusão. Recentemente, a propósito de uma edição protagonizada por pessoas com deficiência, contou que, no passado, já recusou propostas de publicidade de casas de luxo, por acreditar que estas não partilhavam a mesma visão quanto à diversidade e representatividade na moda.

Aliás, quando chegou à Vogue, avisaram-no de que “criar uma revista sobre inclusão em que todas as raças estivessem representadas” seria sinónimo de “crise”. Para conseguir concretizar esse objectivo, teve de “afastar” pessoas “que não partilhavam da mesma visão”, mesmo que isso implicasse perder dinheiro. Agora deverá levar esse objectivo mais longe, à medida que ganha poder. Cada vez mais perto de Anna Wintour.