Na Champions, o Inter esteve em casa e sentiu-se em casa

Entre os rivais de Milão esperava-se equilíbrio, mas não foi isso que se viu durante boa parte da partida. O Inter, como já tinha feito ao Benfica, mostrou que é possível atacar sem ser ofensivo.

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Dzeko celebra em Milão Reuters/ALESSANDRO GAROFALO
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18 minutos, dois golos sofridos, um terceiro salvo pelo poste e um jogador-chave lesionado. Foi assim que o AC Milan recebeu o grande rival Inter, nesta quarta-feira, na meia-final da Liga dos Campeões. Dificilmente haveria anfitrião mais simpático do que este – e só não foi ainda mais agradável para o Inter porque golos fora já não contam como factor de desempate.

O Inter, que jogava fora no seu estádio, leva desta primeira mão um triunfo por 2-0, resultado construído com aquilo que já tinha mostrado noutras ocasiões: um equilíbrio tremendo na ocupação dos espaços e uma capacidade bem desenvolvida de atacar muito sem ser muito ofensivo – um paradoxo que poucas equipas utilizam tão bem como esta.

A equipa de Simone Inzaghi levou a este jogo o habitual 3x5x2, possivelmente o sistema que, bem trabalhado, melhor ocupação do espaço dá a uma equipa de futebol. Tem um bloco defensivo denso, tem largura, tem avançados e tem jogo entre linhas. E foi por aí que a coisa se fez.

O Milan, que teve de ir a jogo sem Rafael Leão, lesionado, apareceu com o médio mais ofensivo muito longe dos dois companheiros de meio-campo, que acabavam por adoptar uma posição muito adiantada assim que sentiam que havia um buraco. Problema: criavam eles próprios outro buraco.

A equipa acabou por partir-se facilmente em jogadas de transição e o Inter, com Mkhitaryan e Lautaro entre linhas, conseguiu ligar o jogo a Dzeko com alguma tranquilidade. Ora atraindo à largura para ferir no centro, ora atraindo ao centro para atacar em largura, o Inter criou perigo com facilidade.

É certo que chegou ao 1-0, aos 8', num golo de Dzeko de bola parada, mas também isso é marca de assinatura destas equipas: o Inter é muito forte no jogo aéreo – a segunda mais forte das 32 da Champions – e o Milan é uma equipa que, apesar de sofrer poucos golos, tem uma elevada percentagem de sofridos de bola parada.

Depois, as tais transições. Aos 11’, o Inter fez a atracção ao centro, alargou ao corredor e voltou ao centro, sempre com os jogadores do Milan atrasados. A finalização foi de Mkhitaryan.

Aos 15’, nova jogada deste tipo, que terminou com duas oportunidades seguidas – a primeira foi mesmo um remate ao poste. Com a lesão de Bennacer, aos 18’, o Milan tinha a prova de que não era dia para ter saído de casa.

Mesmo sem ter muita bola, o Inter, como já tinha mostrado noutros jogos – até contra o Benfica –, atacou com muita gente. E se não fosse a acção do VAR o cenário poderia ter sido ainda pior para o Milan, que esteve alguns instantes com um penálti contra si assinalado pelo árbitro Gil Manzano.

Aos 34’, nova transição com o Milan totalmente perdido no espaço e Lautaro rematou por cima, em boa posição. Eram dois, mas poderiam ser muitos mais – mesmo por parte de uma equipa que não era ofensiva em matéria de estilo de jogo, mas era ofensiva pela forma como explorava bem os ataques que podia fazer.

Na segunda parte há menos para contar, já que o Inter baixou o bloco, algo que já tinha feito nos minutos antes do intervalo. E também isso é habitual. A equipa sente-se confortável sem bola e o tal equilíbrio do 3x5x2, difícil de contrariar, dotou a formação de Inzaghi de uma tranquilidade evidente.

O Milan pouco fazia e sabia que o Inter, sem fazer muito, fazia bastante – e um 3-0 praticamente “mataria” a eliminatória, que com 2-0 ainda segue aberta. A ficou claro que a partir de determinada altura o Milan já só queria levar o resultado como estava e esperar que Rafael Leão, daqui a uma semana, faça qualquer coisa que os colegas não souberam fazer.

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