Comunicar além das palavras

Todas as crianças são diferentes e podem desde muito cedo ter diferentes estilos de comunicação. No entanto, existem determinados marcadores aos quais é importante estar atento.

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Só quando “falamos” é que comunicamos? Não. A comunicação é um processo de troca de informação Getty Images

A comunicação é uma competência que é desenvolvida desde muito cedo. Usamo-la constantemente, quando contamos um acontecimento ou até quando usamos as mãos como complemento à fala.

À medida que o bebé se vai desenvolvendo, vai sendo alvo de grande atenção por parte dos que o rodeiam, pois todos querem acompanhar as suas conquistas. Às vezes oiço, com muita frequência, “mas quando é que começa a falar?” ou “será que alguma vez vai comunicar?”. Estas surgem de pais, educadores de infância, familiares que estão preocupados com aquela criança.

Será que só quando “falamos” é que comunicamos?

A resposta é não. A comunicação é um processo pelo qual os indivíduos trocam informação e transmitem ideias, necessidades, desejos, entre outros. Para comunicarmos, necessitamos de um emissor (pessoa que formula a mensagem) e um recetor (pessoa que recebe a mensagem). Quando uma criança começa a prestar atenção ao ambiente em que está inserida, a partilhar algo com os seus pais e com quem a rodeia, através do choro, do riso e até mesmo do palrar, ela já está a comunicar.

Nos primeiros meses de vida, os momentos de interação entre o bebé e os pais ou principais cuidadores vão aumentando. É através do choro que inicia a sua comunicação e este pode ter diferentes significados. No entanto, à medida que vai desenvolvendo, começa a perceber que existe uma relação de causa-efeito, ou seja, chora ou faz sons e os pais vão ao seu encontro. Aqui começam a descobrir a força da comunicação humana.

Nos dois primeiros meses, começam a reagir a sons, realizam várias expressões faciais e choram. Entre os dois e os seis meses, começam a sorrir e a dialogar com os pais através de sons guturais, vocalizações, gargalhadas e existe um maior contacto visual. Nesta fase vê-se uma grande evolução comunicativa, pois o bebé realiza uma ação e os pais reagem, observando-se, logo desde muito cedo, vários ciclos de comunicação, ainda pré-linguísticos, mas muito ricos.

Entre os seis e os nove meses, já respondem ao seu nome, algumas palavras, identificam os familiares mais próximos, balbuciam (pa-pa-pa), começam a imitar algumas ações motoras e verbais (sons). Nesta fase, à medida que vão comunicando através destas competências, podemos sempre potenciar ainda mais o seu poder comunicativo, mas como? Fornecendo-lhe ferramentas comunicativas que não dependam apenas da fala, como o gesto. O bebé já tem capacidade para imitar, por isso vamos ensinar-lhe a usar determinados gestos para comunicar e potenciar o seu elo de ligação com os vários parceiros comunicativos. Saber comunicar de uma forma positiva as suas necessidades, dores e pedir ajuda, por exemplo.

Entre os nove e os 12 meses, já olha para vários objetos do seu interesse, bate palmas, acena às pessoas em seu redor, aponta para pedir, pode dizer algumas palavras (mamã) e tem intenção em comunicar com o outro. Ao longo deste desenvolvimento e desta constante ação-reação por parte de todos os indivíduos que se encontram em seu redor, percebemos que a criança, quando inicia a comunicação verbal, numa fase inicial ainda pode recorrer ao gesto em conjunto com a sua produção e à medida que esta se torna cada vez mais percetível e compreendida por todos, começa a usar a oralidade, sendo cada vez mais intencional e consistente.

Ao ler esta descrição da evolução da comunicação no primeiro ano de vida, deve estar a reconhecer o seu bebé, o seu sobrinho ou até o seu afilhado. Todas as crianças são diferentes e podem desde muito cedo ter diferentes estilos de comunicação. No entanto, existem determinados marcadores aos quais é importante estar atento.

Se o bebé que conhece tem oito meses e ainda não responde ao nome, não se interessa pelas pessoas em seu redor, não realiza diálogos pré-linguísticos com os pais, não mantém o contacto visual, não tenta imitar ações motoras ou sons, não tem prazer em comunicar, deve falar com o seu pediatra, que o poderá aconselhar e encaminhar, caso se verifique necessidade. A intervenção precoce faz a diferença.

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