Estudantes da universidade feminina de Wellesley apoiam admissão de homens trans
Referendo não é vinculativo, mas o resultado vem pressionar ainda mais a direcção da escola, que se tem manifestado contra o alargamento das admissões a homens transgénero e a pessoas não binárias.
O corpo de estudantes e a direcção de uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior para mulheres nos Estados Unidos, a Universidade de Wellesley — onde se formaram futuras líderes políticas do país como as secretárias de Estado Hillary Clinton e Madeleine Albright —, estão divididos sobre a forma como a escola se deve posicionar nas questões da identidade de género.
Num referendo realizado na terça-feira, a maioria do corpo de estudantes apoiou a admissão de pessoas não binárias e de homens transgénero, com o argumento de que os princípios que levaram à criação da Universidade de Wellesley, em 1870 — o acesso ao ensino superior de um grupo de pessoas discriminado pelo seu género —, devia aplicar-se agora à entrada de pessoas que não se identificam com o género que lhes foi atribuído à nascença.
No outro lado da discussão, a presidente da universidade, Paula Johnson, salienta que a escola já admite mulheres transgénero desde 2015, e defende que o alargamento da política de inclusão a homens transgénero e a pessoas não binárias levaria, na prática, a que a Universidade de Wellesley deixasse de ser uma instituição para mulheres, passando a ser uma instituição mista à semelhança de milhares de outras nos EUA.
Segundo os promotores do referendo, a direcção está afastada da realidade dos corredores da universidade, onde há anos se cruzam mulheres transgénero e homens transgénero que iniciam as suas transições durante o curso.
“Wellesley não é, actualmente, uma universidade para mulheres”, afirma uma das autoras da proposta, Ailie Wood, citada no jornal da universidade, o Wellesley News.
“Todos os dias interagimos com estudantes de todos os géneros. Os nossos colegas são trans e não binários; as nossas actividades são organizadas por estudantes trans e não binários, e as pessoas com quem nos cruzamos nos corredores todos os dias são trans e não binárias. Se a direcção apoiasse a pergunta deste referendo, esse facto não mudaria.”
Instituição "para mulheres"
A posição da direcção da universidade — contra a admissão de homens transgénero e de pessoas não binárias — foi reafirmada, na semana passada, pela presidente da instituição, numa mensagem interna citada no jornal New York Times.
“Wellesley foi fundada com base na ideia — radical naquela época — de que o acesso das mulheres de todos os contextos socioeconómicos a uma educação superior seria benéfico para toda a gente. Como universidade e como comunidade, continuamos a desafiar as normas e as estruturas de poder que tantas vezes deixam para trás as mulheres e outras identidades marginalizadas”, disse Johnson, referindo-se à Universidade de Wellesley como “uma instituição para mulheres que admite estudantes cisgénero, transgénero e não binários que se identificam, de forma consistente, como mulheres.”
Em resposta, a líder da associação de estudantes, Alexandra Brooks, acusou a direcção de não ter diversidade suficiente entre os seus membros e de estar “desligada” da vida na universidade.
“A direcção representa uma Universidade de Wellesley de há 50 anos, que era muito diferente da Wellesley actual. Até a universidade de há cinco anos era muito diferente”, disse Brooks ao Wellesley News.
“Para algumas pessoas na direcção, este assunto só é importante para uma pequena parte do corpo de estudantes. O objectivo do referendo é mostrar à direcção que isso não é verdade, e que os estudantes trans não são os únicos interessados.”
Também há estudantes que se opõem às mudanças propostas no referendo de terça-feira, como Elizabeth Um, a presidente do grupo anti-aborto do campus da universidade.
“Quem não se sentir bem acolhido neste lugar tem milhares de universidades mistas à sua disposição no país e no mundo”, disse Um ao New York Times. “Somos uma universidade para mulheres. Essa é a identidade da nossa escola e não podemos começar a diluir essa realidade.”
Segundo as regras da universidade, o referendo realizado na terça-feira não é vinculativo e os resultados percentuais não foram divulgados.