Disfunção sexual ou quando “as coisas já não são como dantes”

A disfunção erétil é muito frequente e causa grande impacto na qualidade de vida do homem e na forma como este se relaciona.

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Um em cada quatro homens queixam-se deste problema com menos de 40 anos We-Vibe Toys/Unsplash

Com a testosterona a atingir o seu pico pelos 30 anos de idade, e o homem do Paleolítico a viver até aos 33, esta não lhe faltava no seu tempo de vida. Por essa idade já seria certamente avô e raros seriam os anciãos com 40 anos. Não era um problema no início da espécie humana.

No entanto, atualmente, em países como Portugal a esperança média de vida é duas vezes e meia superior, tornando a disfunção sexual – intimamente relacionada com os níveis de testosterona e os fatores de risco vascular – um problema muito frequente entre os homens.

A disfunção sexual é mais do que disfunção erétil, mas a disfunção erétil é a mais frequente. Amplamente ligada a esta, menos vezes abordada, está a diminuição do desejo sexual. E um facto é que os homens não conseguem ter uma ereção se não tiverem desejo.

Por outro lado, importa dizer que a disfunção erétil é muito frequente e causa grande impacto na qualidade de vida do homem e na forma como este se relaciona. Estima-se que cerca de 50% dos homens entre os 40 e os 70 anos de idade têm disfunção erétil e que um em cada quatro que se queixam deste problema tem menos de 40 anos!

É por ser tão frequente que choca o quão pouco se fala do assunto e o quanto é ainda considerado tabu na nossa sociedade. Tem tratamento e a qualidade de vida pode melhorar em muito!

Um mito que importa desde logo destruir é: a medicação usada para tratar a disfunção erétil não aumenta o risco de Enfarte Agudo do Miocárdio, também conhecido como ataque cardíaco, nem de Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido como trombose. É verdade que pessoas com antecedentes de doença cardiovascular devem ser avaliadas tanto por um urologista como por um cardiologista, mas o tratamento continua a ser seguro na maioria das pessoas!

Na minha experiência, a maioria dos homens deixa este problema para o fim da consulta. Apesar de parecer algo que referem com um “já agora...”, revelando assim o verdadeiro motivo da consulta. E por isso continua, eternamente, a ser francamente subavaliado, subdiagnosticado e sub-tratado.

Este é um tema que precisa de tempo: os homens precisam de tempo. Todos têm de aprender a falar: médicos urologistas, médicos de família, doentes, companheiras e companheiros, sociedade civil...

Quando é tratada numa fase precoce tem melhores resultados. Frequentemente é possível tratar começando pelo mais simples: falar com a companheira ou companheiro, procurar um urologista para o avaliar, estudar causas urológicas, nomeadamente prostática e genital, e tratar logo que começa o problema.

Se uma pessoa descobrir que tem diabetes ou tensão alta, que são duas doenças inicialmente silenciosas, mas que aumentam o risco de doença vascular, não hesita em tomar medicação se for a forma de viver mais tempo e com mais qualidade de vida! Por que não fazer o mesmo com a disfunção erétil?

Além disso, sabemos hoje que esses fatores de risco vascular, assim como o tabagismo e o colesterol elevado, são também fatores de risco para disfunção erétil pelo que há razões de sobra para os corrigir!

Regra geral, os homens demoram demasiado tempo para procurar ajuda. Vão ao médico numa fase em que já é mais difícil tratar, em que o tratamento pode já não ser só uma simples medicação oral – o comprimido tradicional com doses fixas ou uma nova formulação em spray, que facilita a toma e a dose – mas poderá passar por aplicações ou injeções no pénis, utilização de bombas de vácuo ou pela colocação de uma prótese peniana, o que faz com que os resultados possam demorar mais a aparecer, e que um homem já com a autoestima em baixo tenha menos probabilidade de aderir ao tratamento e confiar que vai melhorar, ou pura e simplesmente não queira tratamentos mais complexos.

A conclusão infeliz desta história é que, ao abandonar o tratamento demasiado cedo condena desnecessariamente e, muitas vezes, para sempre, a sua qualidade de vida. Assim, a palavra de ordem é simples: reconhecer o problema, procurar ajuda precocemente e tratá-lo.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990


Referências bibliográficas:

(Última visualização das referências a 5 de fevereiro de 2023)

  • Wein, Alan J.; Kavoussi, Louis R.; Partin, Alan W.; and Peters, Craig A., Campbell-Walsh Urology: 4-Volume Set (11th Ed.) (2016). Faculty Bookshelf. 69.
  • EAU Guidelines. Edn. presented at the EAU Annual Congress Amsterdam 2022. ISBN 978-94-92671-16-5.
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