Arquitectura
Em Braga, um edifício “foi abandonado, ruiu e reergueu-se” em tons de vermelho e azul
Requalificado em Braga, esta hospedagem reergueu-se depois de uma “experiência de construção nova muito separada daquilo que aconteceu na original”. Um projecto do Atelier Tiago do Vale Arquitectos.
Numa zona de sensibilidade histórica da cidade de Braga, onde as memórias das épocas romana, medieval e do urbanismo contemporâneo se misturam, nasceu o Alojamento São Sebastião, fruto de uma “experiência de construção nova muito separada daquilo que aconteceu na original”. Onde antes se encontrava um edifício caído e abandonado, reergueu-se um novo que se distingue pela “fachada frontal em granito, posteriormente recuperada e as caixilharias das janelas em madeira, também mantidas do original”, explica ao P3 Tiago do Vale, arquitecto fundador do atelier Tiago do Vale arquitectos.
A recuperação deste espaço surgiu do contacto dos proprietários, a empresa Vale Escuro, que adquiriram o imóvel com o propósito de o tornar num alojamento, que ainda não abriu. O primeiro passo foi identificar o espaço e perceber o que tinham em mãos. “Era uma encomenda que, inicialmente, pareceu muito ambiciosa”, recorda Tiago, porque “as limitações de área e volumetria do edifício eram enormes”. O passo seguinte foi a procura de soluções, uma vez que só seria um programa “rentável com uma certa quantidade de unidades”, relata o arquitecto.
Apesar das ideias iniciais dos proprietários, a vontade de ter um projecto “o mais eficiente possível” deu ao arquitecto toda a flexibilidade para considerar que “opções e tipologias funcionariam melhor no espaço”. Por isso, “feito um grande esforço para integrar tudo o que estava à volta” e tornar possível a conjugação entre “os prédios de meados do século 20, outros do século 18 e o alojamento”. Para tornar esse casamento possível, usaram “o que já lá estava, como o piso e a fachada traseira com revestimento em chapa, e aquilo que poderiam trazer de novo, como o interior”.
Um aspecto que caracteriza o espaço é a caixa de escadas que “resolveu uma situação muito complicada de distribuição por causa da largura do prédio”. Ao mesmo tempo, o vermelho das escadas contrasta com o azul pastel do azulejo, tornando-as, também, num elemento gráfico.
O espaço tem, ainda, uma clarabóia “que era própria daquele edifício” e que foi redesenhada para “aquilo que seria de esperar num edifício da época". Esta clarabóia encabeça as escadas, criando, ao longo do dia, “vários jogos de luz à medida que o sol vai atravessando o céu”, afirma o arquitecto responsável.
Em Braga, o alojamento de São Sebastião conta uma história de ruptura, já que “os eventos da história o tornaram habitável interruptamente”. No entanto, começa agora a nova era de vida de um espaço que “foi abandonado, ruiu e se reergueu”.
Texto editado por Amanda Ribeiro