Arquitectura
Na aldeia do Meco, um arquitecto reconstruiu a casa onde brincava com um amigo de infância
É um projecto nostálgico para o arquitecto Fábio Ferreira Neves, que desenhou uma casa na aldeia onde passava férias.
No terreno estava a casa dos pais do proprietário e a ideia inicial era reconstruí-la. A casa era branca, estava à face da rua e era feita de sucessivos acrescentos e anexos que acompanharam o crescimento da família. A passagem do tempo tornou-a menos segura e foi decidido avançar para uma nova construção, maior e com alguns dos pormenores da moradia antiga, explica ao P3 o arquitecto Fábio Ferreira Neves.
“Já fiz três projectos na aldeia do Meco, mas este foi especial e nostálgico. Vivo na Suíça, mas os meus avós eram da aldeia e parte da minha infância foi passada lá e na casa deste meu grande amigo. Tivemos uma grande sintonia no projecto: ele queria manter a casa dos pais e eu, enquanto arquitecto, tenho sempre a vontade de respeitar o lugar de cada projecto”, adianta.
Decidiram então que a Casa no Meco seria simples e teria o que o arquitecto apelida de “presença silenciosa” vista da rua. Pintaram-na de branco, utilizaram telha, madeira e criaram uma zona exterior que homenageia as tradicionais casas do forno desta e de outras aldeias — espaços multifunções que os mais antigos utilizavam para se aquecerem, cozinharem, guardar equipamentos agrícolas ou simplesmente conviverem, recorda Fábio Ferreira Neves.
“Os nossos avós passavam muito tempo nestes espaços. Esta alusão à casa do forno fica no jardim e é onde agora está a churrasqueira e a cozinha exterior”, acrescenta.
Do lado do jardim, diz, a casa toma uma outra forma. Nas palavras do arquitecto, é feita de subtracções e contrastes entre as portadas de madeira, que aquecem os quartos, e o branco das paredes. “Na verdade são duas portadas, uma maior e outra mais pequena. O proprietário pode abrir a grande quando está em casa e a mais pequena quando não está, mas quer ventilar o espaço.”
No interior, afirma Fábio Ferreira Neves, as paredes têm alturas diferentes e crescem gradualmente até aos quartos. Nestas zonas, o pavimento é de madeira, mas nas áreas sociais, dado que a família tem dois cães, optou-se pelo mosaico hidráulico. “É um material feito à mão que e comum nas casas mediterrânicas. Por ser claro, também influencia a presença da luz. Ou seja, os materiais que usei seguem a tradição do local”, destaca.
As obras na Casa no Meco começaram em 2020 e terminaram em 2023. O projecto foi distinguido no Architecture Masterprize 2024 e o arquitecto sediado na Suíça entrou na lista dos Europe 40 under 40, na categoria de Design e Arquitectura.
Para Fábio Ferreira Neves esta nova moradia é também a prova que a “arquitectura tradicional pode ser reformada para acomodar estilos de vida contemporâneos”.