A força indomável da natureza acolhe uma casa que ninguém quer

A história de uma casa suspensa nas mãos das árvores, que se tornaram os seus habitantes e a mantiveram de pé.

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“Os ventos fustigavam a casa, sopravam-na de todas as direcções, mas as jovens árvores não a deixavam cair” Jon Klassen
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“E eis que chegou o dia em que as crianças partiram de vez” Jon Klassen
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Capa do livro A Casa Suspensa nas Árvores, edição da Orfeu Negro Jon Klassen

“Quando nova, era uma casa no meio de um descampado. Havia um relvado, recentemente plantado, mas nem uma árvore que desse sombra no Verão ou que abanasse os ramos nus no frio do Inverno. As árvores que ali havia tinham sido cortadas, em tempos, para abrir espaço para a casa. Até as raízes foram arrancadas e queimadas.” Assim começa a história de uma casa em ruínas que o narrador encontrou suspensa nas mãos das árvores.

Ali terá vivido um homem com dois filhos, um rapaz e uma rapariga, que sempre cuidava do seu relvado enquanto as crianças brincavam nos terrenos vizinhos. Aí, sim, havia “árvores de toda a espécie — bordos e ulmeiros, freixos e choupos, de onde se ouvia o rumor do vento e o canto dos pássaros”.

O pai queria o seu relvado perfeito e não deixava que as sementes que esvoaçavam para o seu terreno no final do Verão vingassem na terra. “Mas as árvores não desistem facilmente: Verão após Verão, mandavam-lhe mais sementes, que aterravam no seu relvado.”

As crianças cresceram, o homem envelheceu. Cada um a seu tempo, todos saíram da casa. O pai foi último: “Por fim, decidiu vender a casa e comprar um apartamento na cidade, mais perto do filho e da filha. Talvez o convidassem para jantar de vez em quando.”

Ninguém quis comprar a casa.

Do relvado, começaram então a brotar pequenas árvores, “bordos, ulmeiros, freixos, choupos — com as suas folhas brilhantes a ondular”. E o homem deixou de a visitar.

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“Eram duas crianças, um rapaz e uma rapariga, que viviam com o pai. Adoravam brincar no meio das árvores” Jon Klassen

Também a casa envelheceu. “Onde já não havia telhas, a água infiltrava-se pelo telhado; ao fim de pouco tempo, a chuva entrava pelos buracos e caía dentro de casa. E quando um telhado se estraga, o resto vem atrás: a casa começou a ficar em ruínas, os pregos enferrujados e soltos, as paredes rachadas nos cantos.”

Homenagem à persistência da natureza

Numa escrita poética, Ted Kooser reenvia-nos para um ambiente calmo e bucólico. O professor na Universidade de Nebraska (Lincoln, EUA) e vencedor do Prémio Pulitzer de Poesia homenageia com simplicidade e ternura a persistência da natureza.

A acompanhá-lo, Jon Klassen, ilustrador e também escritor canadiano. As cores outonais usadas, a mudança de perspectiva e de escala a cada página ampliam a atmosfera descrita na narrativa. Se não existisse texto, poderíamos “ler” a história só pelas imagens.

Jon Klassen é formado em animação e já recebeu as medalhas Caldecott e Kate Greenaway pelo título Este Chapéu Não É Meu. Em 2013, ilustrou O Escuro, com texto de Lemony Snicket e eleito Melhor Livro Ilustrado, pelo The New York Times.

Voltando à casa abandonada, algumas sementes rebentaram junto aos alicerces da casa, que acabaria por ficar suspensa. Eram as árvores que a seguravam, “mantinham-na inteira, como um ninho de pássaro nos dedos dos seus ramos”.

À medida que as árvores cresceram, foram-na elevando. “As árvores levantavam-na, e continuavam a levantá-la. Talvez tu a consigas ver, se passares por ela hoje ou amanhã, a flutuar no ar como uma casa na árvore — uma casa das árvores, uma casa mantida inteira pela força das árvores —, e o vento a soprar, perfumado por pequenos botões de flores.”

Porque a natureza nunca desiste.

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