Phil Southerland criou uma equipa de ciclismo para vencer a diabetes

Numa passagem por Portugal, a Team Novo Nordisk, fundada em 2013, procura mostrar que mesmo com a doença é possível “viver a vida ao máximo”.

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A equipa de ciclismo profissional Novo Nordisk foi fundada em 2013 Team Novo Nordisk

Foi em 2005 que os norte-americanos Phil Southerland e Joe Eldridge criaram o primeiro grupo de ciclistas que em comum tinham a diabetes tipo 1. Era a Team Type 1, que participou na prova Race Across America, uma competição anual onde se percorrer os EUA de costa a costa. Foi a partir desta primeira equipa de oito ciclistas que, em 2013, foi fundada a Team Novo Nordisk constituída por 18 ciclistas profissionais, de várias nacionalidades, todos com a mesma doença.

No início deste mês, a equipa esteve em Portugal para a realização do seu campo de treino de fim de época. O objectivo é mostrar que, mesmo com diabetes, é possível ter uma vida normal. Termina nesta quarta-feira o mês de sensibilização para uma doença crónica que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), afecta 422 milhões de pessoas em todo o mundo.

“A nossa missão é mostrar que com a gestão correcta da diabetes e mantendo uma dieta saudável e estilo de vida activo é possível criar as bases para viver a vida ao máximo”, explica o CEO da Team Novo Nordisk, Phil Southerland, em entrevista ao PÚBLICO.

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Equipa profissional da Team Novo Nordisk Team Novo Nordisk

Phil Southerland foi diagnosticado com diabetes de tipo 1 aos seis meses, tendo começado a “andar de bicicleta para poder comer o que as outras crianças comiam”, partilha. Foi assim que se apercebeu dos benefícios que a prática desportiva possuía para a “gestão da diabetes”.

Segundo a OMS, a diabetes trata-se de uma doença “crónica, caracterizada por níveis elevados de glucose no sangue”, podendo distinguir-se em dois tipos – tipo 1 e tipo 2. Diabéticos de tipo 1 “produzem pouca ou nenhuma insulina por si só” e a de tipo 2 “ocorre quando o corpo se torna resistente à insulina ou não produz insulina suficiente”.

A diabetes pela voz de um ciclista

Com diferentes experiências como ciclistas e diferentes idades de diagnóstico, os atletas ddesta equipa partilham não só a doença como a vontade de competir ao lado dos melhores do mundo. David Lozano é um dos membros. O ciclista catalão iniciou-se no desporto aos 8 anos. “Fiz ciclismo praticamente toda a minha vida e fiz parte da equipa nacional espanhola”, recorda o ciclista ao PÚBLICO.

O atleta, que se tornou profissional aos 18 anos, competindo na modalidade de BTT, foi diagnosticado com a doença aos 22, durante uma temporada da modalidade de ciclocrosse. David Lozano reconhece que, de início, foi difícil lidar com a doença, sobretudo porque já lidava com ela. “O meu pai também é diabético, por isso sei que pode haver algumas complicações e que é para sempre”, acrescenta.

O atleta, que foi 11 vezes campeão nacional no seu país, juntou-se à equipa internacional cerca de um ano após o diagnóstico, já lá vai uma década. David partilha que a entrada na equipa trouxe mudanças na modalidade em que competia, deixando de lado a BTT e passando a competir em ciclismo de estrada. “É como mudar de desporto, diria eu. Tive medo da adaptação, mas desde o primeiro momento que tive bons resultados”, explica.

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David Lozano na Copa do Japão, em Outubro de 2022 Team Novo Nordisk

David Lozano, que em 2018 venceu a sua primeira corrida no percurso profissional, como membro desta equipa, recorda o resultado com “carinho” e ressalta a importância do trabalho de grupo. “Em BTT corres por ti mesmo e no ciclismo de estrada, por vezes, é por ti, por vezes, pelo teu colega.”

Procurando falar sobre a doença

A equipa, que pretende mostrar as possibilidades “infinitas” que existem, mesmo para quem tem esta doença, tem tido um “impacto enorme em todo o mundo”, considera o ciclista David Lozano. “Estamos a dar esperança, uma oportunidade a quem convive com esta condição de continuar a perseguir os seus sonhos”, diz. “A equipa corre por muitas pessoas”, acredita.

Também Phil Southerland menciona o impacto da Team Novo Nordisk: “Quando estava a crescer, não conhecia atletas profissionais com diabetes. Agora, com todo o trabalho que fizemos ao longo dos anos, há uma hipótese de as crianças com diabetes conseguirem realizar os seus sonhos na bicicleta.”

A Team Novo Nordisk vai além da sua equipa profissional, possuindo também uma segunda equipa, a de Desenvolvimento, considerada por Phil Southerland como a “próxima geração de atletas com diabetes tipo 1”.

O projecto conta ainda com outras vertentes como uma talent pipeline em que jovens atletas, com idades entre os 15 e os 18 anos, que “partilham o objectivo de um dia se tornarem profissionais” são recrutados para experienciarem treinar, durante um Verão, com as duas equipas da Team Novo Nordisk, “passando pela mesma avaliação física e testes que qualquer aspirante a atleta”, com o objectivo de poder integrar a equipa de Desenvolvimento, explica o fundador.

Com o futuro em mente, Phil Southerland reitera ainda que o principal objectivo da Team Novo Nordisk continuará a ser “inspirar e educar todas as pessoas afectadas pelas diabetes no mundo”.


Texto editado por Bárbara Wong

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