A Igreja precisa de melhores assessores de imprensa
São vários os testemunhos, várias as ações, várias as atitudes de instituições, de ordens religiosas, de comunidades de crentes, que não têm visibilidade nenhuma nos media.
O que seria do nosso país sem instituições como a Cáritas ou as Misericórdias? Ali a pobreza dos dias refletida em rostos reais, que se vestem, que se alimentam, que pagam muitas vezes as contas da luz, da água, dos óculos que se partiram, com a ajuda da Igreja. Pessoas que não podem ir comprar à Zara ou à Pull&Bear, a roupa que queriam para os filhos adolescentes, mas que tentam encontrar os melhores artigos usados nas lojas sociais das Cáritas Diocesanas.
Lembro-me de um dia ter sido abordada por uma pessoa em dificuldades, uma mãe com filhos. Precisava de ajuda para ontem. Não adiantou termos ido à Segurança Social. A resposta que precisávamos era urgente. Só a Cáritas valeu àquela mulher. E são vários os testemunhos, várias as ações, várias as atitudes de instituições, de ordens religiosas, de comunidades de crentes, que não têm visibilidade nenhuma nos media.
Se relegamos para segundo plano a comunicação — ainda que a caridade não deva ser propalada, ou se escutarmos o velho provérbio de que o calado vence sempre — não é justo para os próprios intervenientes da ação católica, serem associados no seu todo, a notícias que, sendo verdadeiras, não traduzem o que é a Igreja, nem o trabalho de tantas instituições, que não chega à luz do dia.
A Igreja Católica continua a comunicar mal ou a não comunicar, com honrosas exceções, nomeadamente, quando observamos eventos de grande dimensão, como a Jornada Mundial da Juventude ou espaços mais globalizados, como o Santuário de Fátima, que tem condições ímpares no que diz respeito ao acolhimento dos jornalistas.
Mas em grande parte das dioceses, não existem gabinetes de comunicação, dignos desse nome, e quando existem, têm por vezes, sacerdotes que se multiplicam em mil e uma funções, ou leigos que de alguma maneira estão ligados a órgãos de comunicação, comprometendo a ética necessária. Temos em alguns casos bispos distantes da comunicação social; responsáveis de pastorais que nunca interagiram na vida com um órgão de comunicação.
Mas há boas e honrosas exceções como já referi. Recordo com saudade, o bispo emérito da diocese de Viseu, D. Ilídio Leandro, que não podendo atender uma chamada, enviava minutos a seguir: “Ligo já de seguida, em que posso ajudar?” Era uma disponibilidade imediata, para com toda a comunicação social, mesmo quando se tratavam de assuntos mais sensíveis ou fraturantes, como o aborto ou a eutanásia. Nunca se negava a responder, a prestar uma declaração sobre o tema que se apresentasse na ordem do dia.
Há tabus e mitos que se desfaziam num instante se a Igreja comunicasse e divulgasse melhor o tanto do bem que faz. Vou dar um outro exemplo positivo: as irmãs em clausura do Convento de Santa Beatriz, em Viseu, têm disponível na Internet uma página onde os crentes podem enviar os seus pedidos de oração. E na resposta, são de uma incrível delicadeza e atenção para com quem precisa de ajuda. Na mesma página online disponibilizam um espaço onde os internautas podem adquirir a sua doçaria conventual. Sabem comunicar e não estão fechadas para o mundo exterior.
E claro, como vimos recentemente em múltiplos exemplos, quando a Igreja Católica é obrigada a comunicar, comunica mal, de forma atabalhoada, sem suporte de ninguém. Porque a visão é interna. E a Igreja precisa de comunicar com o exterior e para isso precisa de gente do exterior.
Um bom amigo, não nos dá sempre palmadinhas nas costas. Um bom amigo é aquele que também nos alerta para os perigos do exterior, que nos mostra outra forma de comunicar, talvez até uma comunicação nova e provocadora. Mas ou seguimos esse caminho, ou fechamo-nos sobre nós próprios.
O que me parece continuar a suceder é que a Igreja continua a chamar a estes gabinetes de comunicação gente de dentro, do meio, em vez de convocar gente de fora e sobretudo encarar a comunicação com seriedade e não com amadorismo.
É preciso saber comunicar e para isso é preciso formação e muita experiência nesta área específica, porque no campo da teologia, estamos sempre a falar de pessoas altamente qualificadas, mas com zero experiências no trato com os jornalistas.
Até posso entender que numa diocese de uma região mais interior, onde nos conhecemos todos uns aos outros, a má comunicação passe entre os pingos da chuva, porque na verdade só os órgãos de comunicação relacionados com a Igreja se preocupam efetivamente com a má comunicação existente.
Mas no caso de dioceses de grande visibilidade, não se percebe como se pode deixar arder na fogueira do mediatismo, figuras que afinal só precisavam era de melhores assessores. Muitas vezes o que fica é um discurso obsoleto e longínquo da realidade. E a questão essencial reside na forma como a mensagem é transmitida.