Freiras nas redes sociais? Vaticano pede "discrição e sobriedade"

Em Abril, um grupo de freiras espanholas recorreu ao Facebook para protestar contra uma decisão judicial que ilibou cinco homens da acusação mais grave de violação de uma jovem de 18 anos, durante as festas de San Fermín, em 2016.

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O Vaticano aconselha as freiras a usar as redes sociais "com discrição e sobriedade" Reuters/MAX ROSSI

O Vaticano publicou um documento, nesta terça-feira, com as directrizes para uma vida monástica, onde aconselha as freiras a usarem as redes sociais "com discrição e sobriedade".

Segundo o documento, intitulado Cor Orans ("Coração que Reza", numa tradução livre), as freiras a viver em clausura monástica devem ter cuidado no uso das "comunicações sociais", de forma a evitarem que o seu mundo de contemplação seja invadido com "barulho, notícias e palavras". O Papa Francisco acrescenta que é essencial ter o silêncio e "o espaço necessário para escutar e reflectir [sobre] a Palavra [de Deus]", pelo que esses meios devem ser usados com discernimento "e não [como] uma ocasião para a dissipação", citado pelo jornal religioso The Tablet.

Apesar de ser permitido o uso das redes sociais – como o Facebook, Twitter ou outras aplicações para leitura de notícias online –, as freiras devem, de acordo com o Vaticano, prestar atenção ao conteúdo, assim como "à quantidade de informação e ao tipo de comunicação". A instrução  foi redigida pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e esclarece as regras emitidas pelo Papa Francisco, em 2016, na versão da Constituição Apostólica Vultum Dei Quaerere, onde são dadas orientações sobre a vida contemplativa feminina, incluindo um alerta sobre a "influência decisiva" da cultura digital na sociedade, segundo a BBC News.

Um meio de protesto 

No final de Abril, um grupo de freiras espanholas recorreu ao Facebook para protestar contra uma decisão judicial que absolveu cinco homens acusados de violar uma adolescente de 18 anos, em 2016, nas festas de San Fermín, em Pamplona, tendo-os condenado apenas por "abuso sexual continuado". As irmãs das Carmelitas Descalças de Hondarribia publicaram, naquela rede social, um texto que fazia referência ao facto de terem optado livremente por viver num convento, com tudo o que isso implica, defendendo a livre escolha como um direito de todas as mulheres sem que sejam punidas por isso, lembra o jornal britânico Guardian

"Nós vivemos em clausura, usamos um hábito [religioso] que vai quase até aos nossos tornozelos, não saímos à noite (a menos que seja para uma urgência), não vamos a festas, não consumimos álcool e fizemos um voto de castidade (…) E porque é uma opção livre, defenderemos com todos os meios ao nosso alcance (este é um deles) o direito de todas as mulheres a fazerem livremente o contrário sem que sejam julgadas, violadas, intimidadas, assassinadas ou humilhadas por isso. Irmã, eu acredito em ti", diz a publicação da porta-voz, Patricia Noya, no Facebook – que já obteve mais de 14 mil likes e 15 mil partilhas na rede social.

O Papa Francisco foi o próprio a abrir caminho para um maior uso das redes sociais entre a comunidade religiosa, tendo já superado os 40 milhões de seguidores na sua conta oficial na rede social Twitter (@pontifex), disponível em nove idiomas, incluindo em português.

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